Administração Pública

Ainda falta a
viagem de trem

VERA GUAZZELLI - 05/04/2004

Às vésperas da quarta edição do já tradicional Festival de Inverno e após a criação de rede local de pequenas atividades voltadas à atividade turística, Paranapiacaba joga mais uma cartada decisiva para consolidar-se como roteiro de visitação. Pela primeira vez desde que a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) suspendeu a linha regular, em 2001, a Vila Inglesa recebe sinalização positiva de que poderá ter os trens de volta. O trem é atrativo essencial para acrescentar referência e charme ao trabalho de revitalização ancorado no histórico do povoado que nasceu e viveu da ferrovia.


A expectativa de que Paranapiacaba abandone o paradoxo de ser um destino ferroviário sem acesso por trens é real. A Prefeitura já entrou em entendimento com a Rede Ferroviária Federal para recuperar uma composição que está desativada em Juiz de Fora, Minas Gerais, e pretende colocar a máquina para fazer a viagem turística no trecho entre Rio Grande da Serra e Paranapiacaba ainda neste semestre.


Além da Rede Ferroviária Federal e da própria Prefeitura, também a CPTM e a MRS Logística precisam estar inseridas nas negociações. A primeira porque é proprietária das estações e a segunda, concessionária do trecho. “Precisamos aproveitar esse momento porque todos os envolvidos estão dispostos a colaborar” -- anima-se o subprefeito de Paranapiacaba e Parque Andreense, João Ricardo Caetano.


Tempo de preparação


Se a Prefeitura conseguir trazer o trem de Juiz de Fora para Paranapiacaba, deverá responsabilizar-se pelo período inicial de operação até que o negócio seja suficientemente atrativo à iniciativa privada. Em meados do ano passado, o subprefeito João Ricardo havia iniciado sondagens com possíveis interessados na exploração da viagem, mas as conversas não evoluíram.


É justamente em função dessa dificuldade que Santo André decidiu assumir papel que teoricamente está fora de seu campo de atuação. Não faz parte das atribuições de uma administração municipal operar trens. Mas nesse caso, a disposição e principalmente a presença do poder público são fundamentais para conferir credibilidade a um projeto que precisa sobreviver ao destino eleitoral do Município.


As transformações ocorridas em Paranapiacaba desde que a Vila foi adquirida da Rede Ferroviária pela Prefeitura de Santo André, no final de 2001, consumiram R$ 5,3 milhões de recursos próprios, dinheiro que não pode desaparecer com o fantasma da descontinuidade administrativa.


“Independente do cenário político, o trabalho é importante porque existe a participação da população local” -- entende o subprefeito João Ricardo Caetano.


Dos 2,1 mil moradores de Paranapiacaba, 196 estão diretamente envolvidos em empreendimentos turísticos. São oito pousadas no estilo bed and breakfast, sete ateliês-residências, um entreposto de arte e culinária com 17 expositores, 13 Portas-Abertas -- residências que servem refeições --, além da Associação de Monitores Ambientais e da Associação dos Guardadores de Veículos.


Ocupação de espaço


Há também os empreendedores de fora que começam a se instalar nos 20 imóveis reservados para abrigar negócios mais elaborados do que os da rede caseira, mas de porte igualmente pequeno. Até agora são dois restaurantes e dois ateliês artísticos e um spa que deverá abrir as portas até o final do mês. O plano econômico formatado para Paranapiacaba descarta empreendimentos de vulto, que só se justificariam diante de público suficiente para garantir o fluxo de caixa. A operação privada dos trens ainda não teria saído do papel justamente pela falta de garantias de que a demanda de visitantes vá proporcionar o lucro necessário à sobrevivência de qualquer negócio.


O número de turistas que visita Paranapiacaba cresceu de 41 mil em 2002 para surpreendentes 102 mil em 2003, de acordo com estatísticas da Prefeitura. O salto é atribuído à melhora da infra-estrutura, inexistente há três anos e hoje capaz de oferecer, entre outras comodidades, sanitários públicos, passeios monitorados em trilhas, várias opções de comida, 77 leitos de hospedagem e sistema padronizado de sinalização.


A maioria ainda é o turista de um dia, mas já é possível detectar mudanças de hábito em relação ao tradicional mochileiro que utilizava a Vila como acesso para trilhas e cachoeiras da Serra do Mar. Este ano, pela primeira vez na história ainda iniciante de destino turístico, Paranapiacaba teve hóspedes durante o Ano Novo e o Carnaval. “Isso é sinal da diferença proporcionada pela infra-estrutura” — comemora o subprefeito João Ricardo Caetano.


