Entre os cinco candidatos mais competitivos na corrida eleitoral que vai consagrar o novo presidente da República, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes são os mais resistentes -- e portanto menos vulneráveis -- à rejeição. A constatação faz parte do combo de resultados que o Instituto Paraná Pesquisas anunciou anteontem em parceria com a revista digital Crusoé, produto inovador do site O Antagonista, e apoio da Empiricus Research. Bolsonaro lidera a disputa medida pelo Paraná Pesquisas com 26,6% dos votos, contra 11,9% de Ciro Gomes,10,6% de Marina Silva, 8,7% de Geraldo Alckmin e 8,3% de Fernando Haddad.
Os números que medem a rejeição dos candidatos contrariam frontalmente os resultados do Datafolha e do Ibope Inteligência. Uma das explicações técnicas é a utilização de metodologias distintas. Acho que o resultado do Paraná Pesquisas é mais compatível num contexto em que se consideram dados agregados. E contribui de forma mais interessante ao que escrevi ainda esta semana: rejeição aos candidatos em projeções para o segundo turno com base nas entrevistas do primeiro turno é uma maneira de jogar para a torcida.
Mais que isso: pode ter um componente especulativo que influenciaria o resultado do primeiro turno, com a adoção do chamado voto útil. A metodologia do Paraná Pesquisas é menos suscetível a desníveis entre votos consolidados em forma de respostas espontâneas dos eleitores e projeções de rejeições.
Afinal, o Paraná Pesquisas perguntou especificamente a cada entrevistado em quem não votaria de jeito nenhum para presidente do Brasil. Um questionamento incentivado com uso de cartões individuais com o nome de cada candidato. A resposta, segundo explicação de Murilo Hidalgo, diretor-presidente da empresa durante apresentação dos resultados, possibilitaria maior flexibilidade aos entrevistados. As alternativas apresentadas na modalidade de potencial eleitoral:
a) “Com certeza votaria nele para Presidente do Brasil”:
b) “Poderia votar nele para Presidente do Brasil”;
c) “Não votaria nele de jeito nenhum para Presidente do Brasil”
d) Não o conheço suficiente para opinar”.
O resultado geral colocou Ciro Gomes com 52,0% de rejeição, Jair Bolsonaro com 52,2%, Marina Silva com 54,8%, Geraldo Alckmin com 60,3% e Fernando Haddad com 62,6%.
Pelo segundo lugar
O mesmo diretor do Instituto Paraná Pesquisas afirmou durante a entrevista que Jair Bolsonaro está praticamente no segundo turno. Sempre com a ressalva de que retrato não pode ser confundido com filme. Mas admitiu enfático que somente ocorrências fora do padrão poderiam tirar o concorrente do PSL da disputa final.
Na estratificação das respostas às questões colocadas aos entrevistados tendo como critério o potencial eleitoral, à proposição “com certeza votaria nele (a) para Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro somou 21,2% dos eleitores, mais de três vezes as indicações a Ciro Gomes e Marina Silva, individualmente com 6,9%. Fernando Haddad chegou em quarto lugar com 6,3%, seguido de Geraldo Alckmin com 5,0%.
Se Bolsonaro vence com facilidade num enunciado que sugere consolidação de voto, no seguinte, “poderia votar nele (a) para Presidente do Brasil, registra 22,4% e fica atrás de três concorrentes: Ciro Gomes somou 34,4%, Marina Silva 35,5% e Geraldo Alckmin 30,3%. Os dois primeiros estão em situação de empate técnico, porque a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Do total do eleitorado que optou por Jair Bolsonaro na pesquisa de potencial eleitoral, 79,8% o fizeram com grau fortemente cristalizado, expresso no enunciado “Com certeza votaria nele para Presidente do Brasil”. Outros 20% foram menos convictos ao escolherem a frase “Poderia votar nele para Presidente do Brasil”. Com Ciro Gomes a sequência numérica é de 57,7% de voto convicto e 42,3% de voto sujeito a mudança. Fernando Haddad conta com 75,9% de voto convicto e 24,1% de voto vulnerável. Geraldo Alckmin conta com 58,0% de votos convictos e 42,0% vulnerável. Marina Silva reúne 31,9% de votos convictos e 62,0% de votos vulneráveis.
