Entrevista Especial

Otimismo sim,
sem exageros

DANIEL LIMA - 13/12/2005

O que pensam duas das principais lideranças empresariais sobre o futuro de um Grande ABC que já foi muito mais poderoso mas que, nos dois últimos anos, coincidentemente no governo do petista Lula da Silva, recuperou parte do PIB (Produto Interno Bruto) perdido de forma avassaladora durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso? Tanto Wilson Ambrósio da Silva como Valter Moura estão otimistas. Mas é um otimismo claramente controlado, comedido. Ambrósio, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) não se furtam em revelar os pontos positivos e os pontos negativos da região. E mostram mais entusiasmo com os vetores positivos do que preocupação com os pontos negativos, embora a distância entre uns e outros não seja abissal. 

LivreMercado repete nessa dupla entrevista virtual a fórmula adotada na edição de novembro, quando colocou frente a frente de seus respectivos computadores os sindicalistas José Lopez Feijoó, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, e Cícero Martinha da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Como naquele caso, nem Wilson Ambrósio nem Valter Moura foram informados sobre o duplo endereçamento virtual das perguntas. A revelação poderia quebrar o encanto de comparar as respostas, um dos aspectos mais interessantes da repetição metodológica destas páginas amarelas. 

Embora divirjam em algumas abordagens, Wilson Ambrósio e Valter Moura caminham praticamente no mesmo solo de confiança moderada, longe portanto das armadilhas do entusiasmo incondicional e praticamente fundamentalista do passado em que o Grande ABC se considerava imbatível no jogo da competitividade internacional e da multiplicação de riquezas.

Líderes do Fórum da Cidadania, um dos movimentos mais importantes e igualmente frustrantes da história regional, Valter Moura e Wilson Ambrósio oferecem diagnósticos semelhantes sobre o desfecho acachapante daquela instituição. Para Moura, o erro do Fórum foi não ter se reciclado. Para Ambrósio, o Fórum esqueceu o óbvio: trocou a especificidade pelo todo-poderosismo.  

Se o senhor tivesse que elencar de forma sucinta três pontos positivos para defender um futuro promissor para o Grande ABC, quais seriam destacados?

Valter Moura — O ABC experimenta um novo ciclo de crescimento, disso não tenho dúvida. Em minhas viagens tenho me encontrado com políticos e empresários e todos comentam sobre essa nova fase na economia regional. Novamente eles estão nos olhando com bons olhos. Somos hoje perto 2,5 milhões de cidadãos, o que torna a região algo mais que um poderoso polo industrial, gerador de riquezas, como se consignou a partir da década de 60. Agora temos uma concentração humana respeitável no plano demográfico, com seus desafios sociais e econômicos, cuja renda per capita supera a de muitas regiões do País, situando-se bem acima da média nacional. Isso representa um mercado consumidor de grande potencial, com atrativos de investimentos nos setores de serviços, comércio, indústria e infra-estrutura. Assim, em primeiro lugar, entendo que, ao contrário do que ocorreu no passado, quando havia divórcio entre o Poder Público municipal e a livre-iniciativa, hoje as administrações das cidades começam a adotar políticas de incentivo ao empreendedorismo. Entendo que esse espírito empreendedor deve ser melhor cultivado e implementado.

Temos também a localização estratégica do ABC (como bem disse recentemente o governador Geraldo Alckmin: “a maior esquina do Brasil”), que deve ser melhor potencializada, principalmente pela criação de vias de acesso aos corredores representados pelas rodovias que entrecortam a região.

Um terceiro fator é a política de integração regional necessária para termos a região mais competitiva, objetivando propiciar melhor qualidade de vida para toda a comunidade. É oportuno lembrar que estamos às vésperas de ano eleitoral e, em que pese o ABC ter sido o lugar de nascimento de uma nova era da política nacional (pós-regime militar), ainda precisamos imprimir cultura política local condizente com a grandeza e o empreendedorismo de nossa região.

