Caso Celso Daniel

Greenhalgh emudece
senadores ao relatar caso

DANIEL LIMA - 05/10/2005

Só fui para a cama às quatro da manhã de hoje, depois de assistir a quase todo o teipe do depoimento do deputado federal petista Luiz Eduardo Greenhalgh na CPI dos Bingos aos senadores da República. Desliguei a TV após ouvir parte da manifestação de um dos últimos inquiridores do encontro que se realizou ontem à tarde em Brasília mas que não foi transmitido ao vivo porque, provavelmente, mais uma vez, para variar, tudo que se refere ao outro lado do caso Celso Daniel não interessa a quem controla a TV da Câmara e a TV do Senado. É dose para elefante ouvir o senador Eduardo Suplicy e seu complicadíssimo dialeto quase monossilábico recheado de incongruências -- daí ter decidido dormir. 


Por isso que, entre outras participações do senador no caso, não tem sentido, pelas informações de que detenho, a tal história de um pastor evangélico que teria gravado em vídeo o desenlace do arrebatamento de Celso Daniel nos Três Tombos. Outro dia escreverei sobre o assunto, mas antecipo que, pelas fontes que me abastecem, tratou-se apenas de bem engendrada operação de despiste, para lançar mais sombras, sem trocadilho, naquela operação. 


Chegou-se a determinado trecho das investigações que, dada a repercussão política do embate entre petistas e tucanos, o que mais interessava era, mesmo reconhecendo-se crime comum, permitir que zonas cinzentas encobrissem as investigações. 


Rápidas impressões 


Como dormi menos que de costume nesta noite, e como tenho muito o que fazer ainda, registro rapidamente impressões sobre o depoimento de Greenhalgh:


1) Ele foi bastante convincente porque em nenhum momento se comportou como fanático em defesa de uma causa. Pelo contrário: declarou em várias oportunidades que estaria preparadíssimo para dar a mão à palmatória, desde que as provas o levem à direção contrária de crime comum, que defende com base nas investigações e conclusões da Polícia Civil e da Polícia Federal. Sem citar enfaticamente o Ministério Público, destilou críticas aos promotores, sobremodo quanto à metodologia de delação premiada. 


2) As explicações que deu a variáveis do caso não me surpreenderam porque conheço boa parte do inquérito, mas para os senadores que foram àquela sessão de CPI instrumentalizados por mentiras consagradas pela mídia, nada poderia ter sido mais satisfatório. Não surpreendeu também que todos tenham se derramado em elogios a Greenhalgh antes da bateria de indagações, formalidade quando se tem a biografia de defesa dos Direitos Humanos do petista, e, principalmente, depois, tenham-se se calado.


3) Embora jamais tenha falado pessoalmente com o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, e dele só tenha me nutrido como fonte de informação e de declaração há quase 20 anos, ele expressou conceitos que cansei de manifestar sobre a mulher de Celso Daniel, Ivone Santana, presente na sessão de ontem. Estranhou, como estranhei e me manifestei tantas vezes, que Ivone Santana não tenha sido ouvida pelo Ministério Público. Justamente Ivone Santana, para mim e para ele, viúva de Celso Daniel. Pois não é que Greenhalgh conseguiu dos senadores a convocatória para depoimentos na CPI dos Bingos? Tanto dela como de outras pessoas próximas de Celso Daniel, além de vários delegados da Polícia Civil e da Política Federal. Ou seja: interessadíssima não no crime propriamente dito contra Celso Daniel, mas nas supostas falcatruas administrativas do prefeito petista, que abasteceria a campanha de Lula da Silva, a CPI dos Bingos vai ouvir todo mundo indicado por Greenhalgh. Já não era sem tempo. 


Contraponto valioso 


Há muitos outros pontos do depoimento do deputado federal petista que gostaria de explicitar e analisar mas por hoje paro por aqui. Certo, certíssimo mesmo, é que as declarações de Greenhalgh, inclusive sobre a não existência de tortura, são um contraponto valioso na estúpida unilateralidade que a Imprensa dedica ao caso. Como, mais uma vez, aliás, está nos jornais de hoje. Não é por outra razão que a reportagem de capa da revista Livre Mercado, a partir desta sexta-feira nas bancas, está definida com o seguinte título: "Inocente ou culpado? A Imprensa já condenou Sérgio Gomes". 


Não há nada que mais me exaspere do que um massacre midiático desavergonhado como o que se perpetra contra Sérgio Gomes, com objetivo delineadíssimo de torná-lo bode expiatório de possível crime administrativo. Mas, como o mundo dá voltas, o destino haveria de fazer o caso voltar ao debate, sair do enclausuramento criminal, saltar para a arena política, e, com isso, paradoxalmente, elucidar-se na esfera em que Sérgio Gomes foi imolado. 


A fita de vídeo do pastor não existe, garantem minhas fontes. Por isso, a insistência de Luiz Eduardo Greenhalgh em solicitá-la, provavelmente como discreta e sarcástica pilheria contra Eduardo Suplicy, poderia ser traduzida como um desafio. Existisse a fita, com desenrolar supostamente comprometedor a Sérgio Gomes, há muito esse caso estaria encerrado. Pois a fita foi colocada na história justamente para confundir, para instalar o crime no apontamento de um inocente. E os diversionistas utilizaram-se justamente do senador Eduardo Suplicy, cuja respeitabilidade tem intensidade sintonizada com o grau de ingenuidade ou falsa ingenuidade que o torna sempre especial. E sonolento. 


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