Administração Pública

Educar ao máximo
e divertir bastante

WALTER VENTURINI - 05/04/2004

A Prefeitura de Santo André decidiu otimizar a estrutura de escolas, creches e centros comunitários juntando todas as atividades num único espaço físico, o que amplia a capacidade de ensino e abre as portas das unidades à participação da comunidade. A nova fórmula responde pelo nome de Cesa (Centro Educacional de Santo André), cuja proposta é oferecer um promissor trocadilho: educação mais divertida e diversão educativa para crianças, jovens e adultos. A modernização da estrutura física e dos equipamentos de ensino é a ponte para concretizar em 2004 o que o prefeito João Avamileno batizou de Ano da Educação.


Desde o final de 2003, a Prefeitura vem instalando em bairros periféricos uma rede que contempla 10 Cesas. No lugar de muros altos, alambrados. Paredes cinzentas são pintadas de vermelho, amarelo, verde e outras cores mais adequadas para o mundo infantil. Com pelo menos 15 anos em funcionamento, a rede da Secretaria de Educação e Formação Profissional demandava uma releitura do espaço físico.


Mais do que simples plástica em prédios e instalações, o Cesa surge com a promessa de proporcionar educação de melhor qualidade e por mais tempo às crianças, além de oferecer alternativas para parcela da população ainda sem acesso a opções de diversão e cultura. A fórmula foi reunir creche, Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) e o centro comunitário do bairro. “Eram três equipamentos que trabalhavam distintamente. O que muda é a gestão, que é de conjunto. Para nós é importante porque se agrega uma série de ações num mesmo espaço e se economizam recursos. Por outro lado, temos a participação da comunidade” -- resume a secretária de Educação, Cleuza Rodrigues Repulho, que planeja ver os 10 Cesas prontos até final de 2004.


Reformas para alianças


Escolas, creches e centros comunitários passaram por reformas para funcionar em aliança. Duas unidades não serão montadas com o aproveitamento de estruturas já existentes, mas construídas integralmente: os centros educacionais do Bairro Cata Preta, com sete mil metros quadrados, e do Jardim Santo André, com 6,5 mil metros quadrados, cada um com capacidade para atender a 1,5 mil crianças. 


São as duas maiores unidades e contaram com participação de moradores locais até mesmo no planejamento da obra. O arquiteto responsável pelos projetos conversou com a população, cujas sugestões acabaram incorporadas às construções.


Os outros Cesas têm áreas e formas variadas, de acordo com os equipamentos disponíveis. Para reformar, construir e montar as 10 unidades a Prefeitura planeja gastar R$ 18 milhões, 15% do orçamento da Secretaria de Educação para 2004, que é de R$ 120 milhões.


Espaço para brincar


“Não bastam mais quatro horas de aula. As crianças na Região Metropolitana não têm espaço para brincar, para ser crianças. Se elas não brincam, não aprendem a ser gente grande” -- teoriza a educadora Cleuza Repulho, para quem as crianças de hoje amadurecem mais tarde, não atravessam ruas tão cedo nem vão à padaria fazer compras para a mãe. Tudo por conta da falta de segurança. “Não podemos criá-las nesse clima, em que precisem de proteção o tempo inteiro” -- entende a secretária de Educação.


Os Cesas estão sendo montados para se transformarem em alternativa educacional e lúdica. Após o período regular de aulas, os alunos têm opções de cursos como capoeira, xadrez, teatro, ginástica artística, dança, música e natação. A ênfase também se manifesta na redução da idade mínima para prática esportiva, o que faz com que meninas e meninos tenham acesso às atividades desde os seis anos.


Somente no curso de natação existem 5,1 mil crianças inscritas, vindas tanto da rede municipal como de escolas estaduais. O uso da piscina, por sinal, é um exemplo da otimização obtida com os centros educacionais. Antes a piscina era frequentada pela comunidade em finais de semana, nos centros comunitários. Agora, são alunos que caem na água durante a semana. Em janeiro deste ano, durante o Projeto Férias, os Cesas recepcionaram 34 mil crianças. “O traficante não tira férias, não emenda feriado” -- lembra a secretária Cleuza Repulho, para quem segurança não se traduz num muro alto.


