Administração Pública

Indústria automotiva é espeto de
pau da administração Luiz Marinho

DANIEL LIMA - 02/02/2011

O espeto de pau da casa de ferreiro administrativa de Luiz Marinho é o setor automotivo. O prefeito eleito em outubro de 2008 para comandar São Bernardo por quatro anos está deixando escapar excepcional oportunidade para colocar nos eixos o coração econômico do Grande ABC, a indústria formada por montadoras e autopeças. Coincidentemente, o setor que o embalou ao estrelato sindical, partidário e político.


Enquanto perde tempo ao tentar apagar focos de incêndios no varejo que a mídia comprometida apenas com o dia seguinte lança com fôlego a cada jornada, escapa pelos vãos do dedo da previdência estratégica da gestão petista uma empreitada de fôlego, caso do planejamento estruturado para preparar o setor automotivo ao futuro.


Não fossem os opositores petistas pouco habilitados para sustentar um plano de ataque de modo a retirar o governo Luiz Marinho do foco mais nobre de políticas públicas, diria que o prefeito de São Bernardo tem caído numa cilada.


A imersão principalmente nas periferias de São Bernardo, acompanhando obras corriqueiras, pode render a Luiz Marinho prestígio nas comunidades atendidas. Mas não será a resposta adequada de alguém que pretende alçar voos mais altos, caso do governo do Estado.


Luiz Marinho é um prefeito operário, quando, sem sacrificar a essência popular de governo, poderia cristalizar a imagem de prefeito engenheiro.


Luiz Marinho é um prefeito sem uma marca que traduza num piscar de olhos os dois anos de administração petista em São Bernardo.


Essa avaliação não estabelece juízo de valor à atuação técnico-gerencial de Luiz Marinho. Apenas é uma constatação que deveria mobilizar a cúpula petista de São Bernardo.


Celso Daniel foi um prefeito engenheiro o tempo todo. Idealizou uma Santo André e um Grande ABC que não saltaram para a realidade porque outros chefes de Executivos e outros protagonistas regionais sabotaram plano de regionalidade, mas o significado de propostas demarcou um portentoso farol às mudanças de que tanto a região carece.


Celso Daniel conseguiu pautar um futuro que nunca chega mas que sempre é um pedaço de esperança de dias melhores, enquanto Luiz Marinho deixou-se pautar por um passado que insiste em fazer-se presente.


Aquilo que deveria ser prioridade das prioridades, tornou-se apêndice na gestão de Luiz Marinho. Não fosse o crescimento por osmose ditado pela política econômica do governo Lula da Silva, sobremodo durante a crise internacional de 2008, a capital econômica do Grande ABC teria conhecido mais um período de complicações.


O desaparecimento de 20 mil empregos industriais em São Bernardo nos 16 anos pós-Plano Real revela o tamanho da encrenca.


Mais que estagnação, o setor industrial de São Bernardo regrediu em geração de mão-de-obra. Mais de dois terços dos empregos industriais com carteira assinada que desapareceram do Grande ABC nesse período têm como endereços empresas de São Bernardo. O aumento da produção e do Valor Adicionado por força de investimentos tecnológicos, em processos e em treinamentos, compensa apenas financeiramente a quebra de recursos humanos que, em última instância, são consumidores.


Uma das formas de desindustrialização é o crescimento do Valor Adicionado à custa de menos empresas e menos empregos. Somente acadêmicos mal-preparados acreditam que desindustrialização é heresia mesmo com crescimento do Valor Adicionado. Somente economistas sem alma (teriam alma os economistas?) dissociam esses vetores.


Movida a financiamento dos usuários de veículos a perder de vista, a indústria automotiva do Grande ABC está longe de uma estabilidade duradoura se medidas não forem tomadas. Os chineses estão chegando cada vez mais perto e outros centros automotivos se projetam no mapa nacional. Cada veículo produzido fora da geografia regional é uma estocada em nosso futuro. Hoje não representamos mais que 20% da produção nacional. A tendência é de aprofundamento do buraco.


Nenhum outro chefe de Executivo que passou por São Bernardo tem tanta obrigação moral quanto Luiz Marinho para inocular no setor automotivo um plano de desenvolvimento econômico sustentável. Infelizmente, não é o que se observa.


Exceto se tudo estiver sendo mantido sob sete chaves, o que no mínimo seria uma aberração em termos gerenciais, São Bernardo está parada no tempo, a observar lances nacionais e internacionais. Se São Bernardo está assim, o restante do Grande ABC, que depende fortemente do setor automotivo, o que estaria respirando?


Por mais que venha a fazer e por tudo que faça como gestor de São Bernardo, Luiz Marinho deixará a Prefeitura em quatro ou oito anos como alguém que teve a oportunidade e a possibilidade de reduzir o grau de risco de um veranista ameaçado por ondas gigantes, mas preferiu apenas observar. O passado de sindicalista que lutou o tempo todo por avanços corporativos torna obrigatória uma plataforma de organização do setor automotivo da região a partir de São Bernardo e sob as demandas de uma competição internacional pesadíssima.


Possivelmente engolfado por contratempos de varejo, já que se transformou num Executivo com queda à operário, como se o passado o condenasse a deixar de lado uma inclinação mais gerencial, Luiz Marinho trata com certo enfado o setor automotivo.


Há mil maneiras de meter a mão nessa cumbuca sem precisar indispor-se com setores sindicais dos quais participou e muito menos afugentar investidores privados. Muito pelo contrário: uma força-tarefa que reunisse assessores públicos e colaboradores de várias esferas da sociedade, inclusive representantes de montadoras e autopeças, colocaria o setor automotivo do Grande ABC numa ampla estrada de definições.


A política administrativa da Prefeitura de São Bernardo voltada ao desenvolvimento econômico está muito aquém da importância estratégica do Município no Grande ABC, independentemente de contar com um ainda importante setor automotivo. Quando se leva esse ponto em consideração, o que temos é uma inacreditável sensação de paralisia.


A movimentação em torno da criação de um polo aeronáutico em São Bernardo só aumenta a responsabilidade do governo municipal na área econômica. Tratar o que não se tem com peso desproporcionalmente muito maior em relação ao que se tem é apostar em um passarinho que voa e esquecer o passarinho na mão.


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