Administração Pública

Entrevistas com Celso Daniel
e Paulinho Serra. Acompanhem

DANIEL LIMA - 01/11/2016

Há intervalo de 20 anos a separar a entrevista que fiz em outubro de 1996 (publicada no mês seguinte na revista LivreMercado) com o então prefeito eleito em Santo André, Celso Daniel, e a entrevista que o Diário do Grande ABC publica na edição de hoje com o prefeito eleito Paulino Serra. O que as identifica é o pós-eleição. Tanto num caso quanto no outro eles foram ouvidos logo após vencerem as eleições. Ou seja: ainda não haviam tomado posse. Vou reproduzir os dois trabalhos jornalísticos de forma escalonada, sem emitir juízo de valor sobre os insumos apresentados. Por enquanto, claro. 

Possivelmente na edição de quinta-feira (há um feriado a ser respeitado) publicarei análise sobre o que separaria e o que uniria os dois vencedores.  

Tive a ideia de colocar frente a frente, desafiando o tempo e o contexto, dois jovens eleitos pela população de Santo André. Celso Daniel assumiria o segundo mandato dois meses depois. Antes, atuou durante quase quatro anos como deputado federal. Era muito mais experiente que Paulinho Serra também porque passara pelo comando do Paço Municipal de Santo André entre 1989 e 1992. Fez uma administração experimental, se assim pode-se dizer. Foi severamente encabrestado pelo petismo menos radical em Santo André do que em São Bernardo, mas mesmo assim incômodo. 

Vou parar por aqui porque me conheço e se continuar a escrever acabarei por invadir a grande área de comparações entre Celso Daniel e Paulinho Serra. Antecipadamente, posso adiantar em termos do que vou escrever ainda esta semana sobre essas duas entrevistas -- a conversa com Celso Daniel foi transformada em espécie de reportagem, enquanto a entrevista de Paulinho Serra ao jornalista Fábio Martins, do Diário do Grande ABC, foi transcrita em forma de perguntas e respostas -- é que a regionalidade foi surrada impiedosamente pelo novo prefeito de Santo André. Parece até que não existe interdependência entre municípios locais e a Capital do Estado.  

Vamos então às duas entrevistas. E não percam a oportunidade de confrontar os dois prefeitos eleitos sem deixar, claro, de contextualizar o que era Santo André naquele fim de século e o que é Santo André nesta temporada. Acho que vale a pena, principalmente se uma pergunta-âncora desafiar a capacidade reflexiva dos leitores: avançamos ou pioramos em duas décadas? 

Primeiros trechos da entrevista que fiz com Celso Daniel 

O prefeito eleito de Santo André, Celso Daniel, engenheiro civil e economista, professor da Fundação Getúlio Vargas, não se deixou encantar pelo volume de votos que recebeu em 3 de outubro e que lhe conferiu a maior votação em números absolutos e relativos do Grande ABC. Foram 205.317 eleitores, ou 61% dos votos válidos, que o recolocam a partir de 1º de janeiro no Paço Municipal de Santo André. Aos 46 anos de idade e experiência de parlamentar federal de quase três anos de mandato, Celso Daniel transmite a impressão de que marcará nova gestão à frente da Prefeitura pela flexibilidade. Para começar, garante em tom firme que pretende administrar com o partido (PT), mas não sob as rédeas do partido, num aviso emblemático às bases mais radicais de que não vai repetir os descuidos de comando do primeiro mandato.

O Celso Daniel Bom de Voto quer também se consagrar como Bom de Governo. O rompimento com o passado recente de administrador vinculado demais ao Partido dos Trabalhadores não lhe provoca frases de rebeldia explícita. Com a polidez usual, afirma que não se prenderá a eventuais obstruções para nomear todos os membros do secretariado, os quais pretende anunciar até o final deste mês. Uma das primeiras providências depois da avalanche de votos de outubro foi reunir-se com os principais integrantes do PT em Santo André. Entre os assuntos abordados, posicionou-se quanto aos executivos públicos que vão lhe dar suporte técnico-operacional.

Primeiros trechos da entrevista do Diário com Paulinho Serra

Prefeito eleito de Santo André pelo PSDB, o ex-vereador Paulo Serra sustenta que a cidade passa, atualmente, pela pior crise econômico-orçamentária da história, o que forçará a próxima gestão a adotar como “grande desafio colocar a casa em ordem”. Segundo o tucano, que concedeu entrevista exclusiva ontem na sede do Diário, a primeira série de medidas é voltar a pagar as obrigações em dia. Começaremos governo novo, sendo austero. Logo de início faremos choque de gestão.” No domingo, o tucano venceu a disputa majoritária de segundo turno ao conquistar 276,5 mil votos contra 77 mil sufrágios do atual prefeito Carlos Grana (PT). Paulo pondera que o Paço necessita “voltar a plantar”, estimulando a atividade econômica. “Gestão parceira de empreendedor para trazer investimento. Isso dá efeito no médio e longo prazos. No curto, é fazer gestão, enxugando a máquina.”

O tucano reitera reabrir diálogo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) visando equalizar problema da falta de água na cidade. Pretende fazer isso antes de iniciar o mandato. “Não consigo admitir que as pessoas paguem a conta e não tenham água”, lamenta, ao frisar que a médio prazo vai retomar investimento na rede de distribuição e tirar a ETA (Estação de Tratamento de Água) do papel. Fala ainda que “é possível manter o Semasa” (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) como autarquia, mesmo diante da dívida com a estatal paulista. 

Paulo adianta que pretende conciliar no secretariado perfis técnico e político. Cita que planejará a reforma administrativa a partir da transição. Antecipa que uma das alternativas de fusão é aliar Esportes à Pasta de Educação e inserir o Semasa dentro da futura Secretaria de Meio Ambiente, que também seria responsável pelo projeto do Poupatempo do Empreendedor. 

Mais entrevista que fiz com Celso Daniel 

“Posso garantir que o nível de renovação do quadro de secretários em relação à primeira gestão é grande. E teremos pessoas não necessariamente vinculadas ao partido, mas sim comprometidas com nosso programa de governo”– disse Celso Daniel durante encontro informal com membros do Fórum da Cidadania, três dias antes de embarcar para a Europa, onde pretende colecionar novos exemplares de gestão pública para eventuais adaptações não só em Santo André, sua maior base eleitoral, mas em todo o Grande ABC, aí como integrante do Consórcio Intermunicipal.

A visão de Celso Daniel sobre administração pública conflita com os modelos usuais no Brasil. Ele é contrário ao Estado-todo-poderoso, em suas várias esferas: “É preciso mudar o conceito de governo para conceito de governança”– costuma afirmar. Isto quer dizer que quer trocar o autoritarismo histórico de administração pública de gabinete pela democracia da representatividade social. 

Neste ponto também antagoniza-se com os padrões socialistas que o próprio PT disseminou em várias de suas administrações pelo País. Celso Daniel chama atenção para o fato de que, desde o final da década passada, escreve artigos sobre a necessidade de horizontalizar as decisões públicas sem, entretanto, cair no extremo oposto do preconceito contra a classe de empreendedores e de estratos sociais mais nobres. Enfim, o novo prefeito de Santo André contesta o antigo modelo soviético de conselhos populares que exalam repulsa à integração de camadas sociais, econômicas e políticas distintas. 

Recusando-se a assumir postura de liderança do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, por entender que isso significaria disputa de poder e de espaço político que não lhe interessa e que não convém a quem espera revitalizar o Grande ABC, Celso Daniel só antecipa que não lhe faltará empenho para dar ao organismo formado pelos sete prefeitos caráter de unidade que faltou na atual gestão. Elogiou Valdírio Prisco, atual presidente do Consórcio, pelas iniciativas tomadas, mas não deixou de lamentar a ausência coletiva dos demais. Embora não tenha dito formalmente, deu a entender que o desempenho do Consórcio Intermunicipal interrompeu processo de integração regional alcançado durante a gestão dos prefeitos que antecederam os atuais.

Primeiras perguntas do Diário para Paulinho Serra

Como o sr. espera encontrar a situação das finanças da Prefeitura de Santo André? 

