Na entrevista ao Roda Viva de segunda-feira o presidente Lula da Silva, indagado pelo jornalista Matinas Suzuki sobre o caso Celso Daniel, respondeu de bate-pronto. Recordou o trabalho da Polícia Civil e da Polícia Federal que atribuíram à morte do prefeito enredo de crime comum e enfatizou o conhecidíssimo e comprovado distanciamento dos irmãos João Francisco e Bruno Daniel. Não houve contestação. Até porque, de maneira geral, os jornalistas estão muito mal informados sobre o assunto. Vivem de especulações dos setoristas policiais e de desmandos de editores encapsulados por interesses políticos de donos da mídia. A ordem unida é simples e direta: criminalizar Sérgio Gomes e seus amigos para atingir o PT. Uma bobagem sem tamanho porque coloca no mesmo saco um crime comum e uma possibilidade de desvios administrativos para financiamento de campanha.
O silêncio envergonhado da chamada "grande imprensa" sobre a Reportagem de Capa da revista Livre Mercado só foi superado por uma matéria do Estadão que, com base em declaração do senador Eduardo Suplicy, divulgou a versão fantasiosa de suposta testemunha que teria assistido o empresário Sérgio Gomes colaborando com os sequestradores. Na medida em que se procura essa tipologia de incriminação de Sérgio Gomes, mais se constata a dificuldade de sustentar a versão de crime encomendado.
O senador Eduardo Suplicy mencionou o nome deste jornalista e da revista Livre Mercado durante a CPI dos Bingos ontem à tarde em Brasília. Vou responder em artigo específico. O petista é massa de manobra de uma montagem ficcional de versão para tornar obscuro o que é claro.
O tratamento que a mídia, de maneira geral, deu à cobertura dos depoimentos de ontem das viúvas dos prefeitos petistas assassinados mostra sem tirar nem por o quanto a ordem unida está obcecadamente deflagrada: tudo que possa atingir o PT será realçado; tudo que minimizar as responsabilidades do PT será minimizado.
Os jornalistas que cobrem o caso Celso Daniel podem usar e abusar dos textos que redigi para a Reportagem de Capa de Livre Mercado. Não cobro direito autoral de informações que ajudam a esclarecer o caso. Se precisarem, tenho o telefone do comerciante do Ceagesp que seria sequestrado em vez de Celso Daniel. O mesmo comerciante que o Ministério Público diz inexistir e que a Polícia Civil de São Paulo ouviu em três depoimentos.
Ciúme de jornalista é pior do que de mulher dependente ou de homem inseguro. Eles, os jornalistas, em largo percentual, não suportam ser furados. Mais que furados: não suportam ser desmentidos. Quer pior situação do que alguém aparecer no cenário com elementos irrefutáveis que destroem as bobagens veiculadas insistentemente? Vai ser inevitável no livro que preparo sobre o caso Celso Daniel abordar a incompetência generalizada da mídia, presa fácil de versões especulativas.
O jornalista Augusto Nunes, que participou do Roda Viva com o presidente Lula da Silva, escreveu há dois meses no Jornal do Brasil que um dos pontos que reforçavam a certeza de que Celso Daniel foi vítima de crime de mando se caracterizava pelo fato de o jantar com Sérgio Gomes ter sido programado para São Paulo. Augusto Nunes deduzia que tudo fora tramado para o crime, "porque não há motivos para jantar em São Paulo tendo o ABC tantos bons restaurantes". Nunes desconhece algumas peculiaridades do gataborralheirismo do Grande ABC. Jantar em São Paulo tem significado duplo: para alguns, trata-se de enobrecer um encontro, longe da suburbanidade regional; para outros, nada melhor do que particularizar encontro longe dos olhos de curiosos.
Há informações de bastidores sobre um certo desconforto à tese de crime encomendado que teria tomado conta das investigações comandadas pela delegada Elizabeth Sato, com participação do Ministério Público. A reabertura do inquérito policial a pedido do secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro, poderia distanciar ainda mais a Polícia Civil e o Ministério Público.
O que vai acontecer com o dinheiro amealhado pelos irmãos Daniel, referentes ao aluguel do apartamento do ex-prefeito de Santo André, quando o desnecessário exame de DNA de Liora comprovar que ela é filha legítima de Celso Daniel e Ivone Santana?
A Reportagem de Capa da revista Livre Mercado está sendo febrilmente consumida por representantes da Polícia Civil paulista e também do Ministério Público. Sem contar as esferas judiciais. A transmissão do texto pela Internet foi uma maneira de dar conta da demanda. Os coleguinhas da Imprensa, calados, provavelmente vão procurar caminhos derivativos para não passar recibo de incompetência ou de subserviência aos poderosos da mídia.
