Exportar é a solução. A frase, muito citada nas décadas de 60 e 70, começa a ser resgatada pela Prefeitura de Santo André na tentativa de oferecer alternativas de mercado para pequenas e médias empresas. Uma série de iniciativas está sendo realizada nos últimos meses para permitir ao empreendedor local acesso ao mercado externo. Participação em feiras e rodadas de negócios começam a produzir contato com potenciais clientes estrangeiros.
A agenda está repleta de compromissos. Em 28 de setembro, 70 representantes de empresas da cidade se reuniram com 30 agentes comerciais especializados em comércio exterior no 1º Encontrader ABC, organizado pela Prefeitura por meio do Sax (Sistema de Apoio à Exportação). Entre os agentes estavam três traders americanos, dois mexicanos e um francês interessados em conhecer produtos com potencial de venda no mercado externo.
Do encontro, saíram 98 solicitações de contatos com empresários locais. Entre o dia 29 deste mês e 1º de dezembro Santo André vai ser sede da 1ª Feira de Investimentos da Rede Mercocidades, organismo que reúne o poder local no âmbito do Mercosul e que a partir do mês que vem passa a ser coordenado pelo prefeito João Avamileno pelo período de um ano.
Além do institucional
Se o objetivo é Santo André ser peça fundamental da integração sul-americana, é preciso ir ao que importa: estabelecer comércio com centros econômicos do continente. “Nossa meta é ir além do lado institucional do Mercocidades, porque a integração do Mercosul só se dá através de negócios. Só que hoje não temos estrutura de integração” — afirma o diretor do Departamento de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura, David Gomes de Souza.
Para comprovar as limitadas condições de integração comercial na América do Sul, David Souza cita como exemplo a ida de uma comitiva de Santo André para a cidade argentina de Tandil, no mês passado. A viagem que deveria durar no máximo quatro horas de avião acabou se estendendo por 12 horas, com vôo até Buenos Aires e deslocamento por terra até Tandil, a 350 quilômetros ao sul da capital argentina.
Rodada de Negócios
Cerca de 100 empresários da América do Sul participaram da Rodada de Negócios em Tandil, entre eles um de Santo André, um de São Bernardo, um de São Caetano, um de São José do Rio Preto e outro de Minas Gerais. As prefeituras de Santo André e de Tandil assinaram protocolo de colaboração tecnológica e complementação produtiva. Para empresários locais, Tandil interessa por ser centro agro-industrial que requer reposição de peças.
A participação de Santo André em eventos internacionais pode também render frutos a serem colhidos em distâncias menores. “Foi preciso irmos à Argentina para encontrar o pólo tecnológico de São José do Rio Preto e fechar acordo de empresas das duas cidades. É um processo embrionário de complementação produtiva” — revela o gerente da Innova (Incubadora Tecnológica de Santo André), Alexandre Gaino.
A questão é saber se os empresários locais estão preparados para enfrentar o mercado externo. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indicam que 67 empresas de Santo André realizaram operações de exportação em 2004. Diariamente, uma ou duas empresas procuram o Sax para obter informações sobre o mercado externo. A Prefeitura já cadastrou 103 empresas em visitas diárias realizadas por técnicos do Sax.
Desse total, 30 são exportadoras, 21 já exportaram, 42 nunca exportaram mas têm interesse em vendas no Exterior e 10 nunca exportaram e nem têm interesse. “Das 21 que exportaram e das 42 que têm interesse, poucas realmente se preparam cultural e gerencialmente para isso. A grande parte dos empresários diz que se aparecer algum importador, a venda é feita. Ou seja, se acontecer é lucro, do contrário não buscam preparação e qualificação necessárias não só para ingressar no mercado internacional como também para competir no próprio mercado interno” — observa o gerente do Sax, Edgard Pereira Cezar.
Exportar não deve ser o objetivo final da empresa. “O empresário precisa abrir horizonte para o mundo globalizado, não só para exportar mas principalmente para ser competitivo, inclusive no mercado interno” — lembra David Souza. Disputar espaço no mercado externo é antes de mais nada importante aprendizado para o pequeno e médio empresário. É bom ressaltar que por enquanto é um aprendizado custoso. Com o dólar pouco acima de R$ 2,00, depois de ter chegado a R$ 4,00 no final de 2002, o empresário procura estímulos para exportar.
O diretor do Departamento de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Santo André acredita que a experiência é importante. “Se tiver uma margem pequena, entre 3% e 5%, mesmo assim deve manter a exportação porque é um mercado que oscila. O empresário precisa ver outro lado, que é fundamental, que é como o mercado lá fora vê o seu produto. É um feedback que pode agregar tecnologia. Ao se atender a novas exigências, a empresa ganha em competitividade” — lembra David Souza.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