As informações preliminares nos coloca como grande desafio pôr a casa em ordem. Isso porque Santo André vive hoje efetivamente a pior crise econômico-orçamentária da história. Com esse processo (de transição) que se inicia na semana que vem, teremos dados mais apurados, específicos. Mas tudo leva a crer que há falta de pagamento a fornecedores, além de déficit (financeiro) bastante significativo. 

O sr. pretende negociar o atraso junto aos fornecedores logo nos primeiros dias de governo? 

Nosso governo começa em 1º de janeiro. A partir disso, vamos colocar a casa em ordem. Primeira coisa é voltar pagar em dia. O que ficar para trás, com muita transparência, tranquilidade, iremos comunicar a situação e também colocando as obrigações em ordem. Iniciaremos em ritmo normal. Não podemos fazer com que esse prejuízo – se existe não se sabe a dimensão – prejudique a vida das pessoas no nosso governo. Isso está fora de questão. Começaremos governo novo, sendo austero. Logo de início choque de gestão, redução de gastos. Não tem como dar próximo passo antes disso. Estruturar e planejar. 

Mais entrevista que fiz com Celso Daniel 

Embora não tenha dito formalmente, deu a entender que o desempenho do Consórcio Intermunicipal interrompeu processo de integração regional alcançado durante a gestão dos prefeitos que antecederam os atuais. A unidade do Consórcio é prioritária para Celso Daniel, mas deve ser acompanhada, numa segunda etapa, da profissionalização de sua estrutura. A nova formatação incluiria também a participação deliberativa da sociedade civil, democratizando-se a responsabilidade de conduzir a necessária reviravolta socioeconômica, atuando como instância suprema de planejamento estratégico do Grande ABC.

O pretendido novo Consórcio Intermunicipal provavelmente, se depender de Celso Daniel, mudaria até de identidade. Teria outra denominação e se transformaria numa autarquia metropolitana do Grande ABC, com recursos financeiros próprios para desenvolver atividades de estudos, planejamento e obras individuais ou em conjunto entre os próprios Municípios ou também com a participação do Estado e da União. Enfim, comporia um novo arranjo institucional.

Esse fortalecimento intra-regional permitiria relação menos dependente do governo estadual. Celso Daniel não diz com todas as letras, mas a concepção de integração do Grande ABC não cede espaços para uma participação igualitária ou prevalecedora do Estado. Ele não hostiliza o governo estadual, ouve com atenção interlocutores do Fórum da Cidadania que falam sobre os avanços dos últimos tempos, entre os quais promessas de secretários estaduais de investimentos na infra-estrutura regional, mas a autonomia institucional do Grande ABC transpira em suas frases.

Tanto que critica o figurino adotado pela Baixada Santista, que já virou região metropolitana, segundo projeto do governador Mário Covas aprovado pela Assembléia Legislativa. A Baixada está criando autarquia pública que gerenciará a metropolização em parceria paritária com o governo estadual. Celso Daniel afirma que falta comunidade para avalizar a nova configuração jurídico-institucional de Baixada Santista. “Nesse ponto, estamos mais avançados, porque temos o Fórum da Cidadania como aglutinador da sociedade” — disse durante o encontro na Associação Comercial e Industrial de Santo André, referindo-se ao fato de que o avanço na Baixada Santista deu-se apenas entre a cúpula político-administrativa dos nove Municípios.

Mais perguntas do Diário para Paulinho Serra

Há informações de queda acentuada da arrecadação e déficit financeiro. Diante deste cenário, o que é possível dar prioridade no primeiro ano?

Primeiro que a queda na receita é mais retórica do que real. A cidade não perdeu tanto assim nos últimos anos. A gestão acabou gastando mal o dinheiro. A previsão orçamentária é de R$ 3,3 bilhões. Não é coisa pequena. Temos que voltar a plantar: estimular a atividade econômica. Gestão parceira de empreendedor para trazer investimento. Isso dá efeito no médio e longo prazos. No curto prazo é fazer gestão, enxugando a máquina. Reduzir tamanho. Modelo diferente, com menos secretarias, junção, sem perda da qualidade da política pública. Equalização, visando fazer a cidade funcionar. Faremos primeiro o necessário, depois o possível e até o impossível, se conseguir.

Como resolver o problema da falta de água e a dívida com a Sabesp?

