Política

Colunista da Folha erra e decide
puxar a faca. Perdeu, camarada!

DANIEL LIMA - 19/09/2018

Os leitores mais assíduos hão de lembrar que no último dia 10 produzi neste espaço uma luta de boxe metafórica. O resultado é que bati para valer num sociólogo que respeito e que assina coluna semanal na Folha de S. Paulo. Em resumo, ele escreveu que o atentado ao presidenciável Jair Bolsonaro não mudaria praticamente nada no quadro eleitoral. Eu escrevi que os efeitos colaterais levariam a disputa a novo patamar. Já-já vou dizer o que aconteceu nesta semana, quando ele assinou nova coluna na Folha. Antes, vamos recuperar o núcleo daquele artigo para que o complemento seja compreendido sem distorções. Até porque o sociólogo agora puxou a faca da argumentação enviesada. 

O sociólogo em questão, servidor federal e formado em Oxford, é Celso Rocha de Barros. Leiam o que ele escreveu no dia 10 referindo-se ao atentado: 

 (...) Não vejo como uma onda de simpatia causada pelo atentado seja grande no caso de Bolsonaro, um candidato cuja rejeição é imensa. Acho difícil que o eleitor que responde “não votaria de jeito nenhum em Bolsonaro” de repente pense “opa, ele levou uma facada, seu programa econômico e sua atitude diante das mulheres subitamente me parecem muito melhores. (...) Uma eventual onda de simpatia pode sim, levar Bolsonaro a ganhar alguns pontos nas pesquisas, mas não acho que vai levantar o teto imposto por sua taxa de rejeição” – escreveu o sociólogo.

Contraponto lógico 

Agora vou reproduzir contraponto àquela exposição de ideia. Sempre lembrando que tudo foi publicado na edição do dia 10 deste mês nesta revista digital:

 (...) A facada em Bolsonaro vai render muitos votos ao candidato de forma imediata, com possibilidades de aprofundamento caso o marketing eleitoral da vítima não se perca numa linguagem de vitimismo piegas. O fator emoção não pode ser desconsiderado jamais numa disputa tão parelha. 

Continuando no didatismo de mostrar e provar que não necessariamente títulos universitários significam infalibilidade (não se esqueçam das palavras de Roberto Campos, de que o pior burro é o burro diplomado, porque pensam que são inteligentes, embora esse não seja o caso do sociólogo em questão), os dias subsequentes revelaram o esperado: Bolsonaro subiu 10 pontos percentuais ou 50% de acordo com dados do Ibope Inteligência. Foi o suficiente para se descolar completamente da tropa de elite numérica que o acossava e hoje não existe dúvida quanto a sua passagem ao mata-mata final em confronto direto com Fernando Haddad, beneficiado por larga parte do espólio do ex-presidente Lula da Silva.  

O desespero do sociólogo 

O que fez o sociólogo e colunista da Folha de S. Paulo, na edição de segunda-feira? Resposta? Uma confissão tácita de que escrevera bobagem (não se pode atribuir outra palavra a quem não tem percepção humana, entre outras razões porque a ideologia congela a mente) e, para arrematar, produziu mais uma crônica lamentável, de quem não sabe perder. Querem ver? Leiam apenas alguns trechos do artigo que selecionei sem jamais retirar o sentido orgânico do pensamento do representante da Universidade de São Paulo:

 Bom, é isso, amigo. Se você quiser eleger Bolsonaro, aproveite porque deve ser seu último voto. Depois da última semana, não há mais dúvida de que o plano dos bolsonaristas é dar um golpe. Golpe mesmo, golpe raiz, não esses golpes Nutella de hoje em dia. (...).  Resta saber: como chegamos no ponto em que a proposta de matar a democracia lidera as pesquisas com cerca de um quarto de intenções de voto? 

Quartelada informativa 

Os jornais e as revistas estão infestados de opositores a Jair Bolsonaro. Trata-se de uma verdadeira quartelada informativa, de mão única, unilateral. Haveria vários motivos para tanto, embora não faltem exageros e meias-verdades, como a de que o General Mourão, vice-presidente na chapa de Bolsonaro, teria defendido o chamado autogolpe, numa entrevista à GloboNews. Sim, essa citação, inclusive de Celso Rocha de Barros no artigo da Folha da ultima segunda-feira (sim, o artigo no qual destila sua raiva porque não viu sua previsão canhestra se realizar, porque faltou combinar com os russos da opinião pública, não com os assemelhados) não corresponde à verdade dos fatos. 

