Política

Bolsonaro vai para mata-mata
com três a zero de vantagem

DANIEL LIMA - 08/10/2018

Quem conhece futebol e entende de regulamento sabe o que estou querendo dizer no título deste artigo. Mas vou ser didático, porque pelo menos 30% da população não estão nem aí com o esporte-rei. No caso da disputa presidencial resolvida parcialmente ontem em primeiro turno, o que quero dizer é que o mata-mata será em jogo único entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. 

O jogo único será disputado com mando de campo de Bolsonaro, o que se converte em grande vantagem suplementar. Entenda-se como campo de Bolsonaro o ambiente gerado pela disputa em primeiro turno. Ninguém estabelece números tão contundentes sem carregar favoritismo ao embate final.

No primeiro jogo, Bolsonaro venceu fora de casa por 3 a 0. Para perder o título terá de ser derrotado em casa por placar igual e, mesmo assim, a disputa irá às penalidades máximas. No caso, penalidade máxima significaria uma margem tão ínfima, tão estreita, que tudo seria decidido quando o apito final estivesse prestes a ser acionado pelas urnas eletrônicas.  

Pode até errar, não muito

Não bastasse a vantagem acumulada, ainda seria preciso que Bolsonaro não fizesse um gol sequer em casa. O que seria fazer um gol em casa? Que não acertasse a mandíbula de parcas condições de vitória do adversário. Ou seja: que Bolsonaro só acusasse golpes que o levassem gradativamente a um nocaute técnico. Nesse caso (de aumento da capacidade de sacramentar a vitória), adoto o critério de gol qualificado. Para cada gol marcado em casa, independentemente dos gols do adversário, Bolsonaro teria de sofrer mais gols que os três inicialmente indispensáveis. Traduzindo: Haddad precisaria ganhar de quatro gols de vantagem fora de casa para não decidir nas penalidades máximas, caso Bolsonaro não faça gol diante de sua torcida. 

Explicando ainda mais: diante tudo o que vem por aí no segundo turno, cada erro e cada acerto na estratégia de atingir o adversário Bolsonaro e Haddad fariam ou sofreriam gols. Bolsonaro precisaria errar muito e Haddad acertar demais para virar o jogo. Não há registro futebolístico em competição de alto nível em que um visitante vence o adversário jogando em campo alheio depois de perder em casa por três a zero ou resultado equivalente.

O que quero dizer com tudo isso é que a disputa está praticamente selada. Os maiores especialistas em pesquisas eleitorais sabem disso, embora a maioria não tenha coragem ou independência para dizer sem subterfúgios. Toda a papagaiada-clichê de que segundo turno começa zero a zero não vale para o contexto atual. Os redondos 46% a 29% de vantagem de Bolsonaro ao final do primeiro turno e o potencial ideológico para o segundo turno manteriam ou mesmo poderiam ampliar a vantagem registrada. 

Esquizofrenia eleitoral 

Me dedico a essas explicações porque a demanda dos leitores de CapitalSocial na lista de um aplicativo de celular assim o determina e me estimula. Todos que se manifestam querem saber de probabilidades de vitória de Bolsonaro ou de recuperação de Haddad. E a maioria logo entende a mensagem quando passo do burocratismo técnico-científico para o futebolismo político. 

Foi para alguns desses leitores que me expressei informalmente durante a apuração dos votos de ontem. Cheguei a contestar a mim mesmo quando, diferentemente do que expus na sexta-feira, aumentei a vantagem favorável a Jair Bolsonaro e o coloquei na presidência da República. Os 47% que antecipei como votação provável de Bolsonaro no primeiro turno no texto que publiquei foram certeiros. Já os números que expus a alguns poucos ontem no calor da disputa foram diferentes. 

Como prefiro o que escrevo ao que falo em situação emocional relativamente acima do tom (até porque só escrevo como pessoa jurídica, de jornalista de mais de 50 anos de carreira, enquanto falo como pessoa física, de mais idade e com os nervos às vezes dilatados), fica valendo o escrito, não o dito. Um dia vou explicar essa esquizofrenia, de pessoa jurídica e de pessoa física. É uma barbaridade. De um lado, Daniel Lima. De outro, meu contrário: Leinad Amil. 

Como estou escrevendo este texto, é melhor os leitores acreditarem que não produzo emoção em forma digital. Ainda tenho muito a consumir de informações nesta segunda-feira, mas é certo que repito integralmente a parte do artigo de primeiro de outubro, quando listei 15 quesitos que, analisados cuidadosamente, colocariam Jair Bolsonaro como favorito ao comando de um País destroçado por petistas e tucanos ao longo de duas décadas e meia. Nada diferente dos antecessores pós-redemocratização do País. 