Precisamos reabrir o diálogo com a Sabesp. Isso pretendo fazer antes de janeiro. Não consigo admitir que as pessoas paguem a conta e não tenham água. A questão da dívida tem que ser equalizada, só que a operação da distribuição tem que vir antes disso. As pessoas não podem ficar sem água. A Sabesp fala que envia para Santo André a quantidade suficiente, enquanto o Semasa nega que o volume seja o necessário para a demanda da população. A gestão é do Semasa. Se tem problema, em vez de brigar judicialmente, abre diálogo. Repito: não dá para admitir não ter água. É necessário resolver de forma rápida e possível. Claro que tem outras duas questões de médio prazo: retomar investimento na rede de distribuição para não perder tanta água e tirar a ETA (Estação de Tratamento de Água) do papel. O governo federal depositou recursos, mas não saiu porque a cidade não pagou a desapropriação da área, lá no Pedroso, pertencente ao Esporte Clube Santo André.

É possível manter o Semasa sob responsabilidade municipal? 

O prefeito Carlos Grana falou que não via problema em negociar abertura do capital do Semasa para a Sabesp. Como o sr. considera esse ponto?

É possível manter o Semasa como autarquia municipal. Já as possibilidades de modelo têm que avaliar uma por uma tecnicamente. Qualquer uma delas tem que levar a objetivo único: a operação de água ser normalizada. Só não acredito que a disputa judicial é o caminho. Considero equivocado, tanto que não resolveu o problema. Buscaremos saída, que não é essa que está sendo tratada hoje. 

Mais entrevista que fiz com Celso Daniel 

Celso Daniel teve também de explicar posição sobre a convivência entre o Fórum da Cidadania e a autarquia regional que pretende ver constituída: “Jamais disse ou insinuei que o Fórum devesse ser esvaziado. Pelo contrário: acho que é imprescindível a participação de representantes do Fórum da Cidadania nas ações de planejamento e deliberativas da autarquia. Não pretendemos cooptar ninguém. Nosso objetivo é participação com igualdade” — reforçou sua defesa.

Um dos sinais evidentes de que o Celso Daniel que venceu Duílio Pisaneschi nas últimas eleições é mais maduro que o Celso Daniel que derrotou o já falecido José Amazonas em 1988, e de que as amarras do PT não lhe prendem mais os passos, gestos e ações na mesma intensidade de antes, é a composição de secretariado não exclusivamente petista. Para quem não infere importância nessa decisão, basta dizer que o exclusivismo é uma das vacas sagradas de parcela ainda ponderável das bases do partido, extremamente corporativas. Celso Daniel reafirmou decisão de implantar no organograma da Prefeitura a Secretaria de Indústria e Comércio em caráter impostergável. “A economia é o tema-eixo de qualquer administrador que pretende ajudar a mudar a realidade do Grande ABC” — disse.

O ambiente descontraído do encontro na sala de reuniões da Acisa permitiu até especulações sobre o perfil do futuro secretário da área econômica. Celso Daniel não se furtou a dizer que quer um executivo público eminentemente operador e suficientemente versátil no relacionamento interpessoal para estabelecer negociações com os parceiros sociais. Mais não disse. Interlocutores do novo prefeito de Santo André acreditam que ele pode surpreender com um nome ligado ao setor empresarial.

Um dos que despontariam na bolsa de apostas é Fausto Cestari, diretor de metalúrgica em Mauá e coordenador-geral do Fórum da Cidadania. Cestari é habilidoso nos contatos pessoais, tem formação empresarial diferenciada porque ressalta aspectos sociais normalmente desprezados pela classe, provavelmente porque em realidade é mais médico pediatra que o convencional representante do capital, e alcançou grau de respeitabilidade que lhe franqueia todos os segmentos. Além disso, é velho amigo de Celso Daniel. Ambos jogaram basquetebol na Pirelli nos tempos de juventude. Fausto Cestari participou do encontro na Acisa, mas os demais interlocutores preferiram a discrição de não apontá-lo como secretariável. Diferente de Valter Moura, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo, e Filipe dos Anjos Marques, presidente da Associação Comercial e Industrial de Diadema, apontados durante a reunião como virtuais secretários de indústria e comércio de seus Municípios.

