Fosse eu Sérgio Gomes, o homem a quem imputam o mando do sequestro e do assassinato de Celso Daniel, fosse eu Sérgio Gomes, repito, estaria vibrando nestas alturas do Campeonato Nacional da Demagogia Descarada em que se transformou a CPI dos Bingos quando trata especificamente do assunto.
O grau de desinformação ou de deformação da maioria dos senadores que integram a CPI é de lascar. Eles desconhecem o assunto na mesma proporção em que se metem a elaborar arrazoados sob conceito exclusivamente político-partidário.
Os oposicionistas destilam toda a preocupação de atingir o governo Lula da Silva a ponto de desfechar frases acintosamente discriminatórias a Sérgio Gomes. Os situacionistas, muito menos habilidosos na arte da oratória, tentam que tentam minimizar os estragos. Menos Eduardo Suplicy, é claro, porque de tão confuso e abstrato, para não dizer insensato, pontua fraseologias desconexas quando não repetitivas, sobremodo no caso do pastor evangélico que, como Conceição da música, ninguém sabe, ninguém viu.
Questões a responder
Ora, se esse é o perfil das sessões da CPI dos Bingos no caso Celso Daniel, por que haveria então o empresário Sérgio Gomes de comemorar os resultados? Não seria incoerente essa visão se, também, o que se tem observado é o desprezo a tudo que se antepõe à tese de crime político e se amplifica tudo que se repete sobre a suposta fragilidade de crime comum?
É simples de explicar. Pelo menos o caso Celso Daniel saiu do gueto em que se encontrava, quase adormecido depois que o Ministério Público requereu a prisão de Sérgio Gomes como um dos mandantes. Na sequência, o Supremo Tribunal Federal atendeu à liminar e colocou em liberdade o homem que, segundo a Polícia Civil e a Polícia Federal, não teve outra participação no arrebatamento de Celso Daniel senão como vítima.
Na medida em que novas testemunhas depuserem em Brasília, especialmente contrapontos à tese do Ministério Público, e mesmo com a má vontade da Imprensa, haverá de surgir no horizonte de avaliações um núcleo de respostas a questões que se antagonizarão à unilateralidade que domina o quadro informativo.
O que se nota com a requisição de depoimentos de familiares de Celso Daniel é que o armamento da tese de crime político parece enferrujado porque o que se coloca à mesa são velharias fartamente publicadas pela mídia sempre pronta a dar ares de verdade às versões incriminatórias ao empresário porque, de fato, o que se pretende, é atazanar a vida do governo Lula da Silva.
Forçaram a barra
Minhas várias fontes de informação do outro lado dos vetores condenatórios a Sérgio Gomes garantem que, em contraponto ao foguetório dos acusadores, cristaliza-se satisfação. Ao forçarem a barra da politização do crime, os oposicionistas do governo Lula da Silva entregam a rapadura da inocência criminal de Sérgio Gomes. Explicando: quanto mais se martela a suposta implicação de Sérgio Gomes e de outros mandantes do crime, porque se pretende, repito, chegar ao governo Lula da Silva, mais se revelam fissuras investigativas do Ministério Público. Foi o que se consumou com supostos sacos de dinheiro no apartamento de Celso Daniel. Aquela narrativa joga totalmente por terra o enredo de que o prefeito de Santo André teria sido vítima de assassinato porque se rebelou com supostos desvios de recursos que alimentariam o PT.
Aliás, essa tese é um ramal secundário da versão original dos irmãos Daniel, que, às primeiras declarações pós-assassinato, diziam que Celso Daniel se rebelou ao descobrir o suposto esquema de propina, do qual, portanto, não teria conhecimento. O arremedo que se seguiu na cronologia do crime supostamente encomendado estaria configurado em provas documentais que, segundo se afirma, advogados de Sérgio Gomes guardam com cuidado extremo.
O fato é que os situacionistas foram pegos de calça curta pelo paradoxo da situação que se criou. Ou é fora de propósito afirmar sem pestanejar que, na exata medida em que se constrói a teoria de que o caixa dois funcionava na Prefeitura de Santo André para lubrificar campanhas petistas, mais se distancia a possibilidade de crime político porque, evidentemente, nenhum dos membros da suposta quadrilha colocaria em risco, a nove meses das eleições, um esquema que estaria funcionando há vários anos? Muito menos o próprio prefeito, que, como afirmou a testemunha do Ministério Público, largou três sacos de dinheiro sob os lençóis do apartamento em que residia em Santo André. O mesmo prefeito, aliás, que se definira por um de seus algozes, segundo a versão do MP, no caso o secretário Klinger Sousa, para comandar de fato a Prefeitura enquanto se dedicava à campanha de Lula da Silva e o avalizava como candidato às eleições de 2004.
O que se percebe é que a gulodice dos oposicionistas da CPI dos Bingos está colocando tudo a perder. Eles não só querem comprovar que o Paço de Santo André era uma usina de irregularidades administrativas com a chancela do Campo Majoritário do PT como também uma incubadora de assassinos. Francamente, é o fim da picada, porque despreza o princípio básico de que, ainda supostamente, um artilheiro que acaba de marcar o gol de uma conquista não seria estúpido a ponto de, antes do apito final, travestir-se de adversário e, deliberadamente, enfiar a bola na rede de sua própria equipe.
Por essas e por outras Sérgio Gomes, mesmo provavelmente abalado por novas arremetidas contra sua imagem já duramente desgastada, estaria refletindo sobre a vantagem de voltar à mídia. Principalmente se nos próximos tempos a CPI dos Bingos permitir-se à prática democrática de levar para depoimentos todas as pessoas que conviveram nos últimos anos com o prefeito Celso Daniel e também os comandos policiais que apuraram o crime. Certamente a CPI dos Bingos não se limitaria ao desfrute igualmente democrático de ouvir os irmãos João Francisco e Bruno que, como se sabe, e os novos depoimentos vão provar isso, mantinham gélido relacionamento com aquele que seria ministro de Lula da Silva.
Mais um motivo para Sérgio Gomes agradecer à CPI dos Bingos são informações que dão conta da possibilidade de a Polícia Civil, especialmente do DHPP, sair para valer para a disputa na arena da informação, eliminando-se, dessa forma, a via de mão única que faz das versões de crime político verdades supremas. Resta saber até que ponto a Imprensa permanecerá hermeticamente posicionada na execração de Sérgio Gomes.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP