Administração Pública

Dossiê Marco Zero: Bigucci
seguirá impune até quando?

DANIEL LIMA - 24/02/2017

Passados quatro anos desde que encaminhei ao Ministério Público Estadual em São Bernardo um completo dossiê da roubalheira que caracterizou o leilão de área pública arrematada pelo empresário Milton Bigucci, a pergunta que resiste é a seguinte: até quando o milionário que coleciona outras irregularidades no mercado imobiliário, entre as quais a participação na Máfia do ISS de São Paulo, ficará impune? 

Os leitores estão convidados a mergulhar no dossiê que encaminhei ao MP há quase quatro anos. Um robusto e bem documentado material que levou o presidente do conglomerado MBigucci a contratar a banca do advogado José Roberto Batochio para defendê-lo. Batochio é o comandante da força-tarefa de profissionais do Direito convocada pelo ex-presidente Lula da Silva por causa da Operação Lava Jato. 

Agora que a Prefeitura de São Bernardo conta com novo inquilino, depois da derrota do candidato indicado pelo petista Luiz Marinho, a expectativa é de que o Escândalo do Marco Zero da Vergonha seja devidamente devassado pelo tucano Orlando Morando e encaminhado com responsabilidade social ao Ministério Público Estadual para reabertura das investigações. Ou para as devidas investigações. Obrigação a que se negou o então prefeito Luiz Marinho. Ou melhor: o petista atuou de forma tão parcial quando enganadora, omitindo informações e provas insofismáveis. 

Entretanto, não se deve acreditar em reviravolta motivada por ação do prefeito eleito em outubro passado. Morando e Milton Bigucci são muito próximos. Ainda nesta semana, o tucano foi o convidado de honra e fez um discurso efusivo durante evento que marcou a liberação de parte do condomínio de apartamentos, áreas comerciais e de serviços do Marco Zero da Vergonha. 

Mobilidade urbana 

Um empreendimento muito complicado também em outros pontos. Caso da mobilidade urbana. O impacto daquelas torres no sistema de trânsito se tornará nocivo à qualidade de vida e à produtividade do trabalho na região na medida em que apartamentos e salas comerciais forem efetivamente ocupados integralmente. Não houve qualquer contrapartida ao Poder Público que significasse atenuante aos estragos urbanísticos, em desacordo com práticas comuns no mercado imobiliário, mesmo que longe do ideal. Menos mal que vai demorar um bocado o caos naquela área. 

Não faltam ações de distratos no mercado imobiliário como um todo e no Marco Zero da Vergonha, em particular. Distratos são vendas de imóveis rompidas por inadimplência potencial ou efetiva dos compradores. Sem contar, também, de manobras de investidores que se arrependem dos negócios firmados ante o rebaixamento dos valores monetários num período de recessão econômica profunda. 

A resposta do prefeito Orlando Morando às críticas deste jornalista não resistem à destinação do argumento ao quarto de despejos da incoerência. Morando disse que não poderia fazer nada porque a corrupção que cercou o arremate da área (é claro que ele não falou e nem sugeriu estes termos) vem do passado e, portanto, nada poderia fazer. 

O prefeito de São Bernardo esqueceu que também vem do passado a desconfiança (que está longe do critério de provas do caso Marco Zero da Vergonha) de que o contrato firmado pelo então prefeito Luiz Marinho com um consórcio especializado em recolhimento de lixo em São Bernardo, bem como de construção de uma usina de energia elétrica, foge às regras. E nem por isso Morando deixou de acionar os meios legais, Legislativo e Judiciário, para rompimento do contrato. 

Impunidade persistente

O Escândalo do Marco Zero da Vergonha se arrasta inexoravelmente. Há uma combinação de estranhezas que o mantém a salvo de punições. É verdade que se já não era das mais saudáveis, a credibilidade de Milton Bigucci como empresário sofreu duro revés também por conta disso. Sem contar o desastre continuado à frente do Clube dos Construtores, do qual só se afastou após um quarto de século de uma trajetória que associou manipulação estatística e esvaziamento institucional. 

O Marco Zero da Vergonha é abominado pelo próprio mercado imobiliário. Mas não se esperem manifestações condenatórias ao modus operandi de Milton Bigucci. Mesmo fragmentado e concorrencial, os empresários do setor preferem a discrição à denúncia. Muitos deles estão envolvidos em outro escândalo ainda longe de punições – caso da roubalheira no Semasa, autarquia que emite licenças ambientais em Santo André. 

Já o esporte preferido de Milton Bigucci é perseguir jornalistas independentes. E o faz com extraordinária capacidade e êxito. O quadro de advogados que o serve manipula tão bem as entrelinha a ponto de industrializar a semântica como insumo explicitamente doutrinado a colher representantes do Judiciário no contrapé da eficiência.

Entretanto, tanto no caso Marco Zero da Vergonha como em outras situações em que foi colocado na marca do pênalti de delitos, o empresário Milton Bigucci jamais recorreu ao Judiciário. Quando os fatos e os documentos não dão espaço à subjetividade, é muito pouco provável que o Judiciário caia na lábia dos defensores de Milton Bigucci.

Um dossiê profundo

Acompanhem na sequência desmembrado em cinco artigos um documento original de 125 mil caracteres que conta toda a história do Marco Zero da Vergonha. É inacreditável que nestes tempos de Lava Jato um caso de escancarada desfaçatez legal resista ao Ministério Público e ao Judiciário. Especialistas ouvidos recentemente pelo Diário do Grande ABC não tiveram dúvidas em aprovar o trabalho deste jornalista. 

Espera-se que, entre as autoridades dispostas a provar que o Brasil está mesmo a caminho de novos tempos, o prefeito Orlando Morando colabore e faça a parte que lhe compete em nome dos interesses dos contribuintes ludibriados. 

Do vereador Julinho Fuzari que, em 2015, anunciou a abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o caso, é melhor não esperar nada. Ele teria se metido no assunto apenas para atingir finalidades que não seriam nada nobres. Leiam, portanto, o dossiê que se segue.  Nada melhor que uma pausa de Carnaval para colocar a responsabilidade social em dia. 

Leiam, portanto, cada capítulo do dossiê: 

Testemunha-bomba está pronta para confirmar fraude da MBigucci ao MP

Marco Zero: fraudadores zombam do MP com estelionato informativo

Marco Zero: qualquer semelhança com Lance Armstrong é realidade

Marco Zero: mais revelações e mais mentiras de Milton Bigucci ao MP

Marco Zero: Bigucci se apresenta ao MP como vítima até de parceiros



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