Política

Siraque, Aidan, Carla, Ailton,
Thiago e muito mais domingo

DANIEL LIMA - 02/10/2018

Ainda não se tem garantidamente o inflacionado e autofágico número de candidatos da região à Assembleia Legislativa e ao Legislativo Federal nas eleições deste domingo. Seriam 120, mas podem ser mais ou menos. O que não falta são opções para todos os gostos. Para incrementar as candidaturas, está na praça mais uma vez um derivativo do inédito movimento “Vote pelo Grande ABC”, lançado em 1994, portanto há mais de duas décadas. É verdade que a iniciativa não tem o mesmo impacto, mas o objetivo principal mantém-se intocável: a região precisa de representatividade naquelas duas casas de leis.  

Representatividade seria o suprassumo de representação. O passado indica que, qualquer que seja o número de deputados que a região eleja, precisamos ultrapassar a cerca que divide uma coisa e outra.  

A chamada Bancada do ABC sempre foi uma falácia orquestrada pela mídia provinciana porque sempre prevaleceu o conceito de representação, que é a individualização e a partidarização das atividades dos parlamentares e dos partidos políticos. Quem sabe, entretanto, alguma novidade apareça no radar de cidadania após primeiro de janeiro. Já imaginaram a possibilidade de se chegar à representatividade regional; portanto, sem barreiras individuais e partidárias significativas? É melhor contar com essa perspectiva pouco sustentável do que entregar a rapadura do desencanto antecipadamente.  

O que mais se lamenta à disputa de domingo é que a região, apesar dos esforços do publicitário Paulo Cesar Ferrari, da Agência Octopus, e da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), não se organizou para incorporar produtividade ao conceito de votar na região, tornando-o prático de objetividade e desafios na sequência eleitoral. Ou seja: não houve preparo à colheita, apenas ao plantio apressado. Daí a uma dificuldade adicional de representatividade é um passo.  

O que prevalece entre os eleitores mais atentos (imagine então entre a maioria que está se lixando para a importância do voto regional) é a individualidade do sufrágio de acordo com interesses específicos que, mesmo enviesados, ganham legitimidade na democracia. Nada a ver, portanto, com o conjunto da obra de integração dos sete municípios. É cada um para si e estamos conversados.  

Falta de sinergia  

Tudo estaria encaminhado se a região não fosse o que é, uma gelatina real de pouco-caso com qualquer coisa que lembre sinergia e compromisso coletivo com o futuro. O que temos na praça é uma corrida por votos que ganha contornos autofágicos. Vigora a lei do mais forte, do candidato acima de qualquer outra perspectiva senão a vitória sem compromisso tácito com reformas de que a região carece. Convenhamos que seria demais esperar algo diferente, mesmo que entre os concorrentes se encontrem modelos inquietos com a baixa regionalidade. 

Mesmo com tudo isso como constatação que desagrada triunfalistas de sempre, é muito importante votar em candidatos da região. Muito melhor do que nos chamados forasteiros, com os quais, paradoxalmente, poderiam conviver harmoniosamente. Bastaria que todos assinassem espécie de Carta de Compromissos para lutar por uma agenda de desenvolvimento econômico à qual estariam vinculadíssimos, sob pena de uma avalanche de repúdio. 

Mais que isso: o contrato de responsabilidade coletiva asseguraria plena liberdade a uma espécie de censura pública aos eleitos que não atuassem para valer em defesa do compromisso assumido. Um comitê com representantes da sociedade monitoraria os parlamentares durante todo o mandato. E daria ampla transparência ao desempenho com base nos pressupostos acordados. Os organizadores do Vote pelo ABC desta temporada poderiam ter pensado em algo semelhante.   

O mais indicado para que não se morra de raiva é que não se devem esperar resultados diferentes das últimas eleições. Uma reportagem do Diário do Grande ABC de domingo mostrou que apenas três de cada 10 eleitores da região sufragaram candidatos locais nas eleições de 2014. Elegemos seis deputados estaduais e dois federais. Dos estaduais, dois interromperam mandatos para virarem prefeitos (Orlando Morando e Atila Jacomussi), enquanto Vanessa Damo teve o mandato cassado. Os outros sete votos se dividiram entre os penetras, nulos, brancos e abstenções. Foram 40% que não escolheram ninguém ou anularam o voto.  

Com 2,1 milhões de eleitores, o potencial de representação (ou representatividade?) da região seria imenso. Entretanto, como superar os efeitos da suburbanização do voto, provocada sobretudo pela ausência de televisão de massa, principalmente. A falta de identidade política de eleitores e candidatos é alarmante. E se agrava nesta temporada em que o predomínio da disputa presidencial coloca em terceiro plano o interesse pela Assembleia Legislativa e a Câmara Federal. 

Quase uma centena e meia de candidatos com identificação eleitoral na região vão concorrer neste domingo. Há diversidade imensa a ser degustada pelos leitores. Vejam as principais tipologias dos concorrentes: 

 Parentesco com atuais prefeitos.

 Beneficiários da máquina pública.

 Memória de eleições passadas.

 Sindicalistas.

 Ex-prefeitos.

 Religiosos.

 Vice-prefeitos.

 Atuais deputados.

 Ex-deputados.

 Secretários municipais.

 Vereadores.

 Ex-vereadores.

 Ativistas de redes sociais. 

Afinal, quem tem mais possibilidade de vencer?  Resposta: quem engloba mais características listadas.  

