Os arquitetos e urbanistas Jordi Borja, da Espanha, e Raquel Rolnik, do Brasil, são os consultores do projeto Eixo Tamanduatehy. Em função de afinidades profissionais e do trânsito que têm com seus pares em vários países, a Prefeitura de Santo André fez o convite para que formassem os grupos responsáveis pelos quatro estudos de redesenho urbano da Avenida dos Estados. Borja, que realizou série de visitas a Santo André no segundo semestre de 1997, afirma que a cidade vive processo de mudança: "A perda da atividade industrial é o principal fenômeno experimentado por Santo André. Junto com isso ocorre também a crise do emprego. O que importa, de agora em diante, é descobrir novas possibilidades. É não ficar lamentando uma situação, mas aproveitar o novo potencial que carrega consigo".
De acordo com o consultor, os trabalhos apresentados pelos grupos partem do fato de a cidade ocupar posição geográfica estratégica na Região Metropolitana. "Santo André abriga importante ligação do Grande ABC com São Paulo e, também, com o principal aeroporto internacional do Estado. O que se pretende com o projeto Eixo Tamanduatehy, no fundo, é conferir dinamismo a uma via que não pode ser apenas uma passagem. Tem de ser um lugar público bonito e bem aproveitado, pois é um equipamento estratégico para o planejamento futuro da cidade" -- afirma.
Formado em Direito, Ciências Políticas, Geografia, Sociologia e Urbanismo, Borja é um dos principais pensadores do planejamento urbano da Europa. Suas atividades incluem aulas, projetos de urbanismo, planejamento estratégico e informações para reforma político-administrativa de cidades. Entre outros, atua em países como França, Itália e Espanha. Na América Latina, o urbanista participa da preparação de planos estratégicos para cidades do Brasil, Colômbia, Argentina, Chile, Venezuela, Uruguai e Paraguai. Também no Brasil, trabalha como assessor para projetos de recuperação de centros históricos de Recife, Salvador, São Paulo e Brasília.
O vínculo de Raquel Rolnik com Jordi Borja e com a questão do Eixo Tamanduatehy teve início quando ela respondeu como diretora do Departamento de Planejamento da Prefeitura de São Paulo entre 1989 e 1992. "Desde aquele período, avaliando e analisando a cidade de São Paulo, ficou muito claro que os vetores Leste e Sudeste (Grande ABC), extremamente importantes para estruturar a metrópole, sempre foram entendidos apenas como lugar do trabalho." Essa situação, na análise da urbanista, é a origem de todos os males da Grande São Paulo: "Em função dessa estrutura, as pessoas ficam obrigadas a deslocamento cotidiano do Leste-Sudeste em relação ao Centro e vice-versa. Quem mora no Grande ABC sabe disso. Ou seja, sabe dos congestionamentos. Além do mais, do ponto de vista da qualidade de vida, a situação é precária, pois constituem-se não-cidades vinculadas a cidades. No fim, tudo fica não-cidades, por causa da deterioração. A explicação é o próprio perfil do Grande ABC, um dos mercados mais potentes da Região Metropolitana. É importante, ainda, o fato de a região abrigar hectares e hectares de áreas subutilizadas ou ociosas. Assim, o potencial de transformação de uso do Eixo Tamanduatehy é imenso" -- afirma.
Raquel é arquiteta, urbanista e filósofa. Seu mestrado, título obtido na USP (Universidade de São Paulo), versa sobre o início da industrialização paulistana e suas consequências. No doutorado, defendido na New York University, Raquel investigou as raízes legais que determinaram a política urbana paulistana no período 1886-1936. A urbanista também é professora e consultora em política habitacional e urbana.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