Administração Pública

Ailton Lima é o novo falastrão
da economia de Santo André

DANIEL LIMA - 19/10/2017

O candidato a deputado Ailton Lima está em plena campanha. O cargo de Secretário de Desenvolvimento Econômico é uma pinguela conquistada em negociações com o então finalista Paulinho Serra, vencedor da disputa à Prefeitura em outubro do ano passado. Vereador em mais de uma legislatura, pequeno empresário do setor gráfico, Ailton Lima faz das tripas coração para vender uma Santo André que não existe. Ou existe em algumas ramificações que não são exatamente o sonho dourado que o candidato vende. 

Ailton Lima é mais um nome que se junta à lista de fracassos na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Município que mais se desindustrializou nos últimos 30 anos do século passado. Uma desindustrialização amenizada neste novo século, mas que está longe de aparar as arestas dos estragos acumulados. 

O atestado de óbito de discernimento intelectual de um agente público enxergar Santo André sem mistificações está simbolizado na velharia, quando não no sucateamento, da Avenida dos Estados. Aquela área que não se limita à avenida propriamente dita, mas se expande para os arredores, é um caso praticamente perdido como veio reformador da estrutura econômica de Santo André. 

Ailton Lima, analfabeto econômico no sentido mais abrangente da expressão, disse exatamente o inverso sobre a Avenida dos Estados em entrevista à versão televisiva do jornal Repórter Diário. Seu discurso teria lugar nos anos 1950, época de fertilidade industrial de Santo André. Ailton Lima está deslocado completamente da realidade. 

Ailton Lima me convidou (sem citar meu nome, claro, porque lhe falta coragem ou caráter) para uma briga de conceitos que aceito plenamente. Tanto que escrevo este artigo. Se depender da Avenida dos Estados, Santo André estará perdido como Município em busca da recuperação ou mesmo da reestruturação econômica. 

Estrangulamento logístico 

Como já escrevi em outros artigos, a inviabilidade logística, atributo chave de qualquer equação de competitividade, trava qualquer investimento mais audacioso na Avenida dos Estados, sobremodo no trecho de Santo André. Até mesmo investimentos mais modestos precisam ser relativizados.  Sempre considerando o setor produtivo. Não faltam alternativas mais seguras e rentáveis na região, embora, em menor proporção, complexas e desanimadoras aos investimentos de finalidade concorrencial mais rigorosa. 

Ailton Lima, nas limitações econômicas que o caracteriza, não percebeu ainda a lógica da demanda por espaço físico em Santo André e em qualquer outro território. Quando afirma que nos arredores da Avenida dos Estados não faltam terrenos apropriados ao setor produtivo, como disse na entrevista ao Repórter Diário, ele não percebe, porque não é do ramo e só pensa em votos, que o fenômeno não é gratuito. É consequência da evasão das empresas industriais que ali se instalaram (sobre as quais se referiu na sequência da entrevista, mas sem enxergar o principal) a partir de meados do século passado e se escafederam quando, entre outros motivos, a Avenida dos Estados perdeu relevância para a mobilidade urbana que, em seguida, também entrou em colapso.  

Ailton Lima é, como tantos outros secretários de Desenvolvimento Econômico que passaram por Santo André neste século, e no século passado também, um candidato a vender ilusões. Como não faltam incautos, inclusive na Imprensa, acabará ganhando credibilidade. A Avenida dos Estados foi apenas um dos pontos negros da oratória de político profissional que parecia embevecer os entrevistadores igualmente pouco afeitos aos segredos da economia.

Repetindo fantasias 

O entusiasmo com que Ailton Lima se manifestou sobre anunciados e consumados investimentos comerciais em Santo André (atacarejos e supermercados predominantemente), situação que parecia igualmente encantar os entrevistadores, mostra o repeteco de uma situação que imaginava já ter sido superada na Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC. 

Mesmo que tenha dito posteriormente que “investimentos industriais também são importantes”, Ailton Lima não deixou esconder a mensagem que vai levar ao eleitorado que pretende amealhar para virar deputado e, em seguida, lançar-se como opositor de Paulinho Serra nas eleições municipais. Ou negociar novo acordo para apoiar o tucano e ganhar prioridade a, após eventual segundo mandato do tucano, ser, finalmente ungido à Prefeitura. É assim que funciona a cadeia de produção de votos e cargos. 

Alguém precisa assoprar aos ouvidos de Ailton Lima (já que ele parece desconhecer o acervo desta revista digital) que investimentos comerciais em Santo André e nos demais municípios da região seguem a doutrina da densidade demográfica e também do potencial de consumo construído ao longo de décadas. 

Mais que isso: esses alardeados negócios não agregam valor aos municípios no sentido mais amplo da expressão, porque não geram riquezas. E geram consumo não por obra do espírito santo mas, sobretudo, ao canibalizarem pequenos negócios familiares, sacrificadíssimos pelo marketing das grandes redes do setor. 

Produção, produção

O que assegura desenvolvimento econômico numa região dependente demais do próprio setor é a atividade industrial. Até porque os serviços são em regra de baixíssima qualificação. 

Portanto, o foguetório com nova leva de empreendimentos comerciais é a prova provada do quanto políticos metidos em cargos de relevo em Desenvolvimento Econômico precisariam fazer cursos mobralinos que os impedissem de dar declarações em desacordo com a realidade econômica e social da região. 

Também não passaram despercebidas as frases do secretário Ailton Lima sobre o atendimento vip proporcionado principalmente aos representantes do setor imobiliário de Santo André. Nada que não se explique ao se considerar o entorno extracampo administrativo que lhe dá sustentação rumo à disputa eleitoral. 

Ailton Lima não está por acaso numa secretaria que abarca o mercado imobiliário, fonte mais que suspeita, suspeitíssima, de financiamento irregular de campanhas eleitorais. O escândalo do Semasa, praticamente congelado em termos judiciais, está aí como prova provada. 

Fora do tempo 

Também o secretário que ganhou de presente um naco da Administração Paulinho Serra porque vendeu no segundo turno a ideia de que sem os votos que amealhou no primeiro turno o tucano não seria vencedor repetiu velhos bordões mais que ultrapassados em sustentabilidade econômica, porque desconsidera o contexto, entre outras variáveis. 

Refiro-me ao desfile de clichês batidos de que Santo André tem posição logística privilegiada em relação a portos, aeroportos e tantos outros equipamentos estratégicos (o que não passa de tremenda bobagem), além de aspectos educacionais. Chegou a enaltecer a inútil (regionalmente) Universidade Federal do Grande ABC. 

Já que me chamou para a briga (mesmo, repito, sem coragem de nominar este jornalista) e para que tudo seja decidido de forma democrática, que marque hora, lugar e tudo o mais para um debate público. Vou lhe dar uma surra inesquecível, porque de economia, infelizmente, como a maioria de seus antecessores, igualmente patéticos, Ailton Lima não entende bulhufas. 

Aceito, inclusive, que o debate seja num dos endereços do rebanho religioso que dá respaldo ao secretário. Rebanho, aliás, bastante contemplado na estrutura funcional da secretaria sem que se tenham informações seguras de que o grupo reúna gente que entenda do riscado. Nada diferente, aliás, do próprio secretário. 



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