Pois é: a partir de agora ocuparei apenas de forma intermitente esta newsletter. Tenho nova missão, que se soma à responsabilidade de dirigir a revista Livre Mercado: decidi escrever o livro sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel. Mais que isso: um outro livro, cujo assunto não posso revelar, também permeará meu cotidiano a partir de hoje. A diferença entre um e outro é que o do ex-prefeito de Santo André é decisão que alimentava já há algum tempo, enquanto o outro, igualmente bombástico, foi-me proposto exatamente ontem. Terei de dividir meu dia em quatro etapas que comportem 16 horas de trabalho, para a Editora Livre Mercado, leituras e os dois livros. Garanto que vou dar conta do recado entre outras razões porque não sei fazer outra coisa na vida senão dedilhar letrinhas no computador.
O livro sobre o assassinato de Celso Daniel é obra a que me dedicarei especialmente com paixão. Acontecimentos dos últimos dias aguçaram minha decisão. Acalentava lá atrás, sem dar muita bola para minha intuição, a idéia de escrever o muito que tenho de informações sobre o assunto. Já dispunha de dados suficientes para isso, mas ultimamente tenho sido bonificado com depoimentos claros e cristalinos para dizer o seguinte: há duas palavras-chave que moverão meu texto e que, sem frescura, repasso aos leitores como espécie de chamariz à obra. É indissociável escrever uma obra sobre o flagelo de Celso Daniel sem utilizar pelo menos dois verbetes que me desafiarão a aprofundamentos: Assassinato e Linchamento.
Assassinato e Linchamento
Por que Assassinato e Linchamento? Que contraponto é esse? Que quero dizer com isso? Porque naquela noite de 18 de janeiro de 2002, quando a Pajero dirigida por Sérgio Gomes da Silva foi abalroada nos três tombos, na Capital, e se iniciou série de acontecimentos e versões que culminaram com um festival de idiossincrasias, injustiças, mentiras, manipulações, falsas glorificações, entre tantos sentimentos e comportamentos, a locomotiva do destino atropelou não só fatalmente o prefeito que se foi como o companheiro de jantar, numa sequência descomunal de linchamento mais sistemático de que se tem notícia neste País.
É isso mesmo: a industrialização da mentira de que Sérgio Gomes da Silva foi o algoz do primeiro-amigo, ele que de fato era primeiro-irmão de Celso Daniel, certamente um dia será desmascarada. Quem sabe até mesmo antes de o livro que comecei a preparar seja efetivamente lançado no mercado? Provavelmente não, porque há amarrações tão sólidas para segurar um enredo artificialmente preparado que o desmentido factual e inexorável poderia custar reputações.
Sei desde o início do caso, pelas tergiversações da mídia, instrumentalizada por um Ministério Público que avançou sempre na mesma direção unilateral, que meu posicionamento é politicamente incorreto. Que interessa para os leitores que a Polícia Civil e a Polícia Federal tenham chegado à mesma conclusão de que o crime foi ocasional e que, portanto, Sérgio Gomes da Silva é inocente? De 100 pessoas eventualmente indagadas sobre o crime, provavelmente 99 vão apontar o dedo em direção a Sérgio Gomes da Silva.
Bode expiatório
Sugiro àqueles que, também apressadamente, julgam este jornalista candidato a operação kamikaze, que se acautelem. Disponho de informações cada vez mais sólidas sobre aqueles acontecimentos. Vou me embrenhar dia e noite a partir de agora, sempre reservando meu tempo à Editora Livre Mercado, de onde vem o meu sustento, para elucidar todos os pontos. O que não será por demais cansativo. Basta que me dedique a destrinchar muitos pontos devoradoramente orquestrados com a finalidade de encontrar em Sérgio Gomes da Silva o bode expiatório da vez.
O que posso garantir aos leitores é que a conclusão sobre a inocência de Sérgio Gomes da Silva, consolidada ao longo destes mais de três anos de envolvimento completo no assunto, poderia simplesmente me fazer aquietar e tocar a vida. Não acho justo nem decente. Não descansarei um minuto enquanto não conseguir repassar fundamentações teóricas e factuais que estilhassem o jogo de imagens em que se transformou a morte de Celso Daniel. Aliás, de fato, já as tenho, mas repassá-las de forma mais organizada e orgânica aos leitores.
O Estado há de acertar as contas com Sérgio Gomes da Silva, entre outras razões pelos quase oito meses de aprisionamento a que ele foi submetido, período no qual submergiu nas entranhas de um nicho social em que os pecados cometidos raramente se desgrudam de vieses estruturalmente indutores, enquanto aqui fora, os descaminhos são mais sofisticados e, portanto, fundamentalmente mais desclassificatórios, embora impunes.
Apressados demais
O que posso prometer aos leitores, em eventual compensação pelo esparsamento de meus textos nesta newsletter a partir de agora, é que serei intolerante com os malversadores informativos. Coleciono jornais e revistas desde o dia em que se anunciou o sequestro. As contradições avolumam-se na exata medida em que mentiras tentam se sustentar no embalo da crise política nacional. Dispersa, despreparada, negligente, a imprensa reporta-se simplesmente aos oportunistas de plantão. Para azar dos consumidores de informação que, em larga escala, desatentos como na escolha de candidatos a cargos públicos, acreditam acriticamente em tudo.
Como já escrevi milhares de vezes, não tenho por pressuposto agradar. Por isso, o livro sobre o assassinato de Celso Daniel será peça importante do mostruário de responsabilidade social no cumprimento fiel de uma obrigação.
Estou à disposição do Ministério Público Estadual para prestar as informações de que necessitar, exceto aquelas que, por força dos desdobramentos do caso e de investigações pessoais, reservarei para o livro. Sérgio Gomes da Silva não foi a escolha mais ajuizada para o dedo em riste de culpabilidade. Ele é inocente. A verdade da Polícia Civil e da Polícia Federal prevalecerá.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP