A Imprensa em larga escala é seletiva na moldura mais que manjada, suspeitíssima, de moral e ética com que trata temários político-partidários. Principalmente às vésperas de eleições, quando linhas editoriais mais que explicitamente comprometidas com determinados candidatos tratam a informação com o fundamentalismo de engajamento tácito, embora procurem ludibriar o distinto público com sentenças publicitárias de multilateralismo.
A justificada ênfase à condenação dos participantes do caso da dinheirama que comprou o depoimento e as alegadas provas dos Vedoin, com estilhaços que atingem o candidato José Serra, não tem a contrapartida da apuração das mesmas denúncias que mais que insinuam derivativo do mensalão mal e porcamente atribuído ao governo Lula da Silva quando se sabe que é prática mais antiga que andar para a frente.
Por que será que o dossiê dos Vedoin merece tanta reprovação do jornalismo engajado que se faz de apartidário enquanto um outro dossiê, esse apócrifo, ou seja, de autoria não identificada, mereceu dessa mesma mídia ampla divulgação, aprovação, regozijo e tácita credibilidade?
É claro que estou me referindo ao documento preparado supostamente por um jornalista com atuação no Grande ABC que, a mando de políticos de direita que incentivaram a divulgação da versão de crime de encomenda do prefeito Celso Daniel, colocou sob suspeição os homens que giravam em torno daquele que seria ministro do Planejamento do governo Lula da Silva.
Mais que isso: o mal-ajambrado dossiê que pretensamente fora encaminhado ao prefeito Celso Daniel com relatos e supostas provas de irregularidades em seu governo foi instrumentalizado como arma de catequese à criminalização do empresário Sérgio Gomes da Silva que, como se divulgou, teria mandado matar o prefeito para arrebatar aquele material. Uma barbaridade de equívoco, como o tempo tratou de provar. Primeiro porque há dezenas e dezenas de cópias daquele calhamaço de denúncias, inclusive de posse deste jornalista e do Ministério Público. Segundo porque não faltaram acusações, inclusive de testemunhas anunciadas pelo próprio Ministério Público, de que Celso Daniel participava do esquema de caixa dois.
Por que será que um dossiê, o dos Vedoin, merece tanta recriminação, tanta desconfiança, demonizado porque lhe enfiaram as vestes sujas de uma denúncia premiada, embora tenha sido encaminhado a autoridades judiciárias com provas documentais de falcatruas envolvendo o Ministério da Saúde, e o esfarrapado e até prova em contrário malicioso dossiê de supostas irregularidades administrativas do governo Celso Daniel, das quais, vejam só, o petista não teria conhecimento, foi tão escandalosamente alardeado como peça indiscutível de um jogo de xadrez condenatório de um inocente?
Será alguém capaz de duvidar que aquele dossiê que o tempo provou mulambento foi preparado com incentivo financeiro para finalidade político-eleitoral tanto quanto o dossiê dos Vedoin possivelmente mais factível de comprovação de irregularidades?
Então, por que dois pesos e duas medidas?
A mídia conservadora é também hipócrita porque como toda mídia que trata o imediato, o factual, é burra e embrutecedora. Mais que isso: trata leitores, ouvintes e telespectadores com o desdém da arrogância de que não será jamais flagrada em delito informativo. A indignação é puramente jogo de cena. Faz parte do show eleitoral, de preferências e discriminações.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)