Política

Quem ganhou e quem perdeu
ontem na região. Vamos ver?

DANIEL LIMA - 08/10/2018

Vou adotar linguagem roussefiana para responder à pergunta que faço no título: é muito provável que quem ganhou também perdeu, da mesma forma que quem perdeu também ganhou, ou até mesmo de quem ganhou não perdeu. Num jogo de múltiplos resultados convexos, ou seja, em que interesses numéricos se associam a perspectivas eleitorais municipais, não é fácil construir diagnóstico perfeito ou quase assim sem contar, ainda, com mais detalhes do Tribunal Regional Eleitoral. 

Certo mesmo é que repetimos a dose e fizemos nove deputados (seis estaduais e três federais) de 2014. É pouco, mas é o que temos tradicionalmente. Até porque, convenhamos, mais eleitos, como em 1994, não significou mais de verdade na contabilidade de desenvolvimento econômico. Distante disso. 

Quantidade não é necessariamente ancoradouro de qualidade. Há controvérsias entre aqueles que querem fazer da política zona de embromação com o uso maciço de subjetividades, as quais não resistem aos fatos. Somos uma Província de baixíssima qualidade legislativa estadual e federal, sejam quantos forem nossos representantes. O que, convenhamos, não difere quase nada do Brasil. 

Pretendia escrever arrazoado numérico consistente, mas como não tenho à disposição detalhes importantíssimos que a Justiça Eleitoral ainda não disponibilizou, vou para o varejismo analítico com algumas considerações preliminares que, salvo engano, têm robustez suficiente para que não vire motivo de gozação. 

 O prefeito José Auricchio Júnior parece ser o maior vitorioso da praça regional, porque seu filho, Thiago, um iniciante, rompeu uma barreira praticamente intransponível ao chegar à Assembleia Legislativa. Afinal, São Caetano não conta com eleitorado suficientemente denso e livre de invasões de terceiros, sobretudo da vizinha Capital. Passar pelo estreitamento de votos locais exigiu alargamento em outras praças, que, ao que parece, foram bem coordenadas. E, por consequência, detona o conceito ortodoxo de Vