Administração Pública

Morando congelado com
a invasão dos Sem-Teto

DANIEL LIMA - 03/10/2017

O prefeito Orlando Morando tem muito pouco a fazer diante do presente de grego que o MTST lhe preparou ao invadir o terreno da Construtora MZM em dois de setembro. Os limites de um administrador municipal em situações como essa são desconhecidos dos leigos que imaginam poder um prefeito fazer tudo no território que comanda. Aliás, parte dessa cultura de soberania decorre da própria ação de prefeitos loucos por holofotes. Como é o caso de Orlando Morando. 

O problema de Morando é que sua Administração não fez praticamente nada ou absolutamente nada aos olhos gerais como retórica ou mesmo ações em oposição aos invasores e em apoio ao entorno de classe média cujo patrimônio imobiliário e o nível de segurança foram duramente impactados. 

Para alguém que segue a cartilha do prefeito João Doria, ou seja, que faz do marketing administrativo peça essencial para lustrar a imagem de gestor, nada pior.  Gestor inanimado é gestor avariado. 

Vinculação patente

Os esquerdistas estão por trás de tudo. Guilherme Boulos, terrorista urbano que se diz independente de agremiações partidárias, faz de tudo em matéria de retórica explicativa para tentar convencer que os Sem-Teto atuam à distância de políticos supostamente socialistas. Entretanto, o intimismo ideológico é detectado sem dificuldade. Basta ouvir os próprios invasores sem que se identifique como jornalista. E foram eles que decidiram afrouxar o ritmo frenético de aparições midiáticas de Orlando Morando.

É indiscutível que o tucano está em maus lençóis. A mesma e disputadíssima passarela dos movimentos trabalhistas que transmitem à sociedade em geral, principalmente nas telinhas de grande audiência, uma fortaleza de união longe de se comprovar na prática, agora é incorporada pelos Sem-Teto para solapar a imagem de progresso que ainda resta a São Bernardo. A Rodovia Anchieta (sim, essa é a passarela mais esquerdista do País) é uma vitrine de terror quando se mobilizam trabalhadores e, agora, pobres e miseráveis que, não interessa a quantidade e as motivações da invasão, tomam parte de seu traçado.

Desaparecimento do mapa

O mais assustador para quem entendia que Orlando Morando seria o mestre regional da doutrina da imagem tratada como prioridade de marketing administrativo é que o tucano que se pretende candidato a governador do Estado desapareceu do mapa durante 30 dias. Aliás, período semelhante em que a colocação mais que programada de eventual candidatura ao Palácio dos Bandeirantes sofreu forte abalo. Sobretudo com a entrada na briga do mais lustroso Luiz Felipe d’Ávila, genro do milionário Abílio Diniz. 

Quem esperava que Orlando Morando fosse previdente e que, por isso mesmo, tivesse no bolso do colete de reação a circunstâncias inesperadas o que se convencionou chamar de gabinete de crise deu com os burros nagua. A Administração Orlando Morando foi congelada pelos Sem-Teto. Não houve uma medida tática sequer catalogada como contragolpe. 

Saídas existem 

Ouvi ontem de um especialista em marketing de guerrilha, entre outras especificidades na arte de lustrar ou deslustrar imagens de homens públicos, algumas alternativas que poderiam ter sido esgrimidas pelo prefeito Orlando Morando. Nenhuma das sugestões poderia ser considerada ineficaz. Mais que isso: a adoção de apenas uma das propostas, não mais que isso, restauraria a força midiática de Orlando Morando de modo a que não se observasse, como se observa ao longo do período de ocupação, uma paralisia alarmante.

Não posso identificar o interlocutor e muito menos citar uma só das medidas reativas que poderiam ser acionada pelos mecanismos de defesa do prefeito de São Bernardo. Uma conversa particular, privada, não ganha o terreno de assessoria político-administrativa. Provoquei o diálogo com o especialista ao dizer que já há mais de uma dezena de dias pretendia escrever sobre a invasão em São Bernardo e o encalacramento do prefeito. 

Pau vai cantar? 

Talvez seja tarde demais para Orlando Morando recuperar parte dos estragos que os Sem-Teto lhe impingiram. O que vai fazer agora que o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a reintegração de posse decidida em primeira instância? 

A previsão de que o pau pode quebrar não é apocalíptica quando se sabe que possivelmente o terreno da MZM seja a batalha da ponte do movimento invasor como expressão de elasticidade dos limites de tolerância contra uma das faces da desigualdade social. 

Essa conclusão especulativa não reúne juízo de valor deste jornalista no sentido de que os Sem-Teto devem mesmo ocupar espaços privados. Até porque o que temos nesse caso é um abuso contra o direito de propriedade. O conceito da frase é no sentido de que se criou um ambiente de conquista que extrapola os próprios limites daquele espaço físico. Quando gente famosa da TV se junta num vídeo para defender invasores, e esse vídeo espalha-se pelas redes sociais, provavelmente não temos no mercado de contestações uma situação facilmente controlável. 

Por enquanto o que temos como avaliação do comportamento de Orlando Morando é um somatório (ou multiplicatório, na linguagem de Odorico Paraguaçu) é que São Bernardo conta com um prefeito impetuoso quando o que está em jogo são questões que flertam com a superficialidade social ou econômica. Quando o bicho pega para valer, como os invasores Sem-Teto sugerem, Orlando Morando esconde-se debaixo da saia da legalidade que, nestas alturas do campeonato, goste-se ou não, não é tudo que está em discussão. 

Esperava-se mais do prefeito. Os guerrilheiros urbanos comandados por Guilherme Boulos estão ganhando de goleada. E, convenhamos, é isso que mais interessa aos petistas de São Bernardo, escorraçados pelas urnas nas ondas da Operação Lava Jato. 



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