O segundo debate televisivo entre os candidatos ao governo do Estado, semana passada na Rede TV, sugere que o critério de valorização cênica como ferramenta estratégica de convencimento dos eleitores indecisos e céticos ganha menos força e elasticidade. Diferentemente, portanto, do que ainda se potencializa na corrida presidencial, os principais concorrentes ao Palácio dos Bandeirantes estão praticamente empatados na raia da conquista de votos em função do desempenho emocional proporcionado pelo visual na telinha.
Há, portanto, espécie de congelamento de perspectivas. Placas tectônicas em forma de espetacularização de desempenho estão fora de mira. Quem errar na interpretação do que seria decisivo à quebra do gelo da semelhança de apresentação nesses encontros poderá perder pontos eleitorais importantes.
Tanto o líder escasso nas pesquisas eleitorais, João Doria, quanto o segundo colocado Paulo Skaf, além de Luiz Marinho e Márcio França, sabem lidar com as câmeras. Eles deveriam servir de exemplo aos competidores à presidência da República, nenhum dos quais ainda no mesmo nível. Mesmo Ciro Gomes, o mais desenvolto.
Marinho mais incisivo
O petista Luiz Marinho melhorou bastante. Foi mais incisivo e não repetiu a curvatura corporal quase servil à frente do corpo. Saiu da posição de quase nocauteado visualmente para enquadramento à altura do expert no assunto, João Doria. Marcio França e Paulo Skaf são menos enfáticos ao optarem por postura verbal e gestual mais comedida.
Não à toa Luiz Marinho e João Doria viveram o momento mais eletrizante do debate. Trocaram farpas num encontro frontal no centro do tablado. João Doria está afinadíssimo com os recados das pesquisas eleitorais que dão conta da cristaleira ética dos petistas na esteira do Petrolão.
Mais que isso: João Doria forçou a barra ao meter Luiz Marinho escândalo adentro das obras de drenagens da OAS em São Bernardo, introduzido na encrenca pelo executivo da empreiteira Leo Pinheiro, capturado pela Operação Lava Jato. Marinho reagiu com a lembrança do ônus do tucano ao abandonar a Prefeitura de São Paulo. Surpreendentemente, não reagiu com menção ao trecho norte do Rodoanel.
Como mudar o jogo?
Os próximos confrontos entre os dois candidatos vão dar a dimensão do quanto procurarão explorar supostos pecados do adversário. Há quem incentive Luiz Marinho a ser mais enfático e persistente. Ele precisaria acertar a mandíbula de interpretado descompromisso de João Doria ao deixar a Prefeitura da maior cidade do País. O tucano tem rejeição de 35% do eleitorado paulista e 50% do eleitorado paulistano. É um buraco e tanto a aprofundar. Talvez inclusive com irregularidades apontadas pelo Ministério Público Federal nas obras do trecho Norte do Rodoanel.
Paulo Skaf ainda se prende a uma condição de fragilidade genética, representante do antigo PMDB, hoje MDB, do presidente Michel Temer. Sabe-se que a inteligência de campanha de João Doria vai explorar essa fresta para torná-la porta arrombada a impedir o crescimento do presidente licenciado da Fiesp (Federação das Indústria do Estado de São Paulo), com quem está empatado tecnicamente e também com quem um segundo turno seria complicadíssimo.
Como dar contragolpe?
O candidato emedebista não deu uma pista sequer durante os dois debates televisivos já realizados de que tenha vacina para livrar-se do incômodo tucano. Talvez precise apelar para o pato que mandou pendurar defronte à sede da Fiesp durante a campanha que derrubou Dilma Rousseff. Skaf precisaria falar mais sobre a corrupção petista e as consequências sociais e econômicas que estão aí do que simplesmente dissimular sobre as estocadas da aproximação com a cúpula emedebista. Sobretudo Michel Temer. Sem argumentação que pelo menos invada o terreno da semântica, estaria fadado a morrer na praia. Temer é um caso perdido na opinião pública. Como encontrar uma saída se Temer era vice de Dilma e a Lava Jato fez um arrastão tanto no passado do presidente como no entorno ministerial?
O atual govenador-tampão Marcio França, também sofre de excessiva cautela. A opção de que poderá sensibilizar indecisos e céticos com linguagem diplomática e, mais que isso, com postura de defesa do governo tucano, não parece apropriada. Afinal, Geraldo Alckmin sofre as dores do envolvimento do governo estadual no escândalo do Rodoanel. Marcio França é um híbrido de candidato de oposição envergonhado e de candidato da situação temeroso. Não será assim que conquistará muito mais votos que os poucos até agora.
Lenha na fornalha
A impressão é que há muita lenha a alimentar a fornalha de estratégias que definirão os rumos dos principais concorrentes ao governo do Estado. A margem de manobra ainda é expressiva. Quase metade do eleitorado não sabe em quem votar. Voto espontâneo é voto consolidado. Voto estimulado está sujeito a chuvas e trovoadas das campanhas. Indecisos são ossos ainda mais duros de roer. Céticos, então, esses só os gênios seriam capazes de conquistar.
Total de 895 matérias | Página 1
19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)