Administração Pública

Município que menos cresce no
G-22 espera por Paulinho Serra

DANIEL LIMA - 10/11/2016

É melhor o prefeito eleito Paulinho Serra segurar o facho de entusiasmo após o segundo turno das eleições em Santo André. E também conter a onda dos bajuladores de olho em vantagens que todos conhecem ou imaginam. Paulinho Serra vai dirigir por quatro anos um trambolho que ocupa a zona de rebaixamento do G-22, grupo dos 20 mais importantes municípios do Estado de São Paulo, acrescido de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Santo André é lanterninha em crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste século. Não será Paulinho Serra e quem quer que seja que vai alterar essa rota de desmilinguamento nos próximos tempos. Se o tucano congelar a situação para possível reação, estará bom demais.

Analisei na edição de 28 de outubro do ano passado a situação econômica de Santo André sob o conceito de PIB (Produto Interno Bruto), uma das múltiplas faces de juízo de valor sobre o andar da carruagem da Província do Grande ABC.

No fim da fila

Os números daquela edição se referiam a estudos do comportamento do PIB do G-22 entre 2000 e 2012, tendo como base 1999. Santo André perdeu para todos os concorrentes quando se colocavam os números entre as duas pontas da tabela, de 13 anos. A metodologia do PIB foi alterada no ano seguinte, 2013, e os resultados divulgados no ano passado. Por isso não os incluo, embora não tenha havido mudança do enredo de derrocada. Os dados do PIB de 2014 vão sair neste final de ano dos fornos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O que mais me incomoda nestas alturas do campeonato é certa empáfia de Paulinho Serra e correligionários mais próximos ao se referirem à vitória em segundo turno nas eleições recém-encerradas em Santo André. Muitos a consideram a maior de todos os tempos. Pura bobagem. Paulinho Serra deveria estar preocupado com o que vem pela frente, porque vem do passado de infortúnio, não o que as urnas lhe deram à falta de melhor opção do eleitorado.

Pode parecer duro dizer que Paulinho Serra não atendia aos requisitos mais profundos da sociedade de Santo André, mas é a pura realidade. Agora ele tem a missão de cristalizar uma gestão que levaria os eleitores a não se arrependerem do que perpetraram nos dois turnos entre outras razões porque as alternativas não lhes pareciam melhores.

Carta de crédito

Os eleitores de Santo André deram a Paulinho Serra uma carta de crédito ambiciosa porque incluiu uma arremetida rumo ao desenvolvimento econômico que ele prometeu e não vai cumprir em quatro anos entre outras razões porque não é mágico.

Paulinho Serra fora um vereador sem brilho e um secretário de mobilidade urbana da administração petista de Carlos Grana que cansou de fazer trapalhadas ao inventar ou a permitir que inventassem corredores e faixas de ônibus num Município sem estrutura viária adequada. O que se viu na sequência foi a desistência prática do projeto porque a insatisfação generalizada superou eventuais ganhos de marketing. Tentou-se copiar Fernando Haddad numa Santo André provinciana. Até parece que contamos com estrutura viária como a Capital do então prefeito Faria Lima na segunda metade do século passado.

Nosso Complexo de Gata Borralheira (de empáfia ou de submissão, dependendo do caso) não nos deixa ver que há imitações que se tornam ridículas, quando não estapafúrdias. Paulinho Serra e o PT patrocinaram patetice urbana que seria dinamitada caso a mídia regional não fosse chapa branca até quando lhe convém.

Paulinho Serra ganhou as eleições em Santo André por exclusão, portanto. O ambiente macropolítico e macroeconômico nacional minou as bases petistas municipais. Enfrentar o PT no primeiro e no segundo turnos foi moleza aos concorrentes.

Em circunstâncias normais tanto Carlos Grana como Donisete Braga, que defendiam a cidadela situacionista em Santo André e Mauá, dificilmente seriam batidos. Mesmo sem terem realizado, especialmente Grana, gestão satisfatória. Grana acreditou nos conservadores ultrapassados de Santo André e só se deu conta de que seria traído quando traído já fora.

Disputas diferentes

Portanto, tentar capitalizar os resultados de segundo turno como se os eleitores de Santo André reconhecessem valores extraordinários em Paulinho Serra é exagerar na dose. Em votos absolutos Paulinho Serra superou o triunfo de Celso Daniel no segundo turno das eleições de 1996, quando derrotou o empresário Duílio Pisaneschi.

Eram outros tempos e outras circunstâncias. Pisaneschi era apoiado pelo Diário do Grande ABC numa quadra regional em que o jornal era muito mais competente e influente do que hoje, na qualidade editorial e na ausência de competidores que as facilidades tecnológicas colocam ao alcance de todos em plataformas digitais.

Além disso, não há termos de comparação entre os dois adversários finalistas daquele 1996 e deste 2016. Celso Daniel constava como concorrente de um partido em evolução, sem manchas de escândalos. Diferentemente, portanto, de Carlos Grana. Candidatos com o perfil semelhante ao de Paulinho Serra não passaram pelo escrutínio das urnas em 1996. Morreram na praia no primeiro turno.

Duílio Pisaneschi, como Celso Daniel, fora eleito um pouco antes deputado federal. Havia um ambiente de intensa participação social nos embates políticos. Em duas décadas a política partidária de Santo André e da região como um todo virou uma feijoada insossa. 

As disputas de segundo turno este ano em São Bernardo e em Diadema foram muito mais efervescentes que as registradas em Santo André e em Mauá entre outras razões porque o PT estava fora do páreo. No máximo atuou como linha auxiliar dos candidatos derrotados. As diferenças dos resultados foram menores do que as registradas em Mauá e em Santo André. E não custa lembrar que mesmo a vitória de Atila Jacomussi sobre Donisete Braga foi menos massacrante do que a de Paulinho Serra contra Carlos Grana porque a classe média tradicional de Santo André, avessa ao petismo, é muito maior proporcionalmente que a classe média tradicional de Mauá.

Cadeira elétrica

Seria muito bom se Paulinho Serra recorresse às análises econômicas desta revista digital (e também às transferidas da revista LivreMercado para este acervo) de modo a que respondesse com mais conhecimento e cuidados às demandas de interlocutores. Sem falar do quadro atual de esfacelamento dos cofres da Prefeitura de Santo André. Fornecedores formam filas à espera de pagamentos. O tempo de jogo que vem de um passado distante coloca o gabinete de prefeito em condições semelhantes a de uma cadeira elétrica.

Ninguém chega à lanterninha na Série A do Campeonato Paulista de Produção de Riqueza, como pode ser definido o PIB dos Municípios, após 13 anos de desempenho, sem que fundas razões se consolidem. Paulinho Serra parece não se ter dado conta de que ganhou um presente que pode ser de grego. É verdade que não há muito a perder. O passado que carrega para o Paço Municipal não é lá apreciável, mas quem ganha na loteria uma vez, como Paulinho Serra acabou de ganhar, não pode se comportar como o legendário Dudu Varela, um dos apostadores mais conhecidos da Loteria Esportiva que transformou fortuna em pó. Aliás, Aidan Ravin está vivo e forte como prova acabada disso.



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