Percepção sobre finalistas
O Instituto Paraná também perguntou sobre a percepção dos entrevistados quanto às duas candidaturas que iriam disputar eventual segundo turno, “independente de quem o senhor (a) vai votar”. A vantagem de Jair Bolsonaro também está cristalizada com 51,9% dos apontamentos, contra 26,0% de Ciro Gomes, 23,7% de Geraldo Alckmin, 18,2% de Marina Silva e 14,8% de Fernando Haddad.
No questionamento em que os entrevistados contavam com apenas uma escolha (“se as eleições para Presidente fossem hoje e os (as) candidatos fossem esses (as), em que o senhor (a) votaria?”, no critério de voto estimulado, quando é apresentado um cartão com o nome de todos os concorrentes, Jair Bolsonaro liderou com 26,6% dos votos, contra 11,9% de Ciro Gomes, 10,6% de Marina Silva, 8,7% de Geraldo Alckmin e 8,3% de Fernando Haddad.
Os números aparentemente decepcionantes do candidato escolhido pelo PT para substituir o ex-presidente Lula da Silva foram relativizados. Afinal, até então, ou seja, até a rodada de pesquisas, Haddad não constava oficialmente da corrida presidencial, embora tenha utilizado programas eleitorais de rádio e televisão como âncora, visto subliminarmente como o indicado.
Avançar ou perecer
A Paraná Pesquisas projeta que Fernando Haddad teria até o final da semana que vem para sensibilizar o eleitorado, disputando provavelmente com Ciro Gomes o segundo lugar e uma vaga no mata-mata do segundo turno. Nada mais evidente. E talvez nada mais consequente. A máquina eleitoral petista entrou para valer na disputa. Haddad é o mais provável adversário final de Jair Bolsonaro.
O Paraná Pesquisas também perguntou aos eleitores quais seriam os motivos que os levariam a considerar o principal motivo para definirem votação ao candidato Fernando Haddad. Nada menos que 38,0% apontaram “por ser próximo do ex-presidente Lula”. Outras citações não passaram de um dígito, casos, por exemplo, de 7,8% “pelas propostas de geração de emprego”, 7,4% de “se identificar com o discurso do candidato” e 6,6% “por ter experiência política”.
Os motivos que levam os eleitores a preferirem Jair Bolsonaro são mais amplamente densos nas principais citações: 23,6% “pelos projetos anticriminalidade”; 15,3% “por representar a mudança”; 13,1% porque “se identifica com o discurso do candidato” e 11,2% “pelos projetos anticorrupção”. Apenas 2,1% dos eleitores de Bolsonaro se definiram “por ter experiência política”.
A importância do discurso de combate à violência no País é destacadamente maior entre os eleitores de Jair Bolsonaro, embora seja menos da metade do valor atribuído a Fernando Haddad em relação ao empurrão do ex-presidente Lula da Silva. Entre os eleitores de Marina Silva, apenas 2,3% dos eleitores optaram pelo enunciado “pelos projetos anticriminalidade”. Um empate numérico com os eleitores de Geraldo Alckmin. Praticamente igual aos 2,4% de Fernando Haddad. Entre eleitores que se decidiram por Ciro Gomes, apenas 1,3% optaram pelo enunciado proposto pelo Paraná Pesquisas.
Pontos fortes de Ciro
O pedetista Ciro Gomes conta com duas citações relativamente fortes, porque de dois dígitos de preferência dos eleitores que o querem presidente: 14,2% “se identifica com o discurso do candidato” e 11,3% “pelas propostas de geração de emprego”. Também são representativas respostas de um dígito de preferência, caso dos 9,2% de “pelos projetos da área econômica” e os 8,8% “por ter experiência politica”.
Duas demandas se acentuaram entre os eleitores de Marina Silva: 14,1% apontaram “que se identifica com o discurso da candidata” e 9,4% “pelas propostas de geração de emprego”. Outros 8,5% preferiram “pelos projetos na área de educação”. Geraldo Alckmin contou com três pontos de destaque entre os eleitores que o querem ver na presidência da República: 14,9% “por ter experiência política”, 11,5% “por ser um bom administrador” e 11,5% “se identifica com o discurso do candidato”.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)