O noticiário sobre uma estúpida crise na cúpula do governo de Aidan Ravin em Santo André comprova um fato que defendo já há algum tempo, desde que a massificação dos meios de comunicação (que não pode ser confundida com democratização) ganhou impulso com o advento de tecnologias da informação: quem quiser conhecer a realidade dos fatos na região, ou quem quiser ficar mais próximo da realidade dos fatos, não pode depender apenas do Diário do Grande ABC, contrariamente, portanto, aos tempos de um quase asfixiante monopólio da informação impressa que o periódico exerceu na região.
A bem da verdade, o noticiário desta quarta-feira sobre essa bobagem de entrevista coletiva seguida de almoço que o prefeito Aidan Ravin liderou tendo ao lado a vice-prefeita Dinah Zekcer, o mega-secretário Nilson Bonome e o vereador e ex-deputado Israel Zeckcer, não peca pela informação. O problema é de qualidade da informação.
Algo com que se deu bem melhor o jornal Repórter Diário em versão digital. A matéria do Diário do Grande ABC é quase que exclusivamente expositiva, dessas que ficam em cima do muro ou estão longe da costura técnica que exige muito mais que informação, commodity sempre disponível numa entrevista coletiva.
A reportagem do Repórter Diário vai pelo caminho da avaliação das nuances. Uma completa inversão de valores, a julgar o preconceito de que a comunicação digital seria apenas fastfoodiana e a impressa à la carte.
Como os fatos estão aí e já foram exaustivamente publicados, me parece que o mais interessante seria dar um passo à frente. E que passo seria esse? Simples: ao Paço da administração Aidan Ravin que, pelo andar da carruagem, vai ter muitas dores de cabeça para manter-se a salvo de um ataque petista nas próximas eleições, ano que vem.
A disputa pelo poder é o contraponto do próprio poder. E a expectativa de assumir o poder costuma industrializar complicações a quem não consegue articular-se para manter a cidadela a salvo de defecções.
São convulsivas as perspectivas da filiação do mega-secretário e chefe de Gabinete Nilson Bonome ao PMDB do vice-presidente Michel Temer.
Duas ou três semanas antes já se prenunciava o quanto o movimento dessa peça de xadrez que está longe da compreensão da maioria dos mortais incomodava tanto situacionistas quanto oposicionistas.
Denúncias apócrifas contra Nilson Bonome forraram endereços de formadores de opinião e tomadores de decisão de Santo André. Tudo muito bem orquestrado para esterilizar o avanço dessa nova liderança política em Santo André. A ruidosa filiação não se esgotará como formalidade legal. Há muito de estratégia eleitoral na operação, daí o desconforto que provocou. O PMDB de Michel Temer está decididíssimo a garantir a máxima de que é melhor ser vice numa grande quantidade de endereços municipais, estaduais e também no âmbito federal do que ser primeiro em apenas alguns pontos do mapa geopolítico do País.
O agora peemedebista Nilson Bonome virou espécie de gerenciador das ondas de alternativas eleitorais da próxima temporada. Com as limitações naturais de quem não é Deus, evidentemente, mas cujas forças estão muito acima de qualquer outro secretário municipal no Grande ABC.
A troca de cotoveladas entre Nilson Bonome e Dinah Zeckcer nos últimos dias, como desdobramento do efeito irradiador da filiação do mega-secretário ao PMDB, deveria ter sido dissuadida com arte, mas o governo municipal cometeu o deslize de passar recibo com a entrevista coletiva e o almoço num restaurante de Santo André (parece-me que o Baby Beef, local onde todos apreciam ser reconhecidos como parceiros de negócios, de acordos, de reaproximações, de valorização do status, essas coisas), imaginando que contaria com a docilidade da Imprensa.
A interpretação dos fatos e das versões anda tão sufocada nos jornais impressos que não se jogava com a possibilidade de a entrevista coletiva expor constrangimentos relatados principalmente pelo Repórter Diário. Talvez o tiro tenha saído pela culatra, retroalimentando-se idiossincrasias que teriam tornado o relacionamento entre Nilson Bonome e a família Zeckcer menos caloroso.
O que mais me espanta na administração de Aidan Ravin é a facilidade como que se mete publicamente em encrencas e, muito mais ainda, a dificuldade para sair dessas mesmas encrencas.
Contasse com uma Imprensa deliberada e seletivamente hostil a lhe espicaçar a paciência, sei lá o que poderia ocorrer. Se não consegue lidar com os problemas que fabrica numa linha de montagem de improvisações, o que dizer então se houvesse do outro lado do jogo da informação um veículo prontíssimo a lhe criar dificuldades com o ímpeto dos oposicionistas empedernidos?
Raramente se viu na Imprensa em forma de almoço requintado a lavagem pública de roupa suja entre membros de uma mesma administração. Seja lá quem foi o autor da ideia, está claro que faltou combinar com os protagonistas. O Repórter Diário, principalmente, não deixou escapar o incômodo.
Já a versão digital do ABCD Maior foi telegráfica e burocrática, sob o título “Aidan tenta abafar racha entre Dinah e Bonome com almoço”.
Nenhum dos veículos, entretanto, se deu conta de que o almoço foi uma bobagem sem tamanho. Como se o elefante com patas de cavalo de lavagem pública de roupa suja não fosse algo excepcional.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