Dez pontos ganhos em 12 disputados, apenas dois gols sofridos e seis marcados: eis o resumo das primeiras partidas no São Caetano na luta para voltar à Série A do Campeonato Paulista. A vitória de ontem à noite de três a um diante do Bragantino, um dos médios-pequenos do futebol brasileiro, mostrou nova face da evolução do time dirigido por Luiz Carlos Martins.
O resultado foi até elástico ante as dificuldades encontradas, mas não pode ser visto como injusto. Na terceira temporada à frente da equipe, o treinador revela um arsenal mais variado de opções que, finalmente, poderão determinar a interrupção de um enredo enfadonho, de nadar, nadar e morrer na praia.
Para quem gosta do futebol de ocupação de espaço com determinação, garra e empenho acima do normal, o jogo de ontem à noite foi um prato cheio. O São Caetano foi levemente superior no primeiro tempo e repetiu a dose no segundo, mas a diferença não assegurava vantagem no placar. O que levou o São Caetano à vitória foi contar com mais flexibilidade no uso tático de jogadores.
Por exemplo: o São Caetano vem revelando um segundo volante Ferreira mais ofensivo, participando mais do ataque, e agora pelo lado direito do campo. Ferreira é um grandalhão que se torna um pouco desajeitado quando, por ser destro, atua pelo lado esquerdo, protegendo a defesa e saindo com dificuldades ao ataque. Pela direita ele não precisa ajeitar o corpo para passar, para driblar em velocidade, para avançar. Fez um primeiro tempo tão esplendoroso que o gol marcado aos 46 minutos num chute surpreendente da entrada da área poderia até ter sido dispensado. Ele excedeu em tudo que fez.
Trocando de funções
Quem esperava por um Ferreira igualmente solto e lépido no segundo tempo foi surpreendido. Ele jogou mais recuado, agora pelo setor esquerdo, e quem teve mais liberdade para atacar foi um incansável Paulo Vinícius, formado na base do São Caetano. De característica diferente da de Ferreira, Paulo Vinícius é mais rápido e insinuante e se move com mais velocidade entre os adversários. Ele embaralhou o sistema defensivo do Bragantino.
O São Caetano também parece mais forte nas laterais, com os reforços de Alex Reinaldo e Lucas Pavone. Eles têm ampla liberdade para atacar, mas ainda falta calibrar melhor os cruzamentos e as finalizações. Superá-los defensivamente também é missão complicada aos adversários.
O São Caetano também melhorou a ocupação de espaços. Contra o Guarani e contra o Bragantino foram raros os momentos em que os adversários tiveram campo aberto para organizar jogadas. Um desses casos originou o gol do Bragantino. O São Caetano vencia por dois a zero e afrouxou a marcação. Num rápido contragolpe foi inacreditável o que se viu: o Bragantino contou com várias possibilidades de completar um rápido contragolpe, até que a bola caiu nos pés de Adriano Paulista que não teve dificuldades em finalizar. Em nenhuma situação anterior e posterior o Bragantino teve liberdade para chutar inclusive da entrada da área.
Descuido custou caro
O gol do Bragantino foi um descuido que custou caro mas foi rapidamente absorvido. O time de Luiz Carlos Martins voltou à concentração coletiva e fez o terceiro gol antes do último apito. Um terceiro gol emblemático das maiores opções no banco de reservas em relação a competições anteriores. O grandalhão centroavante Lincom estava esgotado fisicamente e foi substituído por Ermínio, um atacante mais veloz, de estatura média. Ermínio geralmente bota fogo ofensivo e não frustrou a expectativa ao chutar cruzado, na entrada da área, definindo de vez a vitória.
O que acentua a possibilidade de o São Caetano classificar-se entre os quatro primeiros e disputar a fase decisiva da Série B do Campeonato Paulista é que a força coletiva é mais importante que as individualidades. Um e outro jogador que não vão bem em determinado jogo sempre tem o peso relativo aliviado pelos demais.
É o caso de Francisco Alex, um meia-atacante que tanto contra o Guarani como contra o Bragantino não teve a mobilidade, o passe, o lançamento e as finalizações à altura de um passado recente que levou o São Caetano a contratá-lo. Mas, mesmo assim, a equipe não baixou rendimento a ponto de fracassar.
Talvez ainda seja muito cedo para atribuir ao São Caetano o favoritismo a uma das quatro vagas de finalista. Entretanto, o aperfeiçoamento do sistema de jogo do técnico Luiz Carlos Martins com a chegada de reforços que dão mais força ao conjunto e as opções técnicas nas bolas paradas, além de empenho físico-tático que não se viu nas competições anteriores, indicam que a versão mais difícil da disputa pelo Acesso à Série A, com inúmeros pesos-pesados de pequenos e médios times paulistas, não é um bicho de sete cabeças para quem está se reestruturando há mais de dois anos para dar a volta por cima após vários rebaixamentos.
Correção de falhas
Diferentemente do conceito geral de que supostas frustrações tendem a afundar as equipes em competições subsequentes, o São Caetano fez de duas decepcionantes retas de chegada na Série B do Campeonato Paulista, em 2015 e 2016, plataforma de embarque à redenção. Uma caminhada árdua, mas que, no ritmo em que se dá, dificilmente deixará de ser festejada.
A liderança da competição coloca o São Caetano como o time a ser batido. Nada melhor para apurar eventuais escorregões táticos e técnicos. Por enquanto, o São Caetano tem muito mais virtudes que deficiências.
Ao empatar segunda-feira em Campinas e ao vencer o Bragantino ontem à noite, o São Caetano acumulou quatro em seis pontos possíveis contra dois dos principais concorrentes ao Acesso. Jogos de seis pontos cada, por assim dizer.
O confronto de segunda-feira à noite contra o Velo de Rio Claro é um bom teste para medir até que ponto o desempenho da equipe não sofre deslize contra adversário menos graduado na hierarquia do futebol estadual.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André