Ações concretas


Mas se grandes paredes não são a solução, além do envolvimento da comunidade na gestão dos Cesas, a Prefeitura também toma medidas concretas para evitar problemas. Todas as unidades serão monitoradas por câmeras de vídeo e patrulhadas pela ronda escolar.


No primeiro Cesa, da Vila Humaitá, inaugurado em outubro de 2003, os pais estranharam a substituição dos muros altos pelos alambrados. “Hoje a gente vê que essa política é mais adequada. As escolas que não têm muro são menos assaltadas” -- destaca Cleuza. Se antes somente pais compareciam ao conselho de escola, no Cesas a participação é ampliada à comunidade, que passa a tomar conta das instalações ao lado dos educadores, num conselho mais amplo.


Até o final do ano, os 10 centros educacionais deverão atender a cerca de oito mil crianças diretamente nas escolas integradas às unidades, mas todos os 35 mil alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental serão beneficiados. “O ideal seria que todas as 70 escolas da rede municipal fossem assim, mas Santo André não tem terreno” -- afirma a secretária municipal de Educação. Por isso, a nova estrutura atenderá também as crianças de outras unidades. Haverá em média um Cesa para cada seis escolas de bairros próximos. Os novos centros também oferecem cursos de alfabetização para adultos no período noturno e algumas unidades dispõem de cursos profissionalizantes, com aulas de elétrica, hidráulica, trabalhos manuais e estética. “A idéia é despertar o interesse para que moradores passem a frequentar nossos centros profissionalizantes” -- afirma.


Como se fosse o CEU


A proposta de integrar ensino e lazer e envolver em períodos ampliados de permanência os alunos nas escolas, além da participação da comunidade, leva à inevitável comparação do andreense Cesa com seu congênere CEU (Centro Educacional Unificado) criado pela prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Nas duas cidades, o PT traça projetos educacionais. Marta pretende criar até o final do ano 21 CEUs e envolver 50 mil crianças e jovens. “Somos duas administrações do PT, um partido de esquerda e progressista, para o qual a educação é fundamental em qualquer projeto de governo. A estrutura física é muito parecida. A diferença é que em Santo André já existia uma estrutura. Só precisávamos reinterpretar os espaços” — analisa a secretária Cleuza Repulho.


A modernização de equipamentos não atingiu somente os Cesas. A rede pública municipal de ensino passou a oferecer um microcomputador para cada dois alunos. Processadores Pentium 3, máquinas fotográficas digitais e outros recursos passaram a ser disponíveis. 


Também há esforço para aprimorar a formação dos professores. Santo André investiu cerca de R$ 2 milhões com formação continuada em serviços e na qualificação para aumento da escolaridade do corpo docente. “Pelo menos 75% dos nossos educadores já têm graduação. Quem não tem, está fazendo cursos na Fundação Santo André com financiamento integral da Prefeitura. A média nacional é 54%. Cerca de 10% dos professores da rede fazem pós-graduação na USP, também com financiamento da Prefeitura” -- destaca Cleuza Repulho, que promete chegar ao final de 2004 com 100% dos educadores graduados.


Aposta no futuro


A aposta de Santo André na modernização do sistema de ensino tem sua face mais futurista na Epac (Escola Parque Arte Ciência), equipamento educacional planejado para ser inaugurado em setembro e que ocupará 25 mil metros no Parque Central. O novo espaço educacional promete reunir modernos recursos de aprendizagem e ensino científico e tecnológico, e estar disponível a todos os alunos da rede municipal. “Será um grande laboratório para trabalhar conceitos de matemática, química, física, astronomia e informática. Queremos ampliar o conhecimento na área de novas tendências” — explica Cleuza Repulho.


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