Os 15 quesitos citados dão estrutura racional a meus ensaios. Aliás, é como faço nas análises de um jogo de futebol, cujos elementos de avaliação também chegam a uma dezena e meia de vetores. Minha lista eleitoral, como a lista esportiva, são cartas de navegação a sustentar argumentos. Coisa de maluco, podem dizer, mas tem dado certo.  

Sugeriria aos leitores que acessem o link logo abaixo para recuperar a leitura do texto de primeiro de outubro. Não mudou praticamente nada após o primeiro turno. É possível que a projeção de votos como resultado final (o tal mata-mata de um jogo só) ganhe impulso. Projetei vitória final de Bolsonaro por 56% a 44%. No decorrer dos próximos 15 dias pretendo fazer novas avaliações numéricas, sempre baseadas naqueles quesitos que fecham o cerco em torno de vetores que definem a preferência de cada leitor. 

Narrativa é decisiva 

Vale lembrar que entre aqueles pontos o cerne eleitoral é o que chamo de “domínio da narrativa”. Quem vender melhor o peixe para o eleitorado, ganha a disputa. Bolsonaro pode até errar, porque saiu bem à frente, mas não pode, como já disse, errar demais. O PT tem um calcanhar de Aquiles insuperável: a corrupção sistêmica que imobilizou praticamente todas as agremiações e políticos do País, anteriormente já permeáveis à sujeição menos organizada de vantagens financeiras. 

Não canso de repetir que o Brasil precisa passar pela ponte ou mesmo pela pinguela de Jair Bolsonaro na presidência da República. Se o capitão reformado cumprir o prometido e retirar da frente o maior de todos os obstáculos ao desenvolvimento econômico (o excesso do Estado em favor do liberalismo social), muitos dos percalços das últimas três décadas serão desmontados. 

O modelo econômico e a estrutura política do País estão falidos. E o suprassumo da incompetência na gestão pública brasileira está aqui, na nossa cara, ou seja, nesta Província decadente, dominada por corporações trabalhistas sanguessugas e por elites sociais e políticas egoístas e alienadas, quando não analfabetas. 

Mídia comprometida 

Existe má-vontade estonteante da maioria da crônica política (e também econômica) em relação a Jair Bolsonaro. Como falta fundamentação e sobra preconceito, além de protecionismo escancarado a todo candidato que se lhe faça oposição, é possível que tenham todos sofrido duras derrotas de credibilidade. 

Os jornalistas de grandes corporações, em larga escala, perderam o faro das ruas. Vivem encaixotados nas redações. E se metem a censores morais como pretendentes a doutrinar terceiros em contraste com os costumes ainda majoritários na sociedade brasileira. Caem no mesmo reducionismo daqueles que combatem. E esquecem dos grandes problemas nacionais. 

Quem sabe a estrondosa votação obtida por Jair Bolsonaro (uma alternativa de choque imediato que seduz muito mais que o ramerame de 30 anos) e a perspectiva do Brasil que todos devemos querer, expressas também o sucesso do Partido Novo, João Amoêdo à frente, nos levem num futuro não muito distante a novas configurações sociais e econômicas até atingirmos o liberalismo com que tanto sonho. 

Autoritarismo de mão dupla 

O autoritarismo de direita não é diferente do autoritarismo de esquerda. Fernando Haddad vem com a conversa mole de discurso pós-primeiro turno de que pretende preservar a democracia no Brasil. É sarcasmo demais. Justamente em nome de um partido que subverteu a própria democracia ao instaurar ditadura da roubalheira sistêmica que deformou o processo eleitoral com dinheiro de oportunistas empresariais nas estatais dominadas por políticos que aderiram ao chamado governo de coalizão de Lula da Silva e de Dilma Rousseff.

Os leitores mais assíduos conhecem o estilo deste jornalista e sabem que poderia, se quisesse, produzir um texto supostamente mais sofisticado. Entretanto, chequei ao ponto de que não é mais possível usar linguagem mais cuidadosa para dizer o que penso. 

É aviltante que, em contraposição à varredura iniciada pela Operação Lava Jato e ao modo rústico de Jair Bolsonaro no trato a questões de costume, puna-se a sociedade do direito sagrado de experimentar uma alternativa de governo. Sobretudo porque o terrorismo trombeteado alça falsamente ao topo da demanda nacional supostos riscos institucionais que afligiriam a democracia. Conversa fiada. Não totalmente fiada apenas porque o Brasil correria supostamente mais riscos com a volta de um governo que enfileira delinquentes políticos e empresariais. 

01/10/2018 - Bolsonaro tem mais bala na agulha para mata-mata final 



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