Administração Pública

Perguntas de quatro anos
para presidente da Fuabc

DANIEL LIMA - 17/02/2017

Em primeiro de abril de 2013 (portanto há quase quatro anos) o então presidente da Fundação do ABC, Maurício Xangola Mindrisz, indicado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, recebeu série de questionamentos desta revista digital no espaço correspondente a “Entrevista Indesejada”. 

Hoje vou repetir e também reciclar várias daquelas perguntas e as encaminharei à nova titular máxima da Fuabc, Maria Bernardette Zamboto Viana. Não as remeterei formalmente à nova titular dessa instituição regional como nova rodada de “Entrevista Indesejada”. Minha proposta é que ela leia com atenção e possa, em breve, ao tomar conhecimento sobre algumas questões importantes daquela instituição, tenha condições de se apresentar às indagações da Imprensa menos condescendente. 

A Fundação do ABC é mais, muito mais importante do que parece. Uma organização que conta com orçamento de mais de R$ 2 bilhões não é um mercadinho. Muito longe disso. Sobretudo porque o público-alvo é a camada mais sofrida da população, que não conta com planos privados de assistência médica. 

Tanto dinheiro exigiria transparência no sentido muito mais agudo do que se tem publicado. Dar publicidade aos dados da Fundação do ABC, disponibilizando-os no site, seria apenas um meio de caminho à condução de ampla estrada de realidade dos fatos. 

Transparência não é tudo 

Não é preciso mencionar a identidade de empresas privadas e públicas metidas no escândalo da Petrobras que alardeavam gestão supostamente alinhada aos conceitos mais modernos de responsabilidade social, as quais esmeravam marketing de transparência. É preciso observar com muita desconfiança -- principalmente nos organismos públicos -- os festejados programas que em muitas situações fazem dos números o mesmo que as ditaduras costumam fazer com desafetos. 

As perguntas que se seguirão – todas rebocadas da Entrevista Indesejada que Maurício Xangola Mindrisz não respondeu há quase quatro anos -- dão uma pista clara, cristalina, do que está a dever a Fundação do ABC à sociedade regional. 

Por isso, se eventualmente tratar-se de dirigente sem aprofundamento sobre as nuances daquela instituição, o que se seguirá poderia servir de farol a iluminar uma temporada de notícias auspiciosas. Um mundaréu de informações certamente seria transformado em matéria-prima a mudanças que há muito se espera. 

Costumo afirmar que a Fundação do ABC é a única regionalidade que deu certo porque é um turbilhão de acertos. Quem é do ramo da regionalidade da Província do Grande ABC na área de saúde – esse é o negócio da Fuabc – sabe que aquela instituição não é flor que se cheira. E que, portanto, não será exclusivamente a exposição de informações seguindo a legislação pertinente que abrirá os escaninhos por onde passam mais que um boi, uma boiada de complicações. 

Indagações não respondidas

Sem perda de tempo, portanto, vamos às perguntas à nova presidente da Fundação do ABC. Encaminharemos eletronicamente à caixa postal do departamento de comunicação da Fuabc esse material na esperança de a presidente responda. 

Se não houver ressonância, possivelmente prepararemos uma “Entrevista Indesejada”. Como o fizemos com o antecessor de seu antecessor – sem que fosse registrada resposta. Nada surpreendente. A Fundação do ABC vive num universo paralelo, sem qualquer preocupação com o mundo real que a alimenta com recursos financeiros milionários. Às perguntas, portanto: 

CapitalSocial -- Como a senhora explica a doação considerada irregular de R$ 20 milhões da Fundação do ABC à Faculdade de Medicina do ABC, em 2011, para tapar o rombo de uma instituição de ensino utilizando linha de empréstimo destinada exclusivamente à saúde?

CapitalSocial -- A aprovação dessa doação passou pelo Conselho Curador sem qualquer tipo de restrição ou houve votação mesmo que minoritária em contrário?

CapitalSocial -- Como a senhora avalia a informação de conselheiros que colocam os presidentes que passaram pela instituição como bastante vulneráveis às pressões de dirigentes da Faculdade de Medicina? Eles afirmam que foi imposta resistência ao comando da FUABC, a ponto de negociarem a doação daqueles recursos como uma maneira de contornar as adversidades.

CapitalSocial -- A senhora acredita que o formato do Conselho Curador assegura legitimidade de cidadania no controle da Fundação do ABC, tendo-se em vista que mesmo conselheiros efetivos afirmam que se trata de cartas marcadas, de um jogo de encenação apenas para homologar decisões já tomadas pela presidência – como por exemplo nomeações de superintendentes e criação de cargos?

CapitalSocial -- A senhora pretende fazer alguma tentativa para incorporar ao Conselho Curador novos representantes da sociedade menos suscetíveis ao jogo de interesses políticos, partidários e administrativos dos municípios diretamente envolvidos na Fundação do ABC e das chamadas entidades mantidas?

CapitalSocial -- Como a senhora analisa a avaliação de especialistas em FUABC de que o modelo tripartite de regionalidade administrativa só segue adiante há muito tempo porque há concessões mútuas que abrem as portas a irregularidades no gerenciamento de recursos financeiros, sem contar, entre outros pontos, os mananciais de empreguismo que não resistiriam a uma vistoria pelos nomes na folha salarial? E o que dizer do corporativismo médico, cada um criando seu próprio feudo e jogo de influências, além da despreocupação com custos de serviços e de produtos, a ponto de cada mantida pagar preços e se relacionar de forma totalmente diferente com um mesmo fornecedor? 

CapitalSocial -- A senhora diria sem medo de errar que há controle efetivo sobre a atuação da Central de Convênios, por onde passa a maior parte dos recursos financeiros administrados pela Fundação do ABC?

CapitalSocial -- Como interpreta a avaliação de que a Central de Convênios é um reduto fortíssimo de dirigentes políticos? Não seria conveniente organizar uma devassa completa para profissionalizar a Central de Convênios, retirando-a do que muitos identificam como o centro do poder de descaminhos da instituição? 

CapitalSocial -- Os números do balanço de 2012 aprovado na reunião do Conselho Curador apontaram que os níveis de eficiência da FUABC baixaram profundamente.  Os resultados estão ligados diretamente à negligência ou afrouxamento no cumprimento de compromissos das organizações contratantes dos serviços prestados pela FUABC. Faltam informações sobre os anos posteriores. Não lhe parece que a sociedade precisa ter informações consistentes sobre o andamento gerencial da instituição? O que faz o Conselho Curador que não se manifesta?

CapitalSocial -- A senhora acredita que a Fundação do ABC resistiria a uma blitz da Promotoria de Fundações, organismo do Ministério Público que fiscaliza as atividades de instituições do gênero? As fragilidades internas de fiscalização, explicitadas nas reverências de grande parte do Conselho Curador, não seriam um convite a desvios?

CapitalSocial -- A senhora acha uma boa ideia solicitar ao Ministério da Saúde o envio de uma força-tarefa republicana, como a que decidiu vasculhar algumas especialidades atendidas pela previdência complementar, de planos de saúde, para passar a Fundação do ABC a limpo em todos os setores e atividades e, dessa forma, eliminar todos os focos que estariam comprometendo os indicadores de eficiência no atendimento social, que é a síntese de sua atuação? 



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