Administração Pública

Sobrou mesmice e faltou
regionalidade nos debates

DANIEL LIMA - 28/10/2016

Assisti a várias entrevistas e debates entre os finalistas de segundo turno nas eleições na Província do Grande ABC. Foram múltiplas as opções, o que é um ganho significativo à falta de espaços físicos dos jornais impressos. Ainda tenho encontros a assistir, armazenados que estão no meu smartphone.

Quando pedalar hoje vou acompanhar o encontro de Paulinho Serra e Carlos Grana no portal G-1. Dizem que Paulinho Serra virou macho. Mandaram-me alguns fragmentos das estocados do tucano. Quero assistir ao conjunto da obra. Aparentemente, Carlos Grana sofreu contragolpes que teriam reabilitado Paulinho Serra do vexame anterior, quando o petista lhe deu um nó cego na arte de combater verbalmente. Observadores afirmam que, agora assim, Paulinho Serra reproduziu na telinha a diferença que os separará nas urnas. 

Parece mesmo que a assessoria de marketing do vencedor da eleição em Santo André transfigurou-se após ler o que lhes reservei nesta semana. Isso é muito bom. Precisamos de gestores públicos mais incisivos, mais produtivos. De gente que não meça demais as palavras. Quando se mede em excesso cada frase que sairá da garganta transpira-se desconfiança de que se pretende esconder algo localizado um pouco abaixo da linha de cintura e que não é aquilo que os libidinosos estão a sugerir. 

A espontaneidade ainda é atributo que transpira confiança. Ao excesso de marquetismo politicamente correto contrapõem-se ações cautelares de quem não suporta mais o encabrestamento comportamental.

Temática proscrita 

Mas volto ao que mais me interessa como cidadão regional metido a besta como jornalista: jogaram as questões de regionalidade na lata do lixo. Nenhum dos finalistas discorreu sobre míseros aspectos que tornam a Província lugar onde viver virou uma tormenta e investir uma ousadia.

Quem me inspirou a escrever mesmo que rapidamente sobre regionalidade foi o jornalista Beto Silva. Na coluna de hoje da edição impressa do Diário do Grande ABC ele fez excelente abordagem. É uma pena que Beto Silva não escreva mais vezes sobre nosso Complexo de Gata Borralheira --- enfermidade que permeia a baixíssima doutrinação à regionalidade. 

Beto Silva é um dos profissionais que respeito na mídia regional. Se mandasse mais no Diário do Grande ABC certamente a linha editorial seria outra. O jornal faria jus ao nome que carrega há mais de meio século. Também outros profissionais daquele jornal pensam como Beto Silva. Caso do diretor de Redação Sérgio Vieira. Mas a massa crítica da redação não resiste ao fervilhante cotidiano de quem tem de produzir a toque de caixa. Os interesses municipalistas falam mais alto.

Municipalismo dominante

A cultura da regionalidade, por mais paradoxal que possa parecer, jamais consolidou-se como estrutura editorial do Diário do Grande ABC. O municipalismo imperou. Sobretudo o municipalismo andreense. Até uma tal de Frente Andreense foi sustentada.  Chamei-a de Frente Andreense do Atraso, em homenagem, entre aspas, às sumidades que a integravam. Exceto um ou outro, a maioria só pensava no próprio umbigo de interesses específicos. 

Houvesse possibilidade de botar num liquidificar tecnológico – com a devida mineração – todos os dados do acervo editorial do Diário do Grande ABC, o percentual de verbetes comprometidos com o conceito de regionalidade seria desprezível. 

Perceberam os leitores que estou derivando e, aparentemente, sem rumo neste texto? Não caiam nessa armadilha. Tudo está sendo digitado de forma proposital. Quero mesmo mexer tangencialmente com algumas questões relacionadas com o guarda-chuva da regionalidade, essa que é minha prioridade desde que me conheço como morador da região. E isso faz um bocado de tempo. Só não nasci aqui. Um pecado capital para os idiotas que, com estupidez inquisitória, procuram esconder vulnerabilidades ao atacar supostos forasteiros. 

Um empresário metido em escândalos chegou a me dizer certo dia, quando quase nos atracamos fisicamente, que eu não tinha autoridade para escrever sobre Santo André porque minha naturalidade está no Interior de São Paulo. Uma besta quadrada, como se vê. 

E os entrevistadores? 

Nesse festival temático que sugere estar este jornalista à deriva neste dia, insisto que tudo que estou a escrever tem a ver com a cláusula pétrea de regionalidade completamente esquecida pelos finalistas eleitorais deste domingo. Não foi por acaso, portanto, que, ao discorrer ontem sobre o que o futuro próximo reservaria aos vencedores, disse que a integração regional não poderia ganhar outra metáfora senão na forma de abacaxi. 

Debito apenas em parte aos políticos a responsabilidade pela omissão generalizada às questões que mais determinam o futuro da vida individual e coletiva da região. Os entrevistadores também não têm cultura suficiente para explorar questões que levem os entrevistados a se pronunciarem com alguma inquietação além dos muros municipalistas que representam como candidatos ou em busca da reeleição. 

Os debates e as entrevistas foram interessantes, é verdade, e não podem ser deslocados ao quarto dos fundos do interesse público, mas ficaram manquitolas. Quando se vive numa área metropolitana e os aspectos regionais são omitidos, há algo de estranho a ser explicado. 

Fica até chato repetir, mas qualquer jornalista curioso poderia acessar uma das editorias desta revista digital, no caso “Regionalidade” e selecionar algumas questões viscerais à compreensão do estado de desequilíbrio social e econômico da Província do Grande ABC. 

Mas quem disse que os profissionais de comunicação se preocupam com o aparelhar de informações robustas para exercerem missão tão complexa como a de questionar prefeituráveis? É mais fácil seguir o padrão ditado pelo interesse individual e muitas vezes exclusivista de eleitores, como se verificou.

Separatismo desastroso

Já expressei tempos atrás uma avaliação politicamente incorreta de condenação aos movimentos autonomistas que transformaram a Província do Grande ABC em sete endereços autárquicos, quando não concorrenciais. Não coloco em discussão o interesse das lideranças que se mobilizaram. Os resultados é que não podem ser retirados da alça de mira. 

O divisionismo territorial da região deflagrou multiplicidade de interesses igualmente territoriais que, somados ao corporativismo, nos colocou na situação de emergência institucional que nos aflige. Esse bicho de sete cabeças seria menos problemático caso não houvesse sido parido. 

Querem uma prova recente do quanto perdemos com a fragmentação territorial e administrativa, além de cultural e o escambau? Veja os posicionamentos dos sete municípios locais no ranking do Índice CapitalSocial de Gestão Pública que publicamos neste dia com base nos dados estatísticos do Observatório das Metrópoles. 

Contamos na região com moradores que usufruem de megainfraestrutura de primeira classe em número irrisório quando comparados com outros estratos sociais. Quem parte e reparte e não fica com a racionalidade administrativa como essência, não pode lamentar a má sorte. 



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