A todos que questionam o futuro econômico de São Bernardo do prefeito Luiz Marinho, contraponho algo que me veio à cabeça nestes dias em que o time de futebol atraiu as atenções ao enfrentar o Corinthians numa Vila Euclides lotada e festiva, principalmente na homenagem ao ex-presidente Lula da Silva: basta que o petista eleito há pouco mais de dois anos prepare força-tarefa semelhante a que adotou na formação de uma equipe de futebol competitiva que os resultados aparecerão.
Não só os resultados aparecerão como têm potencial muito superior a aparecer, porque enquanto o futebol de São Bernardo sai das bordas do ranking paulista em busca de um lugarzinho entre os clubes médios, o poderio econômico de São Bernardo lastreado pela indústria automotiva está no topo classificatório do Produto Interno Bruto do País.
São Bernardo está entre os grandes municípios brasileiros em força industrial, mas já foi muito maior e mais importante.
A profissionalização do marketing do São Bernardo é a melhor explicação para o fato de o time que disputa a Série A do Campeonato Paulista alcançar tamanho sucesso popular. O presidente Luiz Fernando Teixeira e companheiros de diretoria são tão empreendedores que estão conseguindo levar milhares de torcedores do São Paulo, do Corinthians, do Palmeiras e do Santos a torcer pelo São Bernardo.
A eles pouco interessa se os torcedores do São Bernardo são de fato torcedores de clubes grandes. Não lhes interessam muito saber se são torcedores de aluguel, de ocasião, de favor, de seja lá o que for. Por enquanto, eles podem ser tudo isso e muito mais, mas trabalham com a perspectiva de que dessa peneirada gigantesca vai sobrar muito torcedor de verdade do São Bernardo.
Um dos segredos desvendados nos últimos dias, quando me meti a tentar compreender as razões que levariam tantas pessoas aos jogos do São Bernardo no Estádio Primeiro de Maio, é que os dirigentes não têm constrangimento algum de dizer que o Tigre é o time da preferência dos torcedores dos times grandes.
O São Bernardo está satisfeito em ser a segunda opção clubística do morador local. Tanto que a camisa utilizada pelo ex-presidente Lula da Silva era metade alvinegra, metade aurinegra. Sintomaticamente, no lado esquerdo do peito estava o distintivo do Corinthians, porque essa é a ordem de importância sentimental esportiva de Lula. Sintomaticamente porque a direção do São Bernardo não trabalha com o sentimento hipócrita de que os torcedores que coalham o Primeiro de Maio perdem mais o sono com o Tigre do que com o Timão, o Verdão, o Peixe ou o Tricolor.
Possivelmente a ficha de humildade representativa do futebol do São Bernardo tenha caído em tempo de permitir ações de marketing que acabarão por beneficiar o Tigre no presente e no futuro.
Possivelmente a ficha da arrogância automotiva de São Bernardo ainda não tenha caído, apesar de todos os diagnósticos em contrário, apesar de todos os números em contrário, apesar de todas as dores do parto em contrário.
São Bernardo precisa profissionalizar-se na gestão pública da economia local, sobretudo na reestruturação das relações com o parque industrial. O distanciamento é notório. O Estádio Primeiro de Maio lotado deveria servir de inspiração. Os empreendedores de pequeno, médio e grande porte precisam ser conquistados para as cores locais. O Poder Público precisa se apresentar preparado para as demandas dos contribuintes. Gerar empregos deveria ser questão improrrogável. Vinte mil postos de trabalho industriais com carteira assinada desaparecem em 16 anos, na contramão de outras regiões do País.
A São Bernardo econômica vem sendo rebaixada aos poucos na classificação do ranking nacional de economia, embora esteja muito distante de frequentar a Segunda Divisão.
A São Bernardo esportiva pode até encontrar dificuldades para se manter na Primeira Divisão do ranking paulista, porque é debutante e como toda debutante o peso da disputa é sempre maior, mas oferece a perspectiva de consolidação de um projeto bem encaixado nos dispositivos de eficiência.
A administração de Luiz Marinho corre o risco de se tornar essencialmente popular, inclusive por conta do futebol, quando a expectativa geral de quem reconhece a importância de São Bernardo é que se fortaleça também como endereço econômico.
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07/03/2025 PREVIDÊNCIA: DIADEMA E SANTO ANDRÉ VÃO MAL