Wilson Ambrósio — Considero como três pontos positivos: 1) O aumento da oferta de oportunidades de Educação Fundamental na rede pública, Superior na rede privada com a criação de cursos diversificados e, obviamente, a perspectiva de implantação da Universidade Federal do ABC. 2) Ampliação e modernização de industrias já instaladas. Exemplifico: a ampliação do Pólo Petroquímico que beneficia diretamente Santo André e Mauá; a dinâmica da indústria automotiva local produzindo novos modelos no ABC; os investimentos em modernização e ampliação de capacidade do setor da borracha, etc. 3) O crescimento das atividades de comércio e diversificação na oferta de serviços. 

E quanto a três gargalos regionais que precisariam ser combatidos de qualquer forma?

Valter Moura — É preciso estabelecer ações conjuntas e integradas, principalmente políticas públicas de meio ambiente, transporte, habitação, educação, saúde e segurança pública. O mesmo é válido para o social. Não existem políticas integradas objetivas nesse campo, principalmente nas questões ambiental, de transporte, habitacional, educacional, saúde e segurança. Nesses campos, o ABC é imensa colcha de retalhos, cada um utilizando seus próprios caminhos, mais na base do paliativo, do empirismo. 

Acho também que devemos repensar, rever, a Lei de Zoneamento de todas as sete cidades da região, com vistas a criar denominadores comuns que viabilizem e agilizem a tomada de decisões das administrações das cidades, principalmente quando sabemos que, hoje, em termos de infra-estrutura, qualquer intervenção de vulto que se faça num desses municípios reflete também nos outros. Da forma como as coisas estão nesse campo, cada decisão a ser tomada depende, antes, de uma discussão política, às vezes desgastante e improdutiva.

No que se refere ao terceiro gargalo, eu pergunto: “O ABC está preparado — ou se preparando — adequadamente para a implantação do Rodoanel?” É evidente que não. Penso ser esse o mais importante assunto da política e da economia da região. Isso porque representa o principal fator de crescimento de todo o ABC, para o futuro próximo e a longo prazo. Porque sua chegada permitirá que saiamos da estagnação, do colapso de nosso sistema de transporte, de forma que restaurará nossa capacidade de escoar a produção de nosso parque industrial, o que, no passado, representou o principal atrativo para a expansão dos negócios na região. É justamente esse o grande gargalo. Afinal, não estamos diante de um dilema apenas local, mas nacional, por se tratar de um grande centro de riquezas que influencia a economia de toda a Nação. Restam às administrações municipais, assim como ao empresariado e às lideranças locais, integração e união de esforços para adequarem as cidades à preparação de infra-estrutura que atenda à demanda que será gerada pelo Rodoanel.

Wilson Ambrósio — 1) Necessidade de integração e melhoria do transporte público regional. 2) Dificuldade de acesso ao ABC a partir das demais rodovias estaduais que chegam à Grande São Paulo e no sentido do ABC para as demais rodovias. 3) As profundas diferenças de condução política e estratégica entre as cidades do ABC, que dificultam a melhoria da governança pública regional.

Qual é a sua avaliação sobre as lideranças empresariais do Grande ABC? Nossas instituições, que representam os setores empresariais de comércio, serviços e industriais, estão preparadas estruturalmente, tecnicamente e em recursos humanos para dar conta dos reflexos da globalização?

Valter Moura — Nosso empresariado é dinâmico e empreendedor. Pois é assim que tem que ser diante dos desafios e da competição reinante no mercado. Suas lideranças têm de acompanhar esses referenciais. Nossas relações de produção na indústria, entre capital e trabalho, diante do sucesso dos empreendimentos que aqui foram incrementados, das vicissitudes e da experiência acumulada no decorrer dos anos, exigem dedicação e melhor preparo de nossas lideranças. O mesmo é válido para o setor de serviços e para o comércio. Nesse sentido, não é somente a globalização o grande desafio. Mas, sim, a acentuada mudança por que passou a economia da região nas duas últimas décadas. Essas mudanças exigiram esforço hercúleo do empresariado e das lideranças locais, cujos resultados podem ser constatados nesse novo ciclo de progresso que ora experimentamos. Quanto à globalização, na prática, estamos nos preparando para melhor adequar a economia e os investimentos no sentido de colocar o Brasil na condição de “globalizante” e não somente de “globalizado”. Como ficou constatado pela decisão recente de a Volkswagen produzir o automóvel Polo aqui no ABC, e não no Paraná. O Polo é um veículo que está sendo fabricado para o mercado nacional e internacional. Somente para a Europa está prevista a exportação de 100 mil veículos/ano. E não é no Paraná que a empresa iria encontrar técnicos qualificados, meios de produção e vias de escoamento para exportação, condições privilegiadas que somente nós oferecemos. Daí a decisão de fabricar o veículo aqui, daí a força da nossa região.

Wilson Ambrósio — As lideranças empresariais têm evoluído muito, uma vez que as instituições têm feito muito mais benchmarking internacional do que fizeram no passado. Além disso, algumas já têm internamente estruturas e processos de orientação e prestação de serviços voltados ao comércio exterior, para preparar seus representados do ponto de vista interno para melhorar a produtividade. Com isso tornam-se competitivos em relação aos similares internacionais, o que lhes permite enfrentar ataques da concorrência externa e preparar-se para atividades de exportação. 

Que semelhanças e diferenças marcam o governo Fernando Henrique Cardoso e o governo Lula da Silva para a economia do Grande ABC?

Valter Moura — Na prática é a mesma coisa. Não podemos confundir os desdobramentos naturais de uma gestão em relação à outra. Veja, por exemplo, a questão tributária: a política é a mesma. O mesmo acontece na política ortodoxa de controle da inflação pela taxa de juros. Aliás, tanto no governo FHC como no atual governo Lula, os juros continuam sendo os mais altos do mundo. Não podemos esquecer as reformas, que, na realidade, foram todas concebidas no governo FHC e concretizadas por Lula. Aliás, algumas se encontram inacabadas, como é o caso da tributária. 

Numa região tão sensível à política econômica oficial, como é o ABC, é evidente que os reflexos das medidas governamentais são sentidos mais fortemente. O próprio presidente disse que governa para toda a Nação, e não para uma região específica. Assim, se na macroeconomia estamos sentindo positivamente o resultado da política do governo Lula e de seu antecessor, no âmbito das médias, pequenas e microempresas a crise se acentua cada vez mais com o fechamento de muitas unidades. Sem contar as demissões, lembrando que, as empresas, somadas, são as grandes empregadoras nacionais. Mas vejo no projeto da Universidade Federal do ABC, promovido pelo governo Lula, uma obra importante para a região. É preciso desenvolver aqui um projeto universitário condizente com a demanda de técnicos especializados, de formação universitária para atender o nosso parque industrial e empresarial. 

Wilson Ambrósio — Em função da organização política que adotamos no Brasil, acredito que as influências do governo federal na economia do Grande ABC são consequência de decisões macroeconômicas para atender às necessidades do País. Portanto, se vierem a beneficiar mais uma região do que outra, o que importa é o resultado global. Cabe à região, se foi prejudicada, buscar estratégias para minimizar os efeitos.  

Das instituições regionais de que dispomos, qual está mais próxima do necessário para o enfrentamento das grandes mudanças macroeconômicas — o Consórcio de Prefeitos, a Câmara Regional, a Agência de Desenvolvimento Econômico ou o Fórum da Cidadania? Numa escala de valores, quem está menos preparada para as mudanças?

Valter Moura — Vejo no Consócio Intermunicipal um importante instrumento de ação política com vista à melhor integração dos municípios a um projeto desenvolvimentista. Falávamos de globalização, que nada mais é que um processo de integração, e agora temos aqui um modelo a nos inspirar. O Consórcio é (ou pelo menos deveria ser) o núcleo central dessas ações, que devem se orientar na filosofia da convergência de interesses. No sentido planetário a globalização pode esperar décadas para concretizar metas; em nosso caso não há tempo a perder. Das instituições representativas aqui existentes, o Consórcio está preparado para levar a cabo um projeto mais ambicioso para a região. E é do binômio governo/empresa privada que o Consócio encontrará o caminho para a concretização dos propósitos para os quais foi criado, em sintonia com as outras instituições que também têm o seu papel a exercer nesse processo, como a Câmara Regional, a Agência de Desenvolvimento Econômico e o Fórum de Cidadania. Este, convém lembrar, no momento, um tanto tímido em suas ações.