O grande chamariz de público, no entanto, ainda é o Festival de Inverno. Tanto que a quarta edição vai ocupar três em vez de dois finais de semana de julho para receber público estimado em 80 mil visitantes, 20 mil a mais que em 2003. A programação composta por música instrumental e jazzística, concertos de orquestras sinfônicas, corais e grupos de dança deve ser viabilizada por meio de captação de R$ 600 mil em patrocínio.


A expectativa é reeditar as parcerias de 2003 e aumentar o rol de empresas que pretendem associar a marca à atividade cultural. Solvay, PQU, Petrobras, Banco do Brasil, Diário do Grande ABC, CEF e Sesc Santo André foram alguns dos parceiros do Festival de Inverno do ano passado. 


Acessibilidade maior


O Festival de Inverno de 2004 apresenta ainda importante inovação no quesito acessibilidade. A Prefeitura esquematizou estacionamento para abrigar 10 mil veículos em área localizada a cinco quilômetros de Paranapiacaba, o que evitará congestionamento e concentração de automóveis nas ruas estreitas da Vila. Por conta da mudança, os motoristas não precisarão dirigir em um dos trechos mais sujeitos à neblina de todo o percurso, já que o trajeto será completado por microônibus com partidas previstas a cada cinco minutos. Tanto a viagem quanto o estacionamento serão gratuitos.


A preocupação de oferecer recepção de Primeiro Mundo aos visitantes do Festival de Inverno tem o claro propósito de surpreender quem já esteve na Vila e causar o importante impacto da primeira impressão aos novatos. Como Paranapiacaba precisa sobreviver além dos eventos sazonais, o sucesso da principal atração cultural é determinante na decisão do turista de voltar ou não à Vila Inglesa.


Dentro de dois meses a Prefeitura pretende anunciar novo pacote de atrações culturais patrocinados pela Petrobras e precisa do público para prestigiar os eventos e, por consequência, movimentar a rede de pequenos negócios já estabelecida.


Não à toa, a inauguração do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba em meados do ano passado foi marco importante na consolidação de opções permanentes de entretenimento. A Mata Atlântica sempre funcionou como chamariz natural, mas a Prefeitura decidiu ordenar o acesso do público aos 4,2 quilômetros de área verde cortados por cinco trilhas já sinalizadas, das quais apenas uma pode ser percorrida sem guias.


A medida inibe os passeios que quase sempre acabam com turistas perdidos na Serra do Mar, movimenta o mercado de trabalho dos 16 monitores da AMA e ajuda a preservação do meio ambiente. Os pacotes com guias custam entre R$ 3 e R$ 12 e incluem explicações básicas sobre a flora e a fauna e procedimentos para preservar a mata.


Esportes radicais


Ainda dentro da filosofia de movimentar Paranapiacaba além do Festival de Inverno, a Prefeitura já fechou cronograma de esportes radicais com programação confirmada até agosto. A Vila Inglesa vai sediar etapas da Copa Paulista de Trekking, a 2ª Volta Ciclística de Paranapiacaba e a 2ª Trip Trail de Montain Bike, além de participar com estande institucional na Adventure Sports Fair programada entre 7 e 11 de agosto no Pavilhão do Ibirapuera, em São Paulo. “Esse calendário nos permite também integrar o roteiro de locais capazes de sediar esportes ligados à natureza” -- acredita João Ricardo Caetano.


Paranapiacaba consta da lista dos 100 monumentos mundiais passíveis de preservação elaborada pela instituição internacional World Monument Fund. Por isso, a Vila conta com patrocínio dessa organização não-governamental ligada à American Express que destinou US$ 150 mil para restaurar o Centro de Referência e o Castelinho, locais que abrigarão respectivamente documentos históricos e um museu. A Prefeitura de Santo André também investiu outros R$ 450 mil na recuperação da sede do União Lira Serrano, do prédio do antigo mercado, da Casa Fox e de outros imóveis considerados marcos do povoado fundado no século XIX, a partir da implantação da ferrovia que ligou o planalto ao litoral para escoamento da produção de café.


Também o Centro Universitário da Fundação Santo André deve capacitar os moradores para recuperar as próprias casas. O projeto tem promessa de ser financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André