Administração Pública

Marinho fracassa na tentativa de
reciclar legado de Celso Daniel

DANIEL LIMA - 13/09/2016

Há quatro anos elaboramos uma lista de 10 requisitos que permitiriam diagnosticar as possibilidades do prefeito Luiz Marinho tornar-se candidato competitivo ao governo do Estado. Esse é um antigo sonho dos petistas, principalmente de Lula da Silva. Sem contar os estilhaços externos (ainda externos ou eternamente externos, eis a dúvida) da Lava Jato, que atingiram a credibilidade que restava ao PT após o Mensalão, Luiz Marinho está praticamente fora do páreo competitivo ao Palácio dos Bandeirantes porque é uma decepção como administrador público. Quem imaginou que pudesse ser uma réplica de características diferentes de Celso Daniel, caiu do andaime. Sou o primeiro dessa fila de frustrados.

Vamos destrinchar ponto a ponto essa constatação a partir dos próximos parágrafos. O processo de criação desse elenco de mensuração de competitividade de alguém a quem confiamos demasiadamente ao assumir a Prefeitura de São Bernardo em janeiro de 2009 será detalhado num próximo texto. O que mais interessa agora é o resultado final.

Acreditávamos tanto que Luiz Marinho, pelas circunstâncias e contextos, poderia matar a saudade de quem não se conforma com a morte de Celso Daniel que o chamamos de potencial sucessor do prefeito de Santo André -- sobretudo no campo da regionalidade, imperativo às mudanças de que precisamos. Havia conjunção de fatores a favorecer a ressurreição do regionalismo de alta potencialidade. Marinho chegava à Prefeitura de São Bernardo quando Lula da Silva nadava de braçadas no governo federal.

Marinho Daniel foi uma junção de nomes que escolhi para traçar projeção daquilo que esperava ser um sopro de reestruturação do tecido regional. Cai do cavalo.

Acho que nasci mesmo para ser jornalista cético o tempo todo. Sempre me estrepo quando confio em propostas de terceiros. Quando saio da tocaia crítica me trumbico. 

O cadafalso de Marinho

Vamos então aos 10 pontos listados em julho de 2012 -- com os respectivos comentários -- sobre o que seria preciso para Luiz Marinho disputar o governo do Estado de forma competitiva.

1. Conquistar uma vitória expressiva nas eleições (de 2012) em São Bernardo, inclusive com a obtenção de maioria confortável no Legislativo.

Resultado final -- Luiz Marinho derrotou Alex Manente no primeiro turno com larga diferença nas urnas (65,79% contra 30,94%), longe da v vitória de William Dib (76,37% contra o petista Vicentinho Paulo da Silva), quando concorreu à reeleição quatro anos antes. Com isso, fez confortável maioria no Legislativo. Havia todas as condições de governabilidade e governança, protegido pelo PT em todas as instâncias. O dinheiro espúrio da Petrobras e de outros alvos da Lava Jato ajudou a tornar a campanha de Luiz Marinho avassaladora. Manente, aliado sempre disfarçado de oposição, concorreu apenas para marcar presença e dar ares de democracia ao que não passava de simulação de concorrência.

2. Dirigir o Clube dos Prefeitos e deixar como herança mais que um projeto de planejamento econômico e social, mas o encaminhamento de políticas resolutivas que finalmente coloquem a região num patamar de positividades integracionistas a salvo de solavancos político-partidários.

Resultado final – Marinho finalmente se dobrou à lógica de que não teria o menor cabimento permanecer distante da direção do Clube dos Prefeitos, como nos primeiros quatro anos do mandato. Mas ficou longe do mínimo necessário. Manteve a estrutura conservadora de uma instituição especializada em anunciar a contratação de estudos e de permanecer congelada à realização de projetos. A esqualidez de repasses do governo federal durante a gestão Dilma Rousseff tornou o Clube dos Prefeitos ilusão de ótica integracionista. Os mandachuvas dos respectivos municípios ainda não se deram conta de que serão vizinhos para sempre e que, por isso mesmo, não existe alternativa num mundo interdependente senão o ajuntamento de todas as peças desse mosaico de improdutividades institucionais. Marinho foi incapaz de subverter o histórico.

3. Construir liderança partidária regional de forma a consolidar alianças e evitar crises localizadas como em Mauá, onde o prefeito Oswaldo Dias sofreu um golpe de seus próprios companheiros de partido.

Resultado final – Até por força do escudo que sempre lhe deu amparo, no caso o ex-presidente Lula da Silva, Luiz Marinho comanda o PT na região com pulso firme e definições estratégicas. Mas o potencial de transformação se esvaiu na medida em que avançaram as descobertas da Operação Lava Jato. Mais que isso, aquela ação ameaça chegar para valer à Província do Grande ABC, sobretudo no Polo Petroquímico de uma Braskem enredadíssima por constar da constelação de parceiros da Petrobras.