Mais entrevista do Diário com Paulinho Serra

Na área da Saúde, como o sr. pretende solucionar o imbróglio da falta de medicamentos em unidades?

Isso representa faltam de gestão. Primeiro, falta organização e informatização. Não tem hoje sistema de estoque e distribuição. Tem remédio sobrando em unidade na Palmares e faltando na Vila Luzita. A rede não se fala. Não tem milagre nisso. Estoque estará disponível no site no nosso governo. Informatizar é fundamental. Colocar a Saúde na era digital. E outra coisa é gestão financeira. Tem fornecedor de remédio que não recebe há 12 meses. Não dá para exigir qualidade do serviço se há esse problema. Colocar a casa em ordem é funcionar mês a mês. Saúde tem três conceitos: médico disponível, exame rápido e remédio fácil. Se conseguirmos cumprir isso, fazendo diagnóstico e teremos setor de qualidade.

O sr. fala em enxugar a máquina. Qual a quantidade de comissionados suficiente e em relação a secretarias o que é planejado fundir ou extinguir?

Atualmente, são 484 comissionados. Mais importante do que número e cortes é planejamento. Verificar onde pode ter redução de gastos sem perda da qualidade de política pública. Não está fechado quais Pastas serão fundidas, extintas. A partir dos dados da transição saberemos o real estado das finanças e iremos desenhar a gestão. Aproveitaremos esses dois meses para planejamento. 

Juntar as Pastas de Esportes com Educação é, por exemplo, uma possibilidade? Por outro lado, o sr. inseriu na campanha criar a Secretaria de Meio Ambiente. A ideia é colocar o Semasa para responder a essa Pasta?

É uma das alternativas (Esportes com Educação). Não a única. O que não dá é para o Esporte ficar do jeito que está. Pergunto: o que melhorou para o setor tendo criado a Secretaria de Esportes? Em relação à de Meio Ambiente, inserindo o Semasa, inicialmente é essa a ideia, assim como a SATrans, empresa pública, dentro da Secretaria de Mobilidade Urbana. A empresa responde ao secretário. Não há conflito. A Pasta de Meio Ambiente existe nas gestões modernas. Não incharia em nada, porque os cargos já existem e tem outra questão: a desburocratização dos processos para investimento e geração de emprego e renda. Com a secretaria dá para criar o que chamaremos do Poupatempo do Empreendedor. A questão da licença ambiental, não vou entrar no passado, hoje é uma trava. O conceito do Poupatempo é que o processo de aprovação não saia da sala sem ter todos os pareceres. Hoje tem coisa que demora mais de um ano. O mercado Sonda, que criou 200 empregos diretos, demorou seis anos.

Qual seu pensamento relacionado ao perfil do secretariado?

Tem que ter compromisso com a cidade e o projeto que a cidade escolheu. Nós representamos um projeto, de mudança e nova fórmula de gestão. Não estamos pensando nas pessoas e para depois definir a posição. Faremos o planejamento, formato e dentro dos perfis é que iremos encaixar as pessoas.

Mais entrevista que fiz com Celso Daniel 

A nomeação do economista Antonio Carlos Granado, ex-supersecretário na primeira gestão de Celso Daniel, também ganha força na bolsa de apostas. Homem de extrema confiança do prefeito eleito, bem articulado, Granado só não conseguiu indicação do PT para concorrer com Newton Brandão nas eleições de 1993 porque a ala sindical atropelou Celso Daniel e apoiou o então deputado federal e vice-prefeito José Cicote, pouco afinado com o Paço. Granado ainda estaria na alça de mira de Celso Daniel como eventual concorrente ao Paço nas próximas eleições e a Secretaria relacionada ao desenvolvimento econômico, potencialmente a de maior visibilidade na próxima gestão, lhe daria generosos espaços na mídia, bem como permitiria maior aproximação com representantes do capital, algo que o PT tem muitas dificuldades de alcançar.

Seja qual for o nome indicado — um sindicalista experiente preencheria o perfil descrito por Celso Daniel, mas carregaria carga de histórica beligerância entre capital e trabalho que não conviria ao marketing de aproximação entre o Poder Público e a iniciativa privada — o prefeito eleito de Santo André não deixou de acrescentar, com a sinceridade de quem é apaixonado por Economia, que exercerá pessoalmente espécie de supervisão especial da Secretaria, acima até da natural atribuição reservada a quem foi eleito para comandar o município. Celso Daniel reconhece que o futuro de Santo André e da região está nas linhas do desenvolvimento econômico.

