Não se deve esperar muito do debilitado turismo do Grande ABC quando o assunto é a histórica Vila de Paranapiacaba. Se falta institucionalidade para cuidar do presente, o que dizer do passado? Não fosse assim, o palco onde Pelé fez o primeiro gol de mais de 1.300 não teria virado conjunto de piscinas do Corinthinha de Vila Alzira, em Santo André.
Pior que perder aquela que seria uma das maiores atrações turísticas da Grande São Paulo foi o silêncio que se seguiu à destruição. Praticamente ninguém se deu conta do crime. Essa é apenas uma das muitas barbaridades já cometidas ao sabor de interesses sem parentesco com cidadania.
O noticiário daquela vila construída por ingleses no Século 19 desnuda o quadro e apresenta contradições e interesses nem sempre mensuráveis.
O Diário do Grande ABC de sexta-feira passada deu nova prova de que não tem planejamento editorial. Tanto que levou à manchete principal de primeira página matéria semelhante a que publicara em março último, anunciando que o trem turístico para Paranapiacaba começará a circular em julho próximo. Nenhuma novidade substantiva sustentou o destaque editorial. Possivelmente foi suspensa a reunião de final de tarde para o último diagnóstico do que os leitores vão ler no dia seguinte. Ou está faltando Fosfosol na redação.
Apenas para os leitores terem avaliação mais precisa do tratamento da imprensa à Vila de Paranapiacaba, busco nos arquivos físicos (e também em arquivos digitais) algumas manchetes que provavelmente explicam mais que qualquer comentário a dança de informações.
Diário do Grande ABC de 11 de março de 2008: “Paranapiacaba: prédio histórico em ruínas”.
Diário do Grande ABC de 28 de junho de 2008: “Trem turístico para Paranapiacaba entra em circulação este ano”.
Repararam os leitores que a Vila de Paranapiacaba é um prato cheio para uma matéria completa, que, em vez de voo panorâmico ou mesmo voo específico sobre determinado temário, comporta voo rasante sobre várias nuances?
É nessa hora que falta mesmo o trabalho de reportagem de campo, em vez do telefonema de sempre para fontes de sempre.
Nota-se pelo noticiário pinçado quase que a toque de caixa que a abordagem de Paranapiacaba depende do veículo de comunicação. Quanto mais distante dos tentáculos do Paço Municipal de Santo André, mais possibilidades de inserir-se num padrão crítico do qual a Imprensa jamais deveria abrir mão.
A matéria que o Diário do Grande ABC publicou (seria mais correto dizer republicou) na última sexta-feira não faz qualquer menção às condições urbanísticas da Vila de Paranapiacaba, às quais tanto O Estado de S. Paulo quanto o ABCD Maior denunciam, conforme as manchetes mencionadas neste artigo.
A toada noticiosa também não guarda compromisso com um puxão de orelhas nos responsáveis pelo contínuo esticamento do cronograma de ativação do chamado trem turístico. Mais que isso: a notícia carrega nas cores de um entusiasmo mal-disfarçado com a administração de Aidan Ravin, porque leva na garupa da mesmice cronológica uma carga de preocupação do prefeito com a infraestrutura local para dar atendimento aos turistas que desembarcarem na estação em reforma.
Ou deveria ser observado por ângulo diferente o seguinte título, de manchete principal de primeira página de sexta-feira passada: “Santo André inaugura em julho trem turístico”. Na linha fina, complementar ao título, lê-se: “Para receber a linha, estação de Paranapiacaba está em obras”. Dá-se pouco destaque à projeção de que inicialmente só haverá viagens de 15 em 15 dias, com embarque na Estação da Luz, na Capital.
No alto da página interna que abre o caderno SeteCidades, o título é digno de foguetório: “Paranapiacaba: obras já começaram”. A linha fina: “Linha turística e estação ferroviária devem ficar prontas antes do Festival de Inverno”. Não há qualquer menção no corpo da matéria ao atraso de dois anos à implantação do trem turístico, anunciado para meados de 2008. E, com base numa monitora, procura-se passar que a infraestrutura está prontíssima para o Festival do Inverno, contrariando o noticiário do final de fevereiro do jornal ABCD Maior.
Fico com a versão do ABCD Maior, que ouviu o presidente da Associação dos Empreendedores de Alimentação, Hospedaria e Serviços de Paranapiacaba. Ele disse que o movimento comercial na Vila caiu 91,6% em relação a 2008. O movimento chegava a seis mil pessoas, contra 500 visitantes no último semestre do ano passado.
A reportagem do ABCD Maior esteve em Paranapiacaba numa sexta-feira. Foi registrado que moradores locais enviaram à administração municipal um manifesto de pedido de socorro no qual listaram 19 itens. Está na hora de atualizar o noticiário.
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07/03/2025 PREVIDÊNCIA: DIADEMA E SANTO ANDRÉ VÃO MAL