O aconselhamento para que o prefeito Luiz Marinho lançasse à ribalta o ex-prefeito Mauricio Soares partiu do ex-presidente Lula da Silva, morador ilustre de São Bernardo e maior cabo eleitoral nas eleições municipais em 2008. Gente do Paço Municipal vai negar, porque não se pretende associar Lula a Marinho nem Marinho a Lula de forma explícita, para que não se passe a ideia de que o ex-ministro da Previdência Social está sendo tutelado. Entretanto, a realidade é que uma conversa ao pé de ouvido alterou a estrutura da administração petista a um ano e meio das próximas eleições. Desconfiava-se que uma implosão era iminente.
A perda de controle do Legislativo e as dificuldades para recomposição da maioria governista foram a gota dágua à intervenção de Lula da Silva. Maurício Soares deverá reverter o placar com método nada ortodoxo, especialista que é em compor maioria legislativa.
A sugestão de Lula, que soa como mandamento sagrado após deixar a presidência da República com mais de 80% de aprovação, é que Luiz Marinho tem de costurar acordos a qualquer custo. Como o próprio Lula no governo federal. A história do mensalão foi um exagero das oposições, pelo menos como autoria petista. Desde que inventaram partidos políticos, alguma forma de compensação integra o bolo de negociações à formação de maiorias legislativas e de governabilidade executiva. Há mensalões de múltiplas facetas. E piruetas.
Uma extensa lista de opositores de Maurício Soares anda com a cara amarrada na administração de Luiz Marinho. O ex-petista, ex-pedetista, ex-peeessedebista e mais recentemente novamente petista é tanto colecionador de desafetos internos como industrializador de votos nas ruas.
Advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo nos tempos em que Lula da Silva era ainda pouco conhecido, Maurício Soares goza de relacionamento muito próximo do ex-presidente. Por isso o staff governista em São Bernardo aceitou mesmo que constrangido a reintrodução dos poderes de Maurício Soares. Embora mantenha relacionamentos tensos no ambiente corporativo, porque tem por hábito manter diálogo com a autoridade de principal ocupante do Paço Municipal, Maurício Soares é um camaleão quando se trata de política. Negocia como poucos. Sensibiliza como pouco. Convence como poucos.
Como se explicaria o fenômeno Maurício Soares metade médico, metade monstro? Ninguém decifra tão bem o genoma do novo homem-forte de Luiz
Marinho senão o presidente Lula da Silva.
Para que Maurício Soares possa deixar de lado boa parcela da ranzinzice que os governistas alardeiam nos escaninhos do Paço Municipal, como já o faziam nos tempos em que, depois de renunciar à Prefeitura em favor de William Dib, virou secretário especial, o melhor mesmo é fazê-lo ocupar-se da política no sentido mais amplo do termo. Repassar desafios que fizeram cadáveres de incompetências é a melhor fórmula para Maurício Soares ocupar-se produtivamente.
Além de consertar internamente um governo que ia de mal a pior nas relações institucionais com o Legislativo rebelde de araque ou de fato, Maurício Soares integraliza uma outra ação que atinge em cheio quem anda fazendo doce para caminhar no mesmo sentido de Luiz Marinho às próximas eleições: com ele motivado e embrenhado nas periferias, o cacife eleitoral de Luiz Marinho acabaria por consolidar-se a ponto de reduzir as aparições de Lula da Silva no período de caça aos votos e de amenizar o peso de outras composições, embora não possam ser descartados todos os apoios possíveis.
A memória eleitoral, nestas alturas do campeonato, fala mais alto. Se até hoje o ex-prefeito Tito Costa goza de recall de votos que o mantém sempre próximo do poder municipal, por que Maurício Soares, de imagem e realizações bem mais palpáveis e presentes, seria jogado às traças.
Sabe-se que os adversários de Luiz Marinho receberam com certo desalento a notícia da introdução de Maurício Soares no jogo político mais escancarado de São Bernardo. Eles estariam torcendo e muito para que o esfriamento das relações da cúpula petista seguisse por bom tempo, até, quem sabe, num lance mais ousado, pudessem capturar o apoio eleitoral do ex-prefeito.
Aliás, foi o que Luiz Marinho conseguiu em 2008, numa das operações mais valiosas para chegar ao Paço Municipal. Mauricio Soares andava acabrunhado, principalmente por conta de imprevidências do destino de alguns amigos que acabaram por lhe provocar transtornos, até que a aproximação com Luiz Marinho se deu.
É claro que, desgraça consumada, os opositores petistas agora tratam de disseminar e mesmo amplificar o estilo mal-humorado, rabugento mesmo, de Maurício Soares. Dizem poucas e boas do ex-prefeito, antevendo crises internas que não compensariam evoluções com supostos opositores no Legislativo. Como exageram na dose, passam a ideia da fábula da raposa e das uvas.
Certo mesmo é que Lula da Silva não dá ponto sem nó e cada vez mais, na medida do possível e do necessário, vai amarrar o jegue da intervenção seletiva no poste da cautela administrativa petista. O dogmatismo de porções sindicais petistas irrita Lula da Silva, um conciliador por excelência. Administrar o País durante oito anos, depois de três derrotas seguidas nas disputas presidenciais porque insistiu o PT em ser a única virgem em casa de tolerância, é o cartão de visitas de Lula da Silva ao aparar as arestas.
Maurício Soares só não recorreria à máxima futebolística consagrada por Zagalo porque, diferentemente do então técnico da Seleção Brasileira, prefere não se expor publicamente como agente divisionista. Mas que petistas e aliados pouco afeitos à personalidade de quem jamais gostou de ser mandado vão ter de engoli-lo, não resta dúvida.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