Política

Marinho teria votos suficientes
para tirar o sono de Morando?

DANIEL LIMA - 04/10/2018

A disputa pela Prefeitura de São Bernardo em 2020 começa para valer neste domingo quando vai-se saber quantos votos o ex-prefeito Luiz Marinho somará no Município que comandou durante oito anos com suporte total do governo federal. Quantos mais votos Marinho multiplicar na disputa frustrada ao governo do Estado, mais causará inquietude à gestão de Orlando Morando. Quem se arrisca a apontar um percentual de votos válidos, que é o que interessa, e os efeitos que isso provocaria?

Esta é a segunda vez que escrevo sobre esse assunto. A primeira foi na edição de 27 de março. Sob o título “Marinho testa candidatura de olho na disputa com Morando”, escrevi alguns pontos que considero importantes reproduzir: 

 Marinho deverá chegar com muita dificuldade a dois dígitos (no Estado). É uma derrota mais que programada. Resta saber se o impacto será maior ou menor do que se antevê. 

 Se sair bem na fita em outubro próximo (em São Bernardo), Marinho ganhará impulso extraordinário. A cidadela poderá ser reconquistada.

 Quero crer que a candidatura de Luiz Marinho à Prefeitura de São Bernardo é indigesta tanto para o atual prefeito como a um agora mais experiente concorrente, o deputado federal Alex Manente.

 Quanto menor o potencial do petista, mais Manente ganhará cacife para deixar de ser coadjuvante descartável como o foi em 2008 ou candidato marcado para perder em 2016, quando a sangria petista o contaminou.

Especulando percentuais 

Feita essa retrospectiva, voltamos ao presente: quantos por cento de votos válidos terá Luiz Marinho em São Bernardo? Vou fazer algumas especulações:

 Se tiver o dobro dos votos válidos no Estado de São Paulo será muito pouco porque não chegaria provavelmente a 20% do total. Apenas um pouco mais que os votos válidos que seu candidato à sucessão municipal em 2016 registrou nas urnas eletrônicas. Ter votação semelhante à de Tarcísio Secoli em pleno bombardeio de moralidade pública pela qual passou o PT do Petrolão naquela disputa municipal, seria frustrante.  Ou alguém tem dúvidas de que aquele momento foi o pior da história petista no Estado?

 Se tiver por volta de 25% dos votos válidos em São Bernardo, já se pode falar que Luiz Marinho conta com base relativamente sólida depois da tempestade que atingiu os petistas. Não se pode duvidar dessa marca porque nos anos subsequentes ao estouro do Petrolão os escândalos de propinas avançaram na direção da quase totalidade dos partidos. Não sobrou pedra sobre pedra. Não à toa Jair Bolsonaro, fora da zona de bombardeio, está tão próximo de Brasília. 

 Quanto mais Luiz Marinho ultrapassar a barreira de 25% dos votos em São Bernardo, mais o prefeito Orlando Morando deverá se acautelar porque a casa poderia cair nas eleições de 2020. A potencial troca de comando do Paço Municipal ganhará mais robustez com a queda da Bastilha de Brasília, com a chegada de Jair Bolsonaro em substituição a um Michel Temer mais próximo dos tucanos paulistas, e, pior ainda, caso o Palácio dos Bandeirantes saia do controle do até outro dia favorito João Doria. Com Paulo Skaff ou Márcio França a batata da gestão Orlando Morando estaria assando. Até porque tanto um quanto outro que iria à final com João Doria correria atrás do apoio por baixo dos panos dos petistas. 

Ponderações importantes 

Claro que há condicionantes a relativizar a importância dos votos de Luiz Marinho em São Bernardo com vistas ao Palácio dos Bandeirantes. Dois anos de intervalo entre uma coisa estadual e uma coisa municipal são tempo suficiente para novas conjecturas de acordo com novos contextos. Tudo pode acontecer até lá tanto na macropolítica como na micropolítica. 

Entretanto, ignorar as condições atuais de tempo e pressão seria estupidez. A construção de candidaturas e de viabilidades eleitorais passa necessariamente pela degustação do tempo e pela sensibilização dos agentes envolvidos direta e indiretamente na disputa pelo voto. 

O ambiente macropolítico já foi mais favorável ao prefeito Orlando Morando quando se descortina o horizonte das eleições municipais de 2020. Havia a perspectiva de tanto Geraldo Alckmin quanto João Doria ocuparem os principais cargos da República, o governo federal e o comando do principal Estado da Federação. Agora que a vaca já foi para o brejo federal e no reduto até então praticamente intocável dos tucanos em São Paulo há dúvidas a queimar pestanas, Orlando Morando está pressionado. Os planos para o futuro estão ameaçados, quando não parcialmente comprometidos. 

Quem disser que pior não ficaria pode estar enganado. O conceito tiririca não vale nesse caso, claro. Sem o Palácio dos Bandeirantes e o Palácio do Planalto como aliados, Orlando Morando perderia retaguarda política importantíssima. Nada pior, porque na medida em que perderia, o adversário somaria reforços sobretudo em âmbito estadual.  O fator-Alex Manente é outra história. Precisamos esperar o que vai lhe acontecer neste domingo, mas o deputado federal tem vocação irrefreável a coadjuvante municipal. 

Números contraditórios 

Tenho informações contraditórias de algumas fontes interessadíssimas no resultado final em São Bernardo nesta disputa pelo governo do Estado. Os números parciais flutuam ao sabor das emoções, mas há quem garanta dispor de pesquisas mais que confiáveis a sugerir um estrondo na votação de Luiz Marinho. Não acredito nisso.  

Pergunto o que seria um estrondo a caracterizar a votação destinada a um ex-prefeito que deixou a gestão municipal com uma soma de bons resultados quando se afere os investimentos públicos generosos do governo federal? Não fosse a crise fiscal contratada por Dilma Rousseff, que a levou ao impeachment, Luiz Marinho teria deixado o Paço consagrado e pronto para viabilizar uma disputa mais interessante ao governo do Estado. Obras que ficaram para Orlando Morando completar seriam suas. 

O jogo que será jogado neste domingo em São Bernardo reúne múltiplas faces, entre as quais a concentração do prefeito Orlando Morando em duas frentes de batalha: um olho estará ligadíssimo no adversário mais complicado a suas pretensões de reeleição, o outro na mulher que concorre ao Legislativo Paulista. 

Não basta pura e simplesmente Carla Morando ganhar uma vaga. Será preciso também que a conquiste com larga votação. Preferencialmente acima da soma de todos os candidatos petistas de São Bernardo. Como ele, Morando, registrou em 2014 ao eleger-se pela terceira vez seguida deputado estadual. Morando sabe que muito do julgamento de sua administração estará vinculado pelos opositores aos votos a Carla Morando. Política é assim. Tudo que parece ouro é ouro de fato quando se trata de insumo crítico ou de consagração.



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