A novela da volta dos trens a Paranapiacaba está recheada de novidades ainda insuficientes para levar o drama ao pico máximo de audiência. A Prefeitura de Santo André e a Rede Ferroviária Federal continuam dispostas a viabilizar o trem turístico, mas os dois projetos em pauta dependem cada vez mais da disposição de investimentos da iniciativa privada e da vontade política. Assim, tanto o trem que sairia de Rio Grande da Serra quanto o que partiria do Brás, na Capital, continuam sem perspectiva real de colocar um ponto final ao fato de Paranapiacaba ter se transformado em irônico destino ferroviário sem acesso por ferrovia.
A linha regular de passageiros foi suspensa pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) há quase três anos e o que existe de mais concreto nessa história é o contato recente da subprefeitura de Paranapiacaba com um profissional de Atibaia, no Interior de São Paulo, especializado em restauração de trens. “Identificamos uma locomotiva e um vagão em condições de ser utilizados no trecho entre Rio Grande da Serra e Paranapiacaba e vamos aguardar o orçamento” — explica o subprefeito João Ricardo Caetano, que viajou até Juiz de Fora, Minas Gerais, atrás de um outro trem fora de uso.
João Ricardo estima em R$ 500 mil os custos com implantação do projeto num trecho de pouco mais de 10 quilômetros. Como a Prefeitura de Santo André (que comprou a Vila ferroviária há três anos) só dispõe de R$ 100 mil para essa finalidade, teria de sair atrás de parceria para complementar a verba. De qualquer forma, a administração pública está disposta a assumir a operação inicial do trem até que o investimento se torne comercialmente viável a um empreendedor privado. A concretização do projeto está atrelada ainda à negociação com CPTM e MRS Logística, respectivamente proprietária das estações ferroviárias e concessionária privada do trecho.
Restauro patrocinado
A MRS Logística patrocina o restauro da torre do relógio da vila inglesa do século XIX em conjunto com a BM&F (Bolsa Mercantil & Futuros) e planeja entregar a obra neste dia 17, quando um trem turístico preparado especialmente para convidados deve percorrer o trecho entre o Brás, na Capital, e Paranapiacaba. A viagem seria uma prévia de outro projeto em estudos pela Rede Ferroviária Federal.
A Rede pretende transformar a história da centenária ferrovia num produto cultural que conecte o Museu da Imigração, no Brás, ao Museu Ferroviário, em Paranapiacaba. Num segundo momento, o trajeto seria estendido até Santos. “É um resgate que pode ser visto como investimento” — entende a responsável pelo patrimônio da Rede Ferroviária Federal, Maria Inês Dias Mazoco. “Se a idéia for encampada e esse trem turístico circular com regularidade, estará solucionada a questão” — anima-se o subprefeito João Ricardo Caetano.
Petrobras patrocina
A Prefeitura de Santo André já investiu R$ 5,3 milhões em recursos próprios em Paranapiacaba desde o final de 2001 e acabou de assinar parceria com o Instituto Ecoar, que tem patrocínio da Petrobras para novas ações de resgate do patrimônio histórico. A estatal vai destinar R$ 1,3 milhão à reforma do Centro de Visitantes, restauro do Clube Lyra Serrano e equipamentos para o Parque Natural Nascentes de Paranapiacaba, além de outras atividades.
O montante se soma a outros US$ 150 mil do WMF (World Monument Fund) destinados à recuperação do Centro de Referência e do Castelinho. A vila ferroviária inglesa de Paranapiacaba pulou de 41 mil visitantes em 2002 para surpreendentes 102 mil em 2003 e espera receber 80 mil turistas — 20 mil a mais do que no ano passado — durante a quarta edição do Festival de Inverno programado para três finais de semana de julho.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