Um bateria de encontros com sindicalistas, empresários, intelectuais e administradores públicos marca a viagem de Celso Daniel à Alemanha e à Itália. O prefeito eleito de Santo André embarcou no último 21 de outubro e só retorna em 8 de novembro. O roteiro da viagem não chega a lembrar a maratona da campanha eleitoral, quando chegou a cumprir 17 compromissos num mesmo dia, mas certamente será exaustiva. “Vão me sobrar o sábado e o domingo para descansar; afinal não sou de ferro”– brincou Celso Daniel, duas horas antes do embarque.

A viagem teria sido cancelada se Celso Daniel perdesse a eleição. Afinal, ele vai tratar de gestão pública e suas variáveis. Passará 21 dias no coração das grandes transformações que ocorrem na Europa, onde o Estado-do-Bem-Estar-Social está sucumbindo diante da globalização e onde o neoliberalismo não é visto como melhor alternativa. A grande interrogação que marca o mundo nestes dias, de fracasso do Estado e da graduação do livre-mercado, seduz Celso Daniel. Autorizado pela Câmara Federal, ele viaja em missão oficial mas todas as despesas constarão de sua contabilidade pessoal.

Celso Daniel só não alimentou expectativas de que voltará com a bagagem repleta de novidades, “bem ao gosto da imprensa”. Ele vai enriquecer conhecimentos pessoais e profissionais na esperança de que possa somar também vantagens municipais ou regionais. Citou, para expressar esperança de que não ficará apenas no terreno da teoria, a aplicação de regime tripartide de debates sobre o Porto de Santos pela ex-prefeita Telma de Souza, quando fez viagem semelhante e conheceu o sistema portuário de Barcelona, na Espanha. Celso Daniel pretende propor ao prefeito de Sesto San Giovanni, no Norte da Itália, região onde concentrará contatos, o selo de cidade-irmã de Santo André, por observar semelhanças econômicas entre os dois municípios, igualmente industrializados e em processo de esvaziamento. Cidades-irmãs costumam trocar experiências em vários campos, num intercâmbio que Celso Daniel observa com atenção de quem sabe que a globalização veio para ficar.

Embora nem fale alemão e italiano, Celso Daniel seguiu para os dois países certo de que as dificuldades serão superadas por intérpretes colocados à disposição por organizações anfitriãs, entre as quais fundações privadas e públicas. Com fama de político em tempo integral, Celso Daniel provavelmente ocupará os sábados e domingos para consolidar projetos como novo prefeito de Santo André, a partir de 1° de janeiro.

Mais entrevista do Diário com Paulinho Serra 

O primeiro escalão vai conciliar quadros técnicos e políticos?

Tanto que existe secretário e secretário adjunto. Diretor e diretor assistente. Essa junção funciona. E usar muito o servidor de carreira. Temos grandes técnicos na Prefeitura. Queremos fazer esse encaixe. A gestão não sobrevive sem a política, mas também não sobrevive só com a política. A somatória é importante. Gestão eficiente consegue fazer esse casamento.

Como o sr. enxerga o cenário de possíveis parcerias com o governo federal?

A perspectiva para o ano que vem é melhor do que 2016. Estive com o ministro Bruno Araújo (PSDB, Cidades). Ele nos disse que haverá investimento em saneamento básico para novas linhas de crédito. Isso nos deixou bastante entusiasmados com relação às comunidades. Ouvi muita demanda de água e esgoto. Devo ir na semana que vem a Brasília. Vejo com otimismo futuras parcerias (com a União).

Qual a análise de ser eleito pelo PSDB, lembrando que há quatro anos houve grande desentendimento, saiu do partido e, em reviravolta, tornou-se prefeito pelo partido. O que significa isso?

Amadurecimento de ambas as partes. Do PSDB, que soube reconhecer equívoco de 2012. E o meu também porque reconheci que errei em alguns pontos. Às vezes, você precisa sair da sua casa para entender que aquela casa é seu lugar. 



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