Administração Pública

Por que Luiz Marinho está
solto? Escolha uma alternativa

DANIEL LIMA - 14/12/2016

Afinal, como se explica e se justifica o fato de o prefeito Luiz Marinho escapar à ação da força-tarefa federal que invadiu São Bernardo ontem de manhã para cumprir série de medidas decorrentes de anunciadas irregularidades na construção do Museu do Trabalho e do Trabalhador? Formulo aos leitores três alternativas que podem colaborar ao ajustamento dos fatos à gestão do petista: 

1. Luiz Marinho possivelmente receberá da força-tarefa uma medalha de honra ao mérito ou coisa assemelhada. Afinal, se antecipou de forma extraordinária às 10 Medidas contra a corrupção do Ministério Público Federal que está na Câmara Federal e instituiu o Teste de Honestidade dos servidores da Prefeitura de São Bernardo. Os secretários presos frustraram a expectativa do petista de que a gestão iniciada em janeiro de 2009 se constituía em prova viva da moralidade e da ética. 

2. Luiz Marinho é simplesmente um administrador negligente com o erário público a ponto de deixar para terceiros, sem a menor preocupação com acompanhamento jurídico rigoroso, a construção de uma obra que ficaria para a história da região como reconhecimento eterno ao sindicalismo do qual fez e continua a fazer parte, homenageando para tanto o grande líder classista, seu primeiro-amigo Lula da Silva. 

3. Luiz Marinho participou por ação ou omissão de tudo o que foi denunciado como corrupção dos agentes públicos de São Bernardo, capturados por empresários mequetrefes. Claro que jamais imaginou que pudesse passar pelo que está passando porque, quando o projeto foi aprovado a toque de caixa para usufruir dos benefícios da Lei Rouanet, o céu era de brigadeiro para os petistas e não havia a menor perspectiva de que tempestades lavajatenses apareceriam no horizonte.

Concorrência nacional 

Perdoem os leitores o uso proposital de frases alongadas nos enunciados expostos. Trata-se de necessidade circunstancial. Um ponto a mais, algumas vírgulas ou ponto e vírgula, poderiam retirar volumosidade do caso que, em contextos outros, de um Brasil menos sujeito a ilegalidades e travessuras, certamente ocuparia muito mais espaço na mídia em geral. 

Seguimos num processo de revelações contínuas de avacalhação a ponto de a mídia em geral não dar conta de tantos escândalos. A concorrência pela manchetíssima do dia atazana a vida dos editores. 

Mas vamos ao que realmente interessa. E o que interessa é testar a sensibilidade, o conhecimento e o desconfiômetro dos leitores. 

Qual a alternativa que mais apetece o espírito de cidadão que deve repousar em seu peito? Vamos, seja objetivo e claro, além de franco e sincero. Tem dúvida? Releia aqueles três cenários. Escolha um sem pestanejar. Se a dúvida aflorar à mente, então respire fundo. 

Aquecendo os motores 

Se querem saber, executei esse exercício editorial assim que acabei de formular mentalmente os três pontos destacados. E os formulei exatamente nesse instante, à medida que dedilhava o teclado de meu computador. 

Claro que pensara previamente nesse artigo quando passeava de manhã bem cedo com minhas cachorras. São momentos que amadureço as ideias para o que vem depois, quando me sento ao computador. Passear com as cachorras é a fase de aquecimento dos textos que preparo de manhã. É uma fase que chamaria de incorporação mental. Quem é jornalista sabe como isso funciona. Até porque, jornalista que não aquece os motores não é jornalista. É um burocrata da escrita. 

Após ler em diversos jornais impressos e digitais, e também em sites, tudo sobre a operação dos federais em São Bernardo, e ao retroceder no tempo para reconstruir o comportamento-padrão de Luiz Marinho na Prefeitura de São Bernardo, não tenho dúvidas de que os federais devem estar forrados de razões, provas, documentos e tudo o mais para efetivarem aquela ação e, mais que isso, para terem deixado uma resposta aparentemente enigmática sobre o destino do prefeito Luiz Marinho. 

“Por ora” instigante

Ao dizerem como disseram que “por ora” o prefeito está salvo de desdobramentos das roubalheiras apontadas, o recado parece mais que direto: vem muito mais coisa pela frente.

Ou seja: o Museu do Trabalho e do Trabalhador com seus R$ 8 milhões de sumiço de dinheiro público é café pequeno para o petista Luiz Marinho. Haveria, portanto, um arsenal apontado para o Paço Municipal de São Bernardo. A Operação Lava Jato não chegou diretamente ao comandante máximo do PT na região. Comandante máximo depois de Lula da Silva, claro. 

Sabe-se que a movimentação intensa de Luiz Marinho para viabilizar candidatura ao governo do Estado (no período em que a agremiação entendia que derrubar a cidadela tucana se apresentava como a mais viável na história) não foi irrigada apenas com saliva. 

Sejamos claros: sem dinheiro – e estão aí as empreiteiras para não me deixar enganar – não há massa crítica possível a grandes saltos na hierarquia político-partidária. 

Chegar ao governo do Estado, sobretudo no caso de um partido que sempre sofreu as durezas dos prélios diante de um eleitorado conservador, exigiria muitos recursos. 

Paradoxo inquietante 

É claro que não estou afirmando que Luiz Marinho deve ser engaiolado, porque o passado de obscuridades e omissões o condenaria sumariamente. Entretanto, que parece estar na marca do pênalti das forças federais não tenho dúvida. 

Paradoxalmente, o fato de Luiz Marinho livrar-se de incômodos que colheram três secretários, um dos quais de área nobre nas relações históricas com financiadores eleitorais, eleva a temperatura de desconfiança de que o “por ora” dos federais foi uma maneira de manter Luiz Marinho num pêndulo masoquista de inquietação com o futuro breve e o desespero de um passado complexo. 

O descarte da alternativa mais drástica com relação à participação do prefeito Luiz Marinho no Museu do Trabalho e do Trabalhador em favor da segunda, de que teria sido negligente, possivelmente ganhará adeptos avermelhados. 

Entretanto, a reação do prefeito, ouvido pelo Diário do Grande ABC, me leva a concluir que essa possibilidade não parece sustentável. Marinho seguiu receituário padrão de desclassificação dos federais. Seguiu a mesma toada de dezenas de agentes públicos e privados envolvidos na Operação Lava Jato. 

Sugeriu Marinho que o ataque é a melhor defesa. Bem ao estilo Lula da Silva. Não fosse a robustez da exposição dos federais da operação deflagrada até seria possível imaginar que o prefeito de São Bernardo verbalizava uma segurança declaratória que resplandeceria a garantia de que a Administração de São Bernardo é alvo de perseguição. 

Quanto ao teste de honestidade, é claro que é um enunciado sarcástico. Não fosse por nada, por nada, só a nova configuração que se deu ao uso e ocupação do solo em São Bernardo, efetivada pelo secretário de obras Alfredo Buso, que está preso (e homem de confiança máxima de Luiz Marinho), seria suficiente para construir uma ponte de incredulidade do efetivo desconhecimento do prefeito sobre o entorno de seu governo. 

Leiam também:

Lava Jato está chegando e vai estremecer a Província  



Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André