Quatro anos após implantar serviço de coleta seletiva de lixo domiciliar, Santo André anuncia outro passo inovador no campo da inclusão socioeconômica e da proteção ambiental: vai instalar usinas de beneficiamento de materiais recicláveis para multiplicar renda e oportunidades num setor que já mobiliza 300 trabalhadores em duas cooperativas. E com verbas extraordinárias.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou R$ 1,5 milhão para a usina de plástico, enquanto os ministérios da Saúde e das Cidades contribuirão com outros R$ 500 mil para a usina de triagem e beneficiamento de madeira. “Os recursos do BNDES não são reembolsáveis. Equivalem a doação” — comemora o prefeito João Avamileno, que se envolveu pessoalmente no processo de liberação.
Não é sem razão que o banco decidiu enquadrar o programa Reciclarede, como foi batizado, em categoria especial de concessão sem retorno. As ações realizadas em Santo André são um achado de inserção socioeconômica e de responsabilidade ambiental. Cada um dos 300 cooperados da Coopcicla e Cidade Limpa recebe em média R$ 300 por mês por serviços de triagem, limpeza e venda de materiais como plástico, papel e papelão.
Bom vira melhor
Com a implantação da usina de beneficiamento de plástico, o que era bom pode se tornar melhor. Em vez de oferecer garrafas pet a recicladores independentes, as cooperativas processarão o material por conta própria e venderão grânulos plásticos diretamente às indústrias. Em linguagem estritamente econômica, significa agregar valor à produção, uma vez que o preço da matéria-prima acabada é maior que o do insumo intermediário.
Mas essa é apenas a primeira fase do projeto. “O passo seguinte é fazer com que as próprias cooperativas transformem grânulos em produtos como telhas e janelas” — explica Roberto Vasquez, assistente do Reciclarede, que tem apoio da Secretaria de Desenvolvimento e Ação Regional, OIT (Organização Internacional do Trabalho), Centro Universitário Fundação Santo André, da ONG Usina da Reciprocidade e do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental).
Novas estações
Além da usina de plástico, os recursos do BNDES serão utilizados no aparelhamento de oito novas estações de triagem. São equipamentos como esteiras, empilhadeiras, balanças e também caminhões para transportar materiais dos núcleos de triagem até o beneficiamento. “Vamos descentralizar o serviço de separação para dar mais eficiência e rapidez ao sistema” — comenta Roberto Vasquez.
A implementação do projeto patrocinado pelo BNDES está prevista em 18 meses, incluindo levantamento de informações sobre resíduos sólidos, capacitação profissional, educação ambiental e sensibilização da comunidade. O Semasa e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Ação Regional estão definindo áreas que acolherão as estações de triagem e esperam que a usina de beneficiamento de plástico seja instalada até o primeiro trimestre do ano que vem.
Já a usina de triagem e beneficiamento de madeira com recursos dos ministérios da Saúde e das Cidades deve ser instalada até o final deste ano no aterro sanitário do Bairro São Jorge. Inicialmente a usina de madeira vai gerar apenas 15 empregos, mas o potencial de trabalho e renda é tão promissor quanto o de plásticos, papel e papelão. “Santo André gera 600 toneladas de madeira por mês, quantidade equivalente a um prédio de três andares” — ilustra Sebastião Ney Vaz, superintendente do Semasa. “Se parte desses resíduos provenientes principalmente da construção civil e de podas de árvores for reprocessada e encaminhada para reutilização, muitas oportunidades serão criadas, além de prolongar a sobrevida do aterro” — considera.
A Prefeitura estima que as novas estações de triagem e as usinas de plástico e madeira permitirão duplicar para 600 o contingente de trabalhadores que vive da cadeia de reciclagem.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