Wilson Ambrósio — Sem dúvida, o monitoramento das mudanças macroeconômicas e propostas de tratamento dessas mudanças cabem à Agência de Desenvolvimento Econômico, em razão de sua própria natureza. Entretanto, isso exige estrutura e pessoal técnico, e não me parece que quaisquer de nossas instituições tenham condições de fazê-lo.

O senhor se arrepende de algo que tenha feito ou de que não tenha feito como liderança empresarial nos anos 90?

Valter Moura — Creio que faltou para a maioria dos dirigentes empresariais o estabelecimento de uma perspectiva futura, uma antevisão do que poderia ocorrer com o Brasil pós-impeachment. O Plano Real e o fim da cultura da inflação criaram um período de transição nos modelos administrativos, a partir do momento em que se valorizou a moeda, com um profundo reflexo no campo social e no mercado consumidor. E também nas relações de trabalho, acrescida ainda a racionalização da produção com a introdução da robótica no interior das fábricas. Sem contar a globalização. Faltou à classe empresarial e ao governo um plano de ação preventivo para reciclar e atualizar nossos trabalhadores, em todos os níveis, além de orientar e preparar a empresa nacional para que buscasse meios de adaptação a uma nova realidade que já batia forte em nossas portas. Assim, o vício da improvisação se fez presente mais uma vez na política, na economia e no empreendimento privado. O preço que se paga hoje é muito alto.

Wilson Ambrósio — Sim. Acho que no caso do Fórum da Cidadania, cometi juntamente com outros líderes fundadores o erro de achar que num determinado momento o Fórum estaria preparado e estruturado de tal forma que poderia caminhar sozinho. Nós, idealizadores e fundadores do Fórum, falhamos em não perceber que em determinado momento haveria a necessidade de reengenharia na entidade.  

Qual dos atuais prefeitos do Grande ABC mais se aproxima dos requisitos que o senhor entende indispensáveis para conduzir a região a novos patamares?

Valter Moura — Para mim o prefeito William Dib vem se destacando como grande liderança, ultrapassando os limites municipais e regional. Ele sabe valorizar o lado humano da administração, é sensível à inovação, utiliza bem os recursos de marketing para direcionar seu governo em prol do desenvolvimento. É um grande estrategista. Também o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, vem se revelando como grande administrador público e político competente.

Wilson Ambrósio — Tenho em relação a esse assunto visão um pouco diferente. Não vejo possibilidade nem acho que caberia a qualquer prefeito isoladamente a responsabilidade de conduzir a região. Os problemas municipais já são muitos, os interesses políticos podem ser divergentes, bem como as prioridades diferentes. Acredito mais, como já disse anteriormente, na estruturação e na capacitação técnica das entidades existentes para definir projetos de interesse comum a ser tratados no Consórcio de Prefeitos.

Qual sua avaliação sobre a proposta já antiga de nossa publicação no sentido de que o Grande ABC contrate uma consultoria especializada em competitividade econômica para se preparar mais adequadamente para o futuro?

Valter Moura — A gestão política hoje é muito depende de um projeto bem elaborado e exaustivamente avaliado por uma equipe técnica de valor. Em alguns países, como nos Estados Unidos, certas prefeituras criaram um cargo executivo, não eletivo, para exercer funções, em confiança que, tradicionalmente, eram exclusivas dos prefeitos. Aqui, no Brasil, algumas instituições de ensino, especialmente as escolas de Administração, sensíveis a essa necessidade, já estão introduzindo tanto em nível técnico como universitário cursos de gestão pública, o que já existe há muito tempo nos países desenvolvidos. Acho que, para a gestão pública moderna, o trabalho das consultorias é imprescindível, principalmente em se tratando de cidades do porte das existentes no ABC.

Wilson Ambrósio — Gosto dessa proposta, uma vez que uma organização externa ao ABC e com viés eminentemente técnico poderia levantar dados e traçar cenários econômicos de maneira imparcial. Entretanto, penso que as estratégias e ações deveriam necessariamente ser, a partir dos dados e cenários levantados, definidos pelo conjunto da sociedade organizada da região. A implementação caberia às instâncias de poder municipais e regionais com um mínimo de metodologias e processos comuns. 

Qual é a sua avaliação histórica sobre o movimento sindical no Grande ABC, mais especificamente do Novo Sindicalismo, nascido com Lula da Silva? Ganhamos ou perdemos com o sindicalismo?