4. Comprovar com iniciativas transparentes que é um dirigente público livre da tutela sindical.

Resultado final – Está no DNA pessoal, profissional e político de Luiz Marinho a relação com o sindicalismo da CUT (Central Única dos Trabalhadores). O prefeito de São Bernardo jamais atuará sem levar em conta a base eleitoral que o sustenta. O alinhamento automático aos vieses trabalhistas jamais se desmanchará. Marinho é um sindicalista que virou administrador público por algum tempo ou por muito tempo, mas sempre será um sindicalista.

5. Consolidar pelo menos um grande projeto econômico para São Bernardo, amenizando a excessiva dependência automotiva.

Resultado final – Marinho vai deixar a Prefeitura de São Bernardo com queda de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) por habitante nos últimos quatro anos. Será um recorde da história. O setor automotivo, Doença Holandesa que beneficia e atrapalha São Bernardo, vive crise incontornável no curto prazo. As tentativas de criar novos polos econômicos viraram pó. A indústria de petróleo e gás morreu com a Lava Jato. O Aeroportozão virou Aeroportozinho e depois sumiu. A indústria de defesa a reboque do projeto Gripem explodiu. Tudo que Luiz Marinho projetou a toque de caixa e geralmente sem a menor transparência, ruiu. É um prefeito especialista em obras, sobre as quais discorre com facilidade e destreza, mas em matéria de economia não passa do beabá metalúrgico. Nesse campo, não tem estatura para comandar um dos maiores municípios do País – inclusive porque enxerga o capital como algo pecaminoso na hierarquia de intervenções públicas.

6. Mobilizar esforços regionais para transformar as restrições à ocupação dos mananciais em compensações financeiras que seriam prioritariamente aplicadas naquelas mesmas áreas, reduzindo-se a degradação histórica. 

Resultado final – Marinho nada fez de substantivo para transformar os mananciais de problemas em ideias. Mais que isso: não fosse a incompetência do governo Dilma Rousseff, teria de alguma forma levado a cabo a construção de um Aeroportozinho em plena área de proteção ambiental. Foi salvo pelos estragos da presidente.

7. Manter os lanços que o prendem ao ex-presidente Lula da Silva, sem, entretanto, depender demasiadamente do padrinho.

Resultado final – Marinho e Lula são indissociáveis. Um nasceu para o outro. Têm relações estreitíssimas que se retroalimentam geralmente em caminhadas nas primeiras horas do dia, quando trocam ideias e planos. Não fosse Lula da Silva, Luiz Marinho não teria peso relativamente forte nas esferas petistas. Com um padrinho desses é sempre possível contornar ineficiências e desarranjos.

8. Prestar detalhadamente a cada seis meses de eventual novo mandato contas públicas sobre investimentos de São Bernardo em Saúde, Educação, Segurança Pública e Publicidade.

Resultado final – Marinho tem horror ao contraditório independente. Aceita falar com jornalistas sob condições estritamente vantajosas. Jamais se disporia a responder questões que pudessem lhe tirar o bom humor. Tem o vício dos sindicalistas, sempre incensados por jornalistas chapa vermelha.

9. Priorizar ações e resultados que enfatizem a redução do custo da mobilidade urbana gerada pelo excesso de veículos nas ruas e pela desvairada ocupação espacial do mercado imobiliário.

Resultado final – De inimigo declarado do principal agente político-imobiliário da região, o milionário Milton Bigucci, a aliado incondicional do empresário, a ponto de fazer campanha eleitoral no escritório daquela companhia privada, Luiz Marinho se converteu em agente propagador da especulação imobiliária. A mobilidade urbana de São Bernardo sofreu duros reveses durante os oito anos de seu mandato entre outros motivos porque o cronograma de obras públicas propostas pelo antecessor não obedeceu à velocidade de execução quando contrapostas à liberação geral do uso do espaço para empreendimentos verticais. O escândalo do Marco Zero, da MBigucci, área arrematada irregularmente durante o mandato de William Dib e sacramentada na gestão petista, é a prova provada do desgoverno de Luiz Marinho na gestão do sistema viário.

10. Promover a cada 60 dias uma entrevista coletiva com a Imprensa e representantes da sociedade para prestação de contas geral de sua Administração.

Resultado final – De um prefeito avesso à transparência (o caso Marco Zero da Vergonha é uma das provas básicas do quanto Luiz Marinho detesta a claridade em favor da obscuridade) seria ingenuidade acreditar que pudesse revolucionar o estilo de gestão pública ao enfrentar uma saudável sabatina semestral com agentes independentes da sociedade. Luiz Marinho foi moldado pela unanimidade burra do assembleísmo sindical. Não tem vocação à democracia de verdade, de compartilhamento das decisões com representantes da sociedade.



Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André