Um caso emblemático e elucidativo de potencialização de uma candidatura: a mulher do prefeito Orlando Morando, Carla Morando. Depois de atuar na área de assistência social na Prefeitura, tradição de primeiras-damas, ganhou impulso com o suporte do marido e da máquina pública sempre mobilizadora de adesões. 

Risco bem menor  

O risco embutido na candidatura de Carla Morando é menor que a possibilidade de sucesso. Os acordos para que não só ganhe como também estoure em votos foram cuidadosamente costurados.  Orlando Morando não teve dúvidas em estremecer laços diplomáticos com companheiros do PSDB. Em São Caetano, Carla Morando concorrerá diretamente com Thiago Auricchio, filho do prefeito. Quem abriu as portas para o candidato foi Fabio Palacio, ex-vereador que disputou como terceira via as últimas eleições municipais. A missão era tirar votos de José Auricchio e garantir a reeleição de Paulo Pinheiro. Quase conseguiu.   

Santo André contará com disputa particularmente interessante à Assembleia Legislativa. É uma espécie de revanche entre o ex-prefeito Aidan Ravin e o ex-deputado Vanderlei Siraque, o primeiro do Podemos e o segundo do PCdoB. Aidan e Siraque foram finalistas em 2008 na corrida pelo Paço de Santo André. O então petista Siraque ficou a 1,5 ponto percentual da vitória no primeiro turno, mas perdeu no segundo turno. Um caso raríssimo.  Agora eles correm atrás do mesmo objetivo, no qual cabem os dois, porque de espectros eleitorais não necessariamente conflitantes. Dependendo do sucesso, entram para valer na disputa pela Prefeitura em 2020. 

Não seria exatamente esse o objetivo do ex-vereador e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Ailton Lima (PSD), que disputa uma vaga à Câmara Federal. Apoiado pelo prefeito Paulinho Serra, embora de forma menos ostensiva do que imaginou, Ailton Lima espera repetir o sucesso do primeiro turno de 2016, quando alcançou 50 mil votos e virou aliado de peso de Paulinho Serra no turno final contra o petista Carlos Grana. Ailton Lima conta com forte apoio de evangélicos. 

Disputa acirrada  

Ailton Lima jurou fidelidade a Paulinho Serra, independente do resultado eleitoral. Ganhando ou perdendo, estaria ao lado do tucano nas eleições municipais de 2020. O ex-vereador tem possibilidades de sucesso se for levado em conta que não existe um bicho-papão sequer entre todos os candidatos a deputado federal em Santo André. Bem diferente dos contendores à Assembleia Legislativa que, além de Aidan Ravin e Vanderlei Siraque, conta com os atuais deputados José Bittencourt (PRB) e Luiz Turco (PT). 

Já em Diadema há dois bichos-papões: o ex-prefeito José de Filippi e o atual deputado federal Vicentinho Paulo da Silva. Eles querem começar o ano em Brasília. É verdade que o PT tem reduto eleitoral fortíssimo na cidade mais politizada da região, mas não faltam céticos a prognosticar que eles precisarão de votos em outros municípios da região para preencherem o mínimo necessário. Entre outras razões porque o prefeito Lauro Michels tem uma aliada forte, Regina Gonçalves. Na disputa pela Assembleia Legislativa, Michels apoia o popular Márcio da Farmácia e o PT vai de Renato do Geb.   

Composição petista  

Em São Bernardo não há ex-prefeito concorrendo nestas eleições, mas três petistas buscam reeleição: Luiz Fernando Teixeira e Teonílio Barba concorrem à Assembleia Legislativa enquanto Ana do Carmo decidiu arriscar a Câmara Federal. Ela aceitou um casamento de conveniências com Luiz Fernando Teixeira ao abrir mão de possível nova reeleição à Assembleia Legislativa pelo apoio ao ex-homem forte do então prefeito Luiz Marinho. Luiz Fernando quer os votos de populações periféricas de São Bernardo, onde Ana do Carmo tem grande receptividade, e Ana do Carmo quer chegar à classe média baixa, suposta fortaleza do esquerdismo representado por Luiz Fernando. 

Poucos candidatos de São Bernardo têm bala na agulha para enfrentar Carla Morando rumo à Assembleia Legislativa. Já o quadro federal é diferente: Alex Manente, atual deputado, se opõe a Ana do Carmo e a Marcelo Lima.  Marcelo Lima é vice de Orlando Morando. Desbrava votos com a mulher do prefeito a tiracolo. Uma combinação perfeita segundo estrategistas do Paço Municipal. Os mesmos que esperam ver Alex Manente espatifar-se. A reeleição de Manente significaria dores de cabeça em 2020. Mais que as já esperadas, porque é aliado preferencial dos petistas que devem contar com a escolha do ex-prefeito Luiz Marinho como adversário de Orlando Morando. 

Dois ex-prefeitos petistas de Mauá vão às urnas neste domingo. Donisete Braga concorre à Câmara Federal pelo Pros, enquanto seu antecessor, Oswaldo Dias, manteve-se no PT e busca uma vaga na Assembleia Legislativa. Quem pode atrapalhar Oswaldo Dias é Chiquinho do Zaíra, do Avante. Ele tem reduto eleitoral nas camadas mais pobres. Donisete Braga tem dois concorrentes que podem lhe dar dor de cabeça na disputa federal: Vanelli Damo (PRB) e Júnior Orosco (PDT).  Vanelli representa a Família Damo, cuja biografia se confunde com a política em Mauá. Júnior Orosco reúne os interesses de grupos muito próximos ao Paço Municipal.



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