Administração Pública

O que Morando fez para ser
festejado pelo Diário? Pouco

DANIEL LIMA - 13/04/2018

Marqueteiro de linhagem gataborralheiresca do até outro dia prefeito João Doria, o também tucano Orlando Morando fez pouco ou quase nada durante o período de ocupação do terreno da Construtora MZM em São Bernardo pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Então, pergunto com a candura dos inocentes: por que o Diário do Grande ABC, nas páginas de hoje, o coloca discretamente como herói regional ao não ter cedido à demanda dos comandados de Guilherme Boulos? 

O que Orlando Morando não aceitou de um lado não o isenta da fragilidade humanística. Ele tratou burocraticamente uma grande oportunidade que se lhe ofereceu pelo suposto inimigo ideológico para um contragolpe de ações produtivas, independente dos limites jurídico-legais. Não fosse o marketing de Orlando Morando manquitola, porque só pensa naquilo, nos votos de amanhã, tudo seria diferente. O déficit de quase 100 mil moradias em São Bernardo poderia gerar programação pedagógica que, no fundo, marcaria a posição da administração tucana frente ao desafio que vem do passado de desigualdade econômica e social lubrificada sobretudo por relações trabalhistas seletivas. 

O Diário não resiste à tentação de prestigiar generosamente os administradores públicos que lhe prestam continência. E tampouco, como tem sido a cada dia, de requerer aplausos daqueles que, merecidamente ou não, escolheu como destaques na Lista dos 60 anos de fundação do jornal. 

Não mais que figurante 

Estou à vontade para escrever sobre o papel de figurante do prefeito Orlando Morando no caso da invasão do terreno no Bairro Assunção. No único texto em que me meti no assunto, de três de outubro do ano passado, escrevi literalmente: “O prefeito Orlando Morando tem muito pouco a fazer diante do presente de grego que o MTST lhe preparou ao invadir (...). Os limites de um administrador municipal em situação como essa são desconhecidos dos leigos que imaginam poder um prefeito fazer tudo no território que comanda. Aliás, parte dessa cultura de soberania decorre da própria ação de prefeitos loucos por holofotes. Como é o caso de Orlando Morando. O problema de Morando é que sua Administração não fez praticamente nada ou absolutamente nada aos olhos gerais como retórica ou mesmo ações em oposição aos invasores e em apoio ao entorno de classe média cujo patrimônio imobiliário e o nível de segurança foram duramente impactados. Para alguém que segue a cartilha do prefeito João Doria, ou seja, que faz do marketing administrativo peça essencial para lustrar a imagem de gestor, nada pior. Gestor inanimado é gestor avariado”.

Longe do noticiário 

Recorri ao texto de outubro do ano passado (repassado aqui apenas em um dos aspectos da abordagem) para reiterar a baixa margem de manobra de um administrador público diante do que lhe foi imposto por demandas sociais mescladas de interesses político-eleitorais. Além disso, também para reforçar que, louco por mídia, Orlando Morando praticamente desapareceu do noticiário sobre a invasão do terreno. 

Um transtorno que está longe do conceito retaliador de “Paulistinha” do presidente palmeirense. Nesse caso, o “Paulistinha” de Guilherme Boulos seria uma suposta discriminação de classe. Basta ver o quanto aqueles moradores comemoram a desocupação determinada pela Justiça.  O direito à moradia dos sem-teto não pode excluir o direito à moradia com segurança dos com-teto que comprometeram anos de orçamento doméstico na aquisição de imóveis potencialmente depreciáveis. 

Orlando Morando desapareceu porque não tomou nenhuma iniciativa que equilibrasse os direitos à propriedade privada e a sensibilidade às demandas por habitação – por mais que Guilherme Boulos seja manipulador. Mas, mesmo assim, convenhamos, ninguém vai me convencer de que entre milhares de famílias que ocuparam a área, não haveria uma maioria realmente à margem da sociedade.

Editorial do Diário 

Vou insistir no aspecto marquetológico do prefeito Orlando Morando porque essa é uma peça essencial de uma Administração que caminha para algo nada muito diferente dos antecessores, ou seja, de uma mesmice irritante mesclada de panfletagens de cunho eleitoral. 

A pergunta que faço é simples e direta, à qual o prefeito deveria responder: “O que fez para valer não só para que se retirassem os invasores do terreno como, também, para abrir a selva de questões habitacionais de São Bernardo, que coincidentemente no tempo, virou escândalo ao envolver um secretário municipal e assessores em negociatas reveladas por força policial? 

Para que não digam que estou a ver fantasmas, reproduzo um trecho do Editorial do Diário do Grande ABC de hoje sobre a retirada dos invasores do terreno. “Explorando a boa-fé de milhares de pessoas, que possuem o sonho legítimo da casa própria, Boulos se sentia como comandante de exército. A ideia original era tomar terreno do proprietário legal e pressionar o poder público a desapropriá-lo para construção de moradias, que seriam destinadas aos invasores. A ilegalidade, todavia, esbarrou na resistência municipal, encabeçada pelo prefeito são-bernardense Orlando Morando (PSDB). 

Moradores reagiram 

O jornal exagera entre outras razões porque a resistência central, organizada, planejada e executada, no campo de batalha, foi dos moradores dos condomínios próximos, impactados duplamente, tanto com a desvalorização dos imóveis ante uma vizinhança incômoda como na Segurança Pública. 

Tanto é verdade que até se criou o MCI (Movimento Contra a Invasão), cujos alguns integrantes revelaram confidencialmente a interlocutores confiáveis que a atuação da Administração Municipal flutuou entre o desinteresse prático e o interesse político sem riscos. Ou seja: a gestão de Orlando Morando se manteve distante da possibilidade de ter de meter a mão na cumbuca de resoluções às quais não estaria preparada e procurou se aproximar da base dos moradores legais com assessores de baixo escalão para monitorar os acontecimentos e eventualmente usufruir de resultados positivos, como o que se deu agora. 

Convém lembrar que não apenas o Diário do Grande ABC como outros jornais e revistas sazonais da região derretem-se diante de supostas intervenções da Administração de Orlando Morando. Tudo faz parte do show. Assim, o foi com furos nágua como a Casa do Grande ABC, com várias ações frustrantes do Clube dos Prefeitos do qual o prefeito de São Bernardo é prefeito dos prefeitos, da ação contra concessionárias de rodovias que cruzam a região e de muito mais casos que não resistiriam a uma consulta mais detalhada aos meus arquivos. 



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