Diretamente aos fatos 

Então, vamos aos fatos? Assisti várias vezes o trecho no qual o General Mourão se manifesta sobre o que seria a governabilidade de uma gestão de Jair Bolsonaro. Apertaram-lhe tanto que decidiu responder. Assim que deve ser jornalismo. Mesmo que no caso a pergunta tenha partido (e insistentemente martelada) de uma jornalista de vínculos históricos com a esquerda, desde os tempos do Regime Militar. 

O General Mourão respondeu o que respondeu, ou seja, que qualquer representação dos três poderes da Nação poderia, numa situação caótica, de completa anarquia, solicitar o suporte das Forças Armadas. Nada mais natural visto como apetrechamento constitucional. A repercussão foi espantosa porque o jornalismo hoje em dia prefere a espetacularização à razão. E os leitores, geralmente apressados porque a oferta de informações tornou-se caudalosa com as redes sociais, retroalimentam imprecisões.  

Sei o quanto me custa expor esse tipo de pensamento que colide com a maré do politicamente correto. Tenho amigos que acreditam piamente na versão contaminada de viés ideológico. O General Mourão é um degenerado político que colocou a democracia sob-risco, dizem eles. 

Ladrões de carteirinha 

Numa escala de valores reais, entretanto, vendo-se como se deve ver a atuação das instituições nacionais nos últimos anos, no caso o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, se há risco de a democracia ir para o brejo por conta de um estado geral de beligerância que exigiria, aí sim, seja qual for o próximo presidente, a intervenção das Forças Armadas, quem nos levou ao atual estágio são os ladrões de carteirinha que assaltaram os cofres do País em conluio com o empresariado bem postado nos escaninhos estatais. 

A reação do sociólogo que semanalmente assina coluna na Folha de S. Paulo é quase padrão da aristocracia intelectual de esquerda no País. Como bebês chorões, não aceitam que o resultado das urnas eventualmente contemplem um adversário de perfil completamente diferente. Eles não se deram conta de que estão distantes dos anseios de grande parte da população cansada de políticos que levaram o País à bancarrota econômica e social. Ou não é exatamente essa a herança da classe politica que se revezam no Executivo e no Legislativo desde 1994?

Respostas compulsórias 

A possível vitória eleitoral de Jair Bolsonaro é o corolário de respostas a esses descaminhos. Não é obra do acaso. Nem pode previamente ser desclassificada como o começo do fim da democracia, até porque o Brasil vive uma pindaíba institucional tão grande que é estupidez não reconhecer que o fim já está presente. 

O que viria adiante, com Bolsonaro na presidência e os militares de prontidão (alguém tem dúvidas sobre isso?) possivelmente seja muito menos complicado do que a alternativa, também provável, de Haddad na presidência e os militares a acossá-lo em cumprimento de uma ordem não escrita de que o modelo de centro-esquerda, que junta populismo e irresponsabilidade fiscal, além de malversação do dinheiro público, não passaria. Quem desdenha dessa possibilidade, e acredita que haveria ameaça apenas no caso de vitória de Jair Bolsonaro, provavelmente não ouviu as declarações de um general do Exército no programa GloboNews Painel, diante de interlocutores assustados, inclusive a apresentadora Renata Lo Frete. 

A relação que o general fez entre a candidatura do diplomático Fernando Haddad, os subterrâneos petistas e o gramscismo não partiram de um especulador. O lulismo colocou a democracia em xeque diante das fuças de bem nutridos intelectuais que raramente se manifestaram contra usos e abusos a partir de Brasília. O PT tornou sistêmico, amplo e irrestrito o que não passava, nos adversários (e mais tarde aliados) de um modelo fechado de grupos de corrupção.

Explicando o atropelamento 

Agora, para completar, uma confissão sem pudores: adoro bater em gente que se acha porque tem título universitário. Já distribui cacetadas técnicas e argumentativas em muitos deles ao longo dos tempos. Até perdi a conta dos atropelamentos. Não tenho nenhum problema psicanalítico com os graduados. Até porque tenho filhos com brilho universitário. 

Mais que isso: sou leitor voraz de muitos acadêmicos que jamais se acomodaram, seja por ideologia ou por preguiça intelectual. Celso Rocha de Barros é um sociólogo que sabe escrever como poucos acadêmicos. Sabe escrever no sentido criativo da expressão. Só não pode colocar a ideologia à frente da inteligência. Como o fez no caso da facada em Bolsonaro. E nem apelar para uma nova facada, agora de radicalismo político. Ele agiu de forma muito mais atabalhoado do que sugeriu erroneamente nas manifestações dos militares que tenta desclassificar. 



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