Valter Moura — O Novo Sindicalismo, que surgiu no ABC a partir de 1978, pode ser avaliado dentro de dois aspectos: primeiro pelas circunstâncias em que foi fundado, uma vez que vivíamos num regime de exceção, numa economia dirigida, com um forte conteúdo de cartelização. Nesse sentido, comparado aos dias de hoje, a longo prazo o modelo concebido naquela época se defasou, e muito, diante das mudanças na cultura das relações entre capital e trabalho, principalmente as que ocorreram no Japão a partir dos meados da década de 1970 e que muito influenciaram as relações de produção em todo o mundo. Mas, no Novo Sindicalismo, na época de seu surgimento, convém reconhecer, a situação social do operário do ABC era muito melhor que a dos dias atuais. Sua renda e status. Ele era de certa forma um privilegiado em relação aos trabalhadores de outras regiões do Brasil. 

Em segundo lugar, com a descartelização da economia, o processo de privatização e o fim da reserva de mercado para inúmeros produtos, essas relações mudaram e uma nova cultura foi paulatinamente instaurada, de modo que, defendo hoje, como primazia nacional, uma reforma sindical profunda e abrangente, longe do corporativismo e dos vícios do sindicalismo cartorial. Vivemos um momento em que, diante da globalização da economia e do conhecimento, o País precisa desenvolver um modelo mais convergente de relações entre empresas e empregados, o mais longe possível do conflito.

Wilson Ambrósio — Primeiramente, sempre acreditei na importância do sindicalismo como modelo democrático para o equilíbrio da economia, principalmente do ponto de vista da justa distribuição das riquezas produzidas. O chamado Novo Sindicalismo nasceu num cenário macroeconômico bastante favorável, em função de dois fatores importantes: inflação alta e mercados fechados. A evolução para o chamado Sindicalismo de Resultados foi a resposta inteligente quando os dois fatores deixaram de existir. Portanto, acredito que sempre ganhamos quando a dinâmica sindical provoca evolução nas relações.

Depois do fracasso do Fórum da Cidadania, instância que acenou com a possibilidade de a sociedade regional mobilizar-se em busca de soluções, o senhor acredita que é possível voltar a incentivar aquela iniciativa, agora com a soma do aprendizado, ou entende que ainda vivemos rescaldos daquela decepção e o melhor é esperar?

Valter Moura — Para mim, o Fórum da Cidadania cumpriu satisfatoriamente o papel para o qual foi criado. Sua criação se deu num momento em que o debate político na região era monopólio de uma minoria inspirada em modelos sucateados pela história, pela queda do Muro de Berlim. Era preciso ouvir todas as partes; acrescentar ao debate segmentos importantes da sociedade, sem cair nos vícios ideológicos discriminatórios, tanto à esquerda, como à direita. Pela primeira vez, em tantos anos, as classes dirigentes, assim como representações das sociedades locais, em todos os níveis, foram chamadas a se manifestar. O erro foi o Fórum não ter se reciclado, perdendo-se no tempo e no espaço. 

Wilson Ambrósio — Apesar de não ser contra a existência das instituições regionais, a experiência tem me demonstrado que o mais importante é que existam projetos de interesse comum, alinhados com as expectativas da maior parte da sociedade. O nascimento do Fórum se deu a partir de um projeto comum que era indiscutivelmente importante para toda a comunidade do ABC: a campanha que estimulava a população a votar em candidatos do Grande ABC. O sucesso do Fórum e a grande mobilização foram obtidos a partir dessa campanha. Isto nos levou à ilusão de que a entidade, a partir daí, poderia tudo. Tínhamos orgulho do modelo do Fórum. Da forma de se tomar decisões por consenso, do rodízio de entidades no comando, etc. No entanto, não percebemos que era a mobilização em torno de um interesse comum que havia projetado o Fórum.

O Fórum está desgastado e perdeu a oportunidade de se reinventar e se reorganizar. Esse é um caso típico de como o sucesso mal interpretado pode conduzir ao fracasso. Não retomaria o Fórum. Devemos trabalhar sob a ótica de projetos e aparelhar as entidades regionais para conduzi-los.



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