Política

Falta uma bancada que vista
para valer a camisa da região

DANIEL LIMA - 27/07/2018

Jamais a região contou com a badaladíssima Bancada do ABC no campo político. Fizeram muito proselitismo sobre isso, sobretudo porque o oportunismo estava acima de tudo, mas, na prática, para valer mesmo, jamais os candidatos que se tornaram deputados vestiram a camisa da região livres de intrigas pessoais e partidárias. 

Por isso, precisaríamos mesmo de uma bancada regional, independentemente do endereço eleitoral dos integrantes. Isso mesmo: independentemente do endereço eleitoral. Até um Tiririca da vida, tão citado esses dias como exemplo de não-voto regional, poderia constar da lista. Bastaria que fizesse o que sugerimos há 16 anos. O que sugerimos?

Talvez tenha sido muito antes daquele texto que assinei na revista LivreMercado em agosto de 2002 (ou teria sido na newsletter CapitalSocial Online?), mas o fato é que o título dizia tudo, ou quase tudo: “Vote num Grande ABC de compromissos assinados”.

É isso: pouco interessa quem receberia os votos de eleitos da região, desde que representasse de alguma forma os anseios e as necessidades da região. Deu para entender ou preciso desenhar?  

Pauta a ser cumprida

Se é preciso desenhar, volto àquele texto de mais de uma década e meia. Escrevi o seguinte: “O ideal mesmo, caso fôssemos República do ABC (no bom sentido da expressão, esculhambada na sequência histórica) capaz de honrar um regionalismo que só existe em expressões publicitárias ou em devaneios político-eleitorais, é que essa iniciativa tivesse outra roupagem: uma pauta escrita a várias mãos seria assinada num evento específico por todos os candidatos que pretendessem acrescentar à campanha o aval da logomarca da instituição promotora da iniciativa. Mesmo aqueles que eventualmente não pudessem comparecer ao encontro receberiam para pronta devolução assinada. Compromisso firmado, a assinatura teria efeito bumerangue quatro anos depois se o candidato eleito não tivesse superada os critérios de avaliação da instituição formuladora da iniciativa”. 

Quando nesta semana que está terminando escrevi a respeito da nova iniciativa de votos direcionados aos candidatos da região à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal, nem me lembrava do que produzira 16 anos atrás. E tenho certeza que antes mesmo disso, ou seja, antes de agosto de 2002, devo ter-me manifestado no sentido mais abrangente e nada provinciano do voto nos candidatos da região. 

Fórmula desgastada 

Vejam, portanto, os leitores o quanto regredimos. A fórmula está mais que desgastada após uso intensivo em 1994, quando se elegeram cinco deputados federais e oito estaduais sem que, na sequência, tivéssemos alguma produtividade resolutiva. 

A primeira versão, que resultou na criação do Fórum da Cidadania do Grande ABC, teve como mote de sensibilização o “Vote no Grande ABC”. 

Em seguida, em 1998, procurou-se de alguma forma corrigir a generalização regional com “Vote com Qualidade no Grande ABC”. Deu uma melhorada, é verdade, mas a qualificação do voto era subjetiva demais. 

Daí ter proposto, na sequência histórica, o voto vinculado a uma pauta de medidas indispensáveis à recuperação sobretudo econômica da região. 

Ainda naquele texto de agosto de 2002, “de compromissos assinados”, sugeri a criação ou a definição de uma instituição não-governamental capaz de diagnosticar, planejar e formular pauta conectada com as necessidades locais e, com independência sobre os desígnios legislativos de nossos eleitos, cobrar-lhes respostas permanentes e públicas. É claro que, infelizmente, na quadra atual de desmonte da cidadania regional, além de municipal, não há nada que se poderia colocar como próximo a essa condição de dar equilíbrio e isenção a uma iniciativa que manteria a classe política menos livre para deitar e rolar. 

Repetindo a fórmula 

Aliás, se já naquele tempo, de esfarelamento quase completo do Fórum da Cidadania (responsável pela ação meritória de 1994) não havia perspectiva de surgir no horizonte próximo uma instituição que coordenasse o movimento em defesa do voto regional com condicionantes (ou estímulos) desafiadores, o que esperar agora?

Não fosse a Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e a Agência de Publicidade Octopus, de Paulo Cesar Ferrari, também dirigente da entidade de classe, o voto regional seria simplesmente esquecido. Se é lembrado mesmo que de forma pouco sensibilizadora, porque repetitiva, é outra história. 

Mais que isso: divulgam-se nas redes sociais espécies de votos municipalistas. Não se sabe a origem, mas se desconfia que seja ação do grupo político do prefeito Lauro Michels, o material que invadiu as redes sociais em defesa dos candidatos de Diadema. Seria uma retaliação ao prefeito Orlando Morando, da vizinha São Bernardo.  

Bancada sem limites 

Uma bancada de verdade que vista para valer a desbotada camisa eleitoral da região e que não se prenda, repito, ao endereço eleitoral dos integrantes, não passaria jamais por qualquer iniciativa séria de quem pensa o futuro da região. Os opositores que querem reserva de mercado do voto eleitoral, estimulados por uma pregação tacanha da mídia provinciana, dariam um jeito de minar o movimento. 

Montar um time de candidatos paulistas que assumam para valer o compromisso de uma agenda regional seria iniciativa muito mais produtiva entre outros aspectos porque, seja qual for a quantidade de representantes locais na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, sempre seremos uma merreca ante os demais. 

Ainda tenho muito o que escrever sobre voto regional. O passado é um bom conselheiro e o presente é um ótimo parceiro de viagem rumo a alguma coisa que não seja ainda mais frustrante do que já se consolidou. 



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