Até que enfim o prefeito Aidan Ravin saiu do atoleiro da inapetência administrativa crônica e de populismo político retaliador: o anúncio de que, em convênio com o governo do Estado, construirá o Poupatempo de Santo André exatamente no centro velho da cidade, junto ao terminal rodoviário e ao terminal ferroviário, é um gol de placa. Que saia do papel, portanto, essa iniciativa que tem em São Bernardo modelo de parceria entre Prefeitura e governo do Estado.
Muito mais importante que a forma de pagamento bastante criativa da área que a Rhodia Química ocupou por muito tempo é a geografia daqueles quase nove mil metros quadrados de abandono industrial.
As ramificações das vantagens logísticas da obra são imensas tanto em assistência pública quanto em impacto político.
Agora já se pode dizer que Aidan Ravin assumiu para valer a Prefeitura de Santo André. Situação que o obriga a fazer mais, muito mais, em favor do Município que durante 30 anos, até meados da década passada, mais perdeu riqueza no País.
É claro que por trás da comemoração dos aliados do prefeito de Santo André à escolha de uma área que está na cara do gol do fluxo popular transparece mais uma prova da realidade econômica local: a Rhodia Química desativada por conta da descentralização da produção numa região encalacrada na Grande São Paulo e de custos de mão-de-obra sempre mais salgados, é mais uma lembrança do passado industrial de Santo André.
Ainda não chegou a hora de cassar e de atualizar a estrofe do hino oficial que remete Santo André ao viveiro industrial do Grande ABC. Possivelmente nem chegará esse dia porque é provável que a atividade não cessará de vez por aqui. Mas que há certa dose de masoquismo cívico nas cerimônias oficiais quando se exaltam antigas musculaturas produtivas locais, não tenham dúvida. Quando o hino foi concebido o Brasil se preparava para disputar e perder a Copa do Mundo para o Uruguai, em pleno Maracanã, e Santo André exalava fuligem.
Entretanto, como não se deve viver de lembranças, apenas de lembranças, e tampouco chorar o leito derramado, porque derramado está, o melhor mesmo é juntar-se aos festejos do anúncio da obra que colocará Santo André no roteiro dessa benfeitoria de serviços públicos que obedecem ao conceito de shopping center, de insumos complementares.
A localização do Poupatempo de Santo André comprova a sensibilidade do prefeito Aidan Ravin às questões populares. Por isso, quem cair na besteira de subestimar o apetite pessoal que ele tem por estratos de classes desprotegidas como alavanca eleitoral pode se dar mal mais uma vez. Não é a toa, aliás, que, vereador de primeiro mandato com votos concentrados na Vila Luzita, Aidan Ravin expandiu raio de ação e chegou ao Paço Municipal na primeira tentativa eleitoral.
É claro que não foi obra do acaso nem puramente por conta do carisma que Aidan Ravin virou prefeito em Santo André. Uma conjunção de forças políticas, financeiras e midiáticas concentrou-se na derrubada petista, mas sem as qualidades pessoais que o faria um grande animador de auditório nada disso seria possível.
Embora o Diário do Grande ABC não tenha sido específico no noticiário de hoje sobre a localização da unidade da Rhodia que cederá espaço ao Poupatempo, fui à cata de informação e introduzi o adendo da atividade química depois de ouvir algumas fontes. Não há outra ramificação desativada da multinacional francesa naquela região de Santo André senão as antigas instalações da Rhodia Química.
Aliás, estive naquela planta há pouco mais de uma década, quando entrevistei a então responsável pela fábrica e fiz um passeio pela área. Lembro-me que mencionei o fato de que quase duas dezenas de galpões industriais já haviam sido derrubados em sincronia com a desativação de várias linhas de produtos e também com a necessidade de reduzir a carga do IPTU, maior para quem mantém estrutura física.
Como o Diário do Grande ABC já se antecipou em ouvir especialistas que não observam irregularidade alguma no pagamento com desconto de IPTU de outras áreas ocupadas por aquela corporação, possivelmente nenhum problema existirá para que o Poupatempo apareça mesmo naquele pedaço de Santo André a que poucos dão o trabalho de enxergar, espremido entre um viaduto, uma estrada de ferro e também nas proximidades de uma rotatória da disputadíssima Avenida dos Estados.
Mas a área está ali sim, prontíssima para ser ocupada de forma muito mais útil e com facilidades de transporte público que poderiam ter sido lembradas para priorizar um outro investimento público mais popular que o próprio Poupatempo.
Afinal, perguntaria o leitor, o que poderia ser construído naquelas proximidades 40 anos antes que pudesse despertar tanto interesse popular e que, com isso, transformasse o prefeito de então em um mestre na arte de alcançar o âmago da população? O Estádio Bruno Daniel, eis a resposta.
Não faltavam áreas nas proximidades da Estação Ferroviária para aquela empreitada no final dos anos 1960. O Parque Regional da Criança está ali, pegado à sede do Esporte Clube Santo André, que, à época, não passava de imenso terreno. O deslocamento do eixo de atratividade do futebol da cidade para a então distante Vila Pires, longe do centro de gravidade do sistema de transporte público, ajudou a afetar o nível de popularização do futebol profissional da cidade.
O então prefeito Fioravante Zampol, saído da elite social de Santo André, não teve o vislumbre que o médico Aidan Ravin, rastreador de camadas mais pobres, alcançou na empreitada do Poupatempo. À falta de um estádio de futebol mais próximo de todos os pontos da cidade, Santo André acerta em cheio com o Poupatempo de serviços públicos.
Quem sabe o chefe do Executivo tenha aprendido, quase dois anos após tomar posse, que a retaliação aos antecessores petistas, na forma de procurar destruir legados urbanísticos de Celso Daniel, entre outras ações que o levaram a um confronto desnecessário, não deveria constar do álbum de figurinhas de um bom colecionador de decisões.
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07/03/2025 PREVIDÊNCIA: DIADEMA E SANTO ANDRÉ VÃO MAL