Gostaria de ver a cara dos poucos leitores, pouquíssimos por sinal, que, mês passado, se manifestaram histericamente quando produzi a reportagem de capa "Inocente ou culpado? A Imprensa já condenou Sérgio Gomes". Mal eles imaginavam que aquele era apenas o primeiro tempo de um jogo em que o contra-ataque seria fatal, porque já dispunha de boa parte de informações policiais. Quem quiser questionar este jornalista que ligue para a Polícia Civil do DHPP. Ou podem ligar também para o DEIC e a Polícia Federal.
A acareação prevista na CPI dos Bingos com Klinger Sousa, Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes deverá tornar-se positiva para o PT, segundo avaliações da agremiação. A vantagem dos acusados de participarem de esquema de propina na Prefeitura de Santo André, em conjunto com Celso Daniel, é que a maioria dos senadores não entende nada do caso em questão. Trabalham sempre sob pressupostos.
Sabe-se sobre a possibilidade de participação de Sérgio Gomes no encontro com senadores que os irmãos Daniel estão preocupados. Tudo porque até agora eles bateram à vontade na tecla de crime encomendado e o contraditório poderá causar certos embaraços, principalmente a João Francisco, lobbista de adversários empresariais de Ronan Maria Pinto, ex-sócio de Sérgio Gomes.
O senador Romeu Tuma disse ontem durante o depoimento da viúva de Toninho do PT, prefeito assassinado em Campinas na noite de 10 de setembro de 2001, que não acredita em substituição de sequestrável, ao mencionar o caso Celso Daniel. As relações da família Tuma na Polícia Civil de São Paulo não são exatamente cordiais. Há forte resistência à espetacularização.
O sucesso do Corinthians pós-Márcio Bittencourt é um peteleco na maioria da crônica esportiva que, desconhecedora de princípios básicos de matemática, insistia em defender a permanência do jovem treinador apesar de a equipe vir caindo perigosamente de rendimento. O bom-mocismo de determinados treinadores costuma encantar jornalistas que preferem a docilidade do entrevistado à competência comprovada nos gramados. Oswaldo de Oliveira, Nelsinho Batista, Tite, Zetti e tantos outros, são técnicos extraordinariamente bem-educados, mas limitadíssimos. O futebol repete a vida corporativa: desconfiem dos bonzinhos, porque os bonzinhos geralmente não resolvem nada. Porque são bonzinhos, são maria-vai-com-as-outras.
Continuo consumindo colunas sociais dos jornais. Não há maior depositário de vaidade por centímetro quadrado. A Folha de S. Paulo segue, disparadamente, como o melhor exemplar de jornalismo na área. Exatamente porque é comedida e não escancara de forma tão acrítica as disparidades sociais do País.
Quem conhece um mínimo de futebol sabe o quanto determinados cronistas estão se remoendo de raiva porque o Corinthians do argentino Tevez lidera o Campeonato Brasileiro. Some-se a natural rivalidade com xenofobia imperdoável e temos um caldo de idiossincrasia. A resistência a Tevez diminui na exata proporção em que o craque compõe com Nilmar a melhor dupla de ataque no futebol brasileiro.
Estou preocupadíssimo com o futuro do São Caetano no Campeonato Brasileiro. O peso político pode fazer a diferença na reta de chegada, por mais que se fale em moralização da arbitragem. Basta ver o que os apitadores andam fazendo nos jogos do Flamengo. A demissão de Jair Picerni é acertadíssima. O treinador tem uma vocação incrível à depressão quando os resultados insistem em contrariar os propósitos dos jogadores. Aliás, Picerni é incrível porque embala na subida tanto quanto desaba na descida. O Santo André caiu para a Série B do Campeonato Paulista nos anos 90 sob o descontrole de Picerni.
A torcida do Palmeiras incorreu em erro de ingratidão ao hostilizar os jogadores depois da derrota para o Flamengo. O técnico Emerson Leão retirou leite de pedra e é natural que o afunilamento da competição eleva as exigências de qualificação individual da equipe. Algo que, como se sabe, não é elástico e tampouco está sob os domínios do técnico. O Palmeiras chegou ao ponto máximo de rentabilidade. Só mesmo reforços resolvem a equação. Ou seja: vai ser preciso esperar pelo ano que vem. Mas a vaga na Taça Libertadores ainda não está descartada, embora difícil.
O Santos se acomodou com a genialidade de Robinho, que resolvia todos os problemas da equipe e, agora, sem Robinho, não tem as soluções que se multiplicavam a cada 90 minutos. O que fazer? É nessa hora que se saberá se o presidente Marcelo Teixeira tem garrafa para vender, ele que é um dirigente aparentemente acima da média. O clássico desastroso com o Corinthians foi o preço pago pelos santistas que -- só Freud explica -- enxergam no alvinegro muito mais que um adversário. A obsessão de combater o Corinthians torna o Santos menos glorioso porque permite que a rivalidade seja elevada ao paroxismo autodestrutivo.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP