Entrevista Especial

Liderança se faz
com ação coletiva

VERA GUAZZELLI - 16/06/2005

Autoconfiança, inteligência, dominação, subordinação e bajulação: as páginas amarelas deste mês estão repletas de adjetivos contundentes utilizados pela psicóloga Ala Voloshyn para detalhar as diversas faces dos líderes. A especialista trata o assunto com experiência de 25 anos em relações pessoais e convida à reflexão sobre a equivocada constatação de que basta ser hierarquicamente superior para mandar. Liderança requer complementaridade, democracia, flexibilidade, senso de justiça e, principalmente, pessoas capazes de interagir todas essas características para atingir metas sem se escorar exclusivamente no poder inerente ao cargo. 

Ala Voloshyn mora e mantém consultório em São Caetano. Explica que dividir para governar, prática ainda comum nas empresas apesar das exigências de multifuncionalidade e trabalho em equipe, perde lugar para dividir para realizar. O trocadilho é praticamente auto-explicativo e didatiza uma de suas posições mais relevantes. Ela acredita que líderes só terão sucesso se forem capazes de entender e convencer os subordinados de que todos são únicos mas incompletos e, por isso, precisam somar esforços. Sempre que há combinação de potencialidades individuais a eficiência e o progresso são notórios — reforça a também especialista em psicodrama e em palestras sobre comportamento humano em empresas e escolas. 

O dicionário atribui vários significados às palavras líder e liderança. Especificamente no mundo corporativo, a senhora considera que haveria definição perfeita para esses dois verbetes? 

Ala Voloshyn — O líder é o indivíduo que exibe uma forma de comportamento que chamamos de liderança. Parece óbvio, mas tecnicamente está correto. Essa liderança envolve o desempenho de vários papéis. O líder pode ser um administrador, pode planejar, orientar, ser especialista em alguma área, representante do grupo, mediador em momentos de conflito, unificador, coordenador do nível de eficiência do grupo ou apenas um distribuidor de tarefas. De certa forma, a liderança funciona quase sempre como referência e sua influência se dá muito mais pelo comportamento do que pela ideologia de quem ocupa o cargo. 

A velha máxima manda quem pode e obedece quem tem juízo pode ser conectada diretamente ao estilo de liderança que ainda reina em grande parte das empresas. Como a senhora analisa a constatação de que chefes foram feitos para mandar e subordinados para obedecer, dentro de conceitos de gestão que cada vez mais recomendam multifuncionalidade e trabalho em equipe?

Ala Voloshyn — Essa abordagem se refere a um padrão de liderança autoritária, na qual relação e comunicação se dão de forma vertical, de cima para baixo. O controle pode ser agressivo a partir do momento em que o líder é o único a conhecer a sequência das futuras tarefas do grupo, a determinar os padrões de relação entre os membros por meio de recompensas e punições. Fica claro que esse tipo de atuação compromete terrivelmente a eficiência do grupo. Por isso, líderes democráticos são mais necessários quando se pensa em unificação, produtividade, criatividade, cooperação e tolerância às frustrações e pressões externas. O líder democrático incentiva a participação de todos, distribui responsabilidades, estimula e valoriza os contatos interpessoais, elimina privilégios. Ele é mais justo porque não se prende a status e mantém o grupo integrado e coeso. A liderança democrática produz um grupo muito mais positivo e eficiente.

Há métodos objetivos para detectar líderes numa equipe de trabalho? É possível designar posto de liderança ou chefia tendo como base apenas a meritocracia, já que muitas vezes o profissional apresenta desempenho acima da média em sua especialidade mas não reúne características para comandar pessoas? 

Ala Voloshyn — Existem formas de detectar aspectos importantes em liderança. Autoconfiança, inteligência, poder de realização e dominação estão entre as características que podem ser reveladas tanto em testes psicológicos como em dinâmicas de grupo. Considero essa última forma a mais interessante, porque revela as reações do indivíduos em situações diversas. Alguns apresentam condições para liderar na maioria das situações, outros apenas em algumas. No entanto, além dessas capacidades, existe uma absolutamente fundamental que muitas vezes se basta: é a competência interpessoal, o líder capaz de estabelecer relações interpessoais autênticas, tornando-se catalisador e coordenador, favorecendo a dinâmica grupal e sua eficiência. Essa capacidade depende muito de condições pessoais desenvolvidas por meio do auto-aprimoramento que dá ao indivíduo força interna para estabelecer relações positivas, provocando no grupo a complementaridade na qual as tarefas são divididas e os esforços somados.

As principais características de um líder se sobressaem em qualquer ocasião ou depende do cargo? Existem vários níveis de chefia, desde o mais alto executivo até cargos intermediários. É necessário ter habilidade específica para cada um desses níveis hierárquicos?

Ala Voloshyn — O comportamento da liderança varia de acordo com a situação, a estrutura, os objetivos do grupo e a personalidade dos integrantes. A flexibilidade de estabelecer relações interpessoais positivas sempre se sobressai e deve estar presente para que o líder possa atuar de acordo com as necessidades vigentes. Assim é mais fácil levar o grupo ao progresso e à eficiência.

Como um líder consegue distinguir o colaborador incondicionalmente a seu lado daquele que apenas o suporta ou o bajula por causa do cargo?

Ala Voloshyn — Essa é uma preocupação acentuada para líderes democráticos empenhados em conduzir seus grupos a relações de solidariedade, contentamento, coesão e integração, com a premissa de que todos são importantes e, ao mesmo tempo, incompletos, devendo prevalecer a complementaridade e não a competitividade. Se mesmo assim surgir um opositor, a tendência é que o próprio grupo diminua sua força de atuação para manter o status coletivo. Ele será minoria e naturalmente excluído ou neutralizado. Mas se o líder é do tipo autoritário, deve se preparar para opositores e boicotes, muitos dos quais sutis. Toda relação vertical sugere oposição, pois todo aquele que chama para si o poder absoluto, fomenta disputa de poder e comportamentos de combate.

É comum líderes tentarem se impor pelo medo em vez do respeito. Esse tipo de comportamento leva a situação de controle aparente, mas na verdade camufla falhas de comando que aparecem assim que surgem os primeiros problemas. É possível detectar essa situação, levando-se em conta características e atitudes de quem está no comando?

Ala Voloshyn — Com certeza! Se o líder usa a liderança autoritária e o controle repressor terá sérios problemas. Quem observa sua liderança pode prever desdobramentos. Grupos dessa espécie tendem à agressões recíprocas e a responsabilizar uns aos outros por eventuais problemas. Também se dividem em subgrupos, não conseguem se organizar para resolver dificuldades e muitas vezes se voltam contra o líder por estarem expostos a desconfortos e frustrações. É um grupo que tende ao fracasso, pois não há unidade nem solidariedade. O poder se concentrou no líder e esse tipo de atitude, cedo ou tarde, evidencia as falhas de abordagem.

É possível compartilhar liderança e trabalho em equipe, principalmente quando os comandantes são mais jovens e teoricamente menos experientes que os comandados? 

Ala Voloshyn — A situação requer mais atenção, pois quanto maiores forem as discrepâncias entre líderes e seus comandados, maiores deverão ser os cuidados no que se refere à integração. Nesse caso o líder deve se preocupar com o tipo de comunicação com seus comandados, adequar-se ao nível de compreensão deles e estabelecer padrões de linguagem e códigos facilmente reconhecíveis pelo grupo. Quando se refere à idade, devemos levar em consideração as capacitações técnicas e pessoais, principalmente quando falamos de complementaridade. Mesmo sendo mais jovem, o líder pode ser capaz de manejar a dinâmica de maneira positiva, levando o grupo à eficiência. Em casos assim a idade se torna irrelevante. 

Recente estudo da CLS (Center for Leadership Studies), da California detectou que falta alinhamento entre líderes e subordinados. Enquanto líderes acreditam que precisam utilizar elevado grau de determinação e orientação para que as metas sejam atingidas, liderados acham que têm capacidade maior para execução de tarefas do que consideram os chefes. A senhora atribui esse conflito à falta de preparo das chefias ou à espécie de tática para não elevar demais a auto-estima dos comandados e mantê-los, portanto, sob total controle?

Ala Voloshyn — O conflito é sempre mantido pelo tipo de chefia e, portanto, sua tática. O exemplo é mais um de liderança autoritária e só pode provocar distanciamento entre comando e comandados. Geralmente nesses casos, os membros do grupo ainda estão na primeira fase de integração, na qual cada membro precisa se certificar de seu valor pessoal, só depois disso virá identificação e integração propriamente ditas. A falta de alinhamento identificada pelo estudo é consequência de métodos de comando falidos, que precisam ser substituídos. Onde há a combinação das potencialidades individuais, eficiência e progresso são notórios.

O cientista comportamental americano e fundador da CLA, Paul Hersey, afirma que a liderança não está limitada a um superior que subjuga o relacionamento e que o líder ideal é adaptável, o que significa dominar vários estilos para poder usar no momento certo. A senhora concorda? Poderia citar situações, mesmo hipotéticas, de como esses dois conceitos poderiam ser aplicados nas empresas.

Ala Voloshyn — Concordo. Em questão anterior citei a importância da adaptabilidade e da flexibilidade do líder, pois ele deve manejar o grupo de acordo com as necessidades para manter unidade, solidariedade, confiança e integração. Somente o líder que consegue alcançar grau positivo de relação interpessoal e criatividade atinge o objetivo comum. A flexibilidade não sugere inconformidade com sua personalidade e ética. O estilo pessoal deve permanecer, mas precisa ser temperado de acordo com as diferentes situações. 

A senhora poderia proceder a análise de outro ditado popular e transportá-lo para o mundo corporativo: dividir para governar também é uma tática utilizada para manter a liderança?

Ala Voloshyn — É preciso dividir para realizar. Se um líder conduzir o grupo de forma a que cada membro seja valorizado e respeitado na sua individualidade com a certeza de que é único e importante, porém incompleto para o todo, e por isso, precisa se somar aos outros, haverá unidade. A unidade economiza tempo, energia e acentua a eficiência e criatividade. Diante disso, o líder é valorizado e reconhecido como legítimo, por seu grau de competência em manter o grupo coeso. É uma relação na qual todos crescem.



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