Estou encalacrado entre três alternativas que tratam diretamente das eleições proporcionais desta temporada, das quais participarão algumas dezenas de candidatos da região. Vejam minha situação e tentem me ajudar a resolver o problema que ganha fôlego porque uma nova campanha que visa estimular o voto regional foi colocada à mesa.
1. Preparo um questionário com 10 perguntas em comum basicamente sobre aspectos relevantes da regionalidade desta Província e encaminho aos concorrentes.
2. Preparo uma única pergunta, uma pergunta-chave, também relativa ao regionalismo, e envio aos concorrentes.
3. Ignoro completamente a lista dos concorrentes e me mantenho distante do processo, ficando atento ao que consumirei na mídia em geral para eventuais análises.
Ao acabar de construir os três cenários, dei-me conta de que o que mais me encanta é descartar os candidatos. Sei que deixarei de captar alguns insumos interessantes que provavelmente outras mídias não darão conta porque há especificidades em cada publicação. Estou inclinado a tomar essa decisão – ou seja, a esquecer dos questionários individuais – mas ainda não é uma palavra definitiva.
Talvez o que pese mais ao me inclinar àquela perspectiva decisória seja o mundo cão em que se transformou a política nacional. A Operação Lava Jato acabou com parte da farra da corrupção, mas nada indica que não conviveremos nos próximos tempos com escândalos sobre escândalos.
Tanto é que o Centrão, envolvidíssimo nas falcatruas destrinchadas pela turma de Curitiba, principalmente de Curitiba, mas com ramais também em São Paulo, juntou-se ao ex-governador Geraldo Alckmin, o queridinho da banca dos poderosos nacionais, para, mais que vencer a disputa, minar a resistência lavajatense. Não faltarão jornalistas vagabundos e partidários, porque militantes, que adorariam esse desenlace. Eles não fazem outra coisa senão espicaçar o juiz Sérgio Moro e procuradores federais.
Entrevista Especial emblemática
Quando ainda fervia em meu cérebro a possibilidade de organizar questionamentos a candidatos representativos da região imaginava a possibilidade de amenizar nas perguntas, tornando-as menos cáusticas, a fim de não espantar a turma. Mas, pensando melhor, que graça teria uma iniciativa que poderia contribuir com o desvendar as interrogações que o eleitorado regional sustenta se tiver este jornalista de contornar semanticamente ou mesmo efetivamente determinadas questões?
Outro dia mesmo li uma entrevista de um candidato a deputado federal e não gostei. Não me agrada a ideia de publicar uma entrevista sem contraponto da entrevista. Vou explicar. Quando Orlando Morando nos deu uma Entrevista Especial no ano passado, a pior Entrevista Especial que LivreMercado/CapitalSocial já publicou, tive de recorrer à réplica para esclarecimentos. Da mesma forma o fiz em relação ao prefeito de Santo André, Paulinho Serra. A diferença entre os dois entrevistados é que o tucano de Santo André demorou a responder, mas respondeu com qualidade relativa. Orlando Morando foi um fracasso tão estrondoso que não tenho o menor interesse mais em voltar a repetir aquela experiência. Detesto perder tempo.
Roda Viva e Globonews
Preparar uma batelada de perguntas mesmo que não corrosivas e ter como respostas manipulações que contrariem a realidade dos fatos não parecem um destino satisfatório para quem já cansou de ouvir gente de todas as áreas.
Não tenho vocação a militante do Roda Viva na entrevista com Jairo Bolsonaro e tampouco de lambe-botas da Globonews na entrevista com Geraldo Alckmin. O contraste é explicado por interesses outros que não o jornalismo de responsabilidade social. Bolsonaro foi ferozmente atacado por um bando de ressentidos travestidos de humanistas enquanto Geraldo Alckmin foi tratado com todo o zelo. Parecia estar numa vitrine. Algumas estocadas foram uma maneira de passar a ideia de que todos ali dispunham-se a levar o ex-governador às cordas. Pura encenação.
Não me interpretem apressadamente porque critico os inquisidores de Jair Bolsonaro e lastimo a conduta de anfitriões gentis reservada a Geraldo Alckmin. Não tenho empatia pelos dois concorrentes. Eles são tão antípodas, tão antípodas, que acabam por se assemelharem no prognóstico que redundaria tanto na vitória de um quanto de outro. Alckmin esquartejaria com elegância e firmeza os nobres procuradores e delegados federais. Jair Bolsonaro faria do Palácio do Planalto casa assombrada.
Amor e desgosto
Tenho paixão e horror pela política partidária. Consumo o máximo de informações do dia a dia dos principais jornais (o noticiário da região é provinciano demais, mas mesmo assim a obrigação funcional me leva, a saber, o que se passa nesse jogo mais que manjado de falsidades editoriais que visam exclusivamente prestigiar ou tumultuar a vida dos amigos e de inimigos das redações), mas rezo todos os dias para o poderoso me manter distante desse ambiente. Os bons são poucos entre eles. Não tenho estômago para determinadas deformidades tratadas como modus operandi comum no meio político.
Conto nos dois dedos das mãos quantas vezes estive em corredores dos paços municipais. Na maioria das vezes fui recebido com diplomacia e carinho, não nego, mas a atmosfera não me agrada. Prefiro encontrar agentes públicos em outros endereços. Também são esporádicos esses diálogos.
Voltando ao que mais interessa: ainda não me decidi entre as três vertentes listadas. Se tivesse certeza absoluta de que as entrevistas serviriam para aclarar o ambiente nebuloso da região, não teria dúvida em partir para o sacrifício. Mas é nesse ponto que fico com um pé atrás. Será que vale a pena levar aos leitores perguntas e respostas que possivelmente vão encontrar adiante impeditivos executórios?
Perdendo tempo
Não é fácil ter que admitir publicamente o desencanto com a política em geral e os políticos da região em particular (com exceções que prefiro não nominar agora). Imagine o quanto de tristeza isso representa para quem em 1994 saiu às ruas para distribuir panfletos convocatórios da primeira versão da campanha “Vote no Grande ABC”, que elegeu 13 deputados e marcou a fita de largada do Fórum da Cidadania.
A diferença entre o cético desencantado por natureza e o cético desencantado por experiência vivida é que o segundo já atuou efetivamente como ativo romântico de uma regionalidade que jamais se consolidou enquanto o primeiro apenas expõe uma desculpa esfarrapada para não mexer uma palha em favor de terceiros.
Vivo a situação do cético desencantado após tantos embates. Os candidatos da região à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal que me desculpem, mas peço um tempo para decidir sobre prestigiá-los com indagações ou simplesmente esquecê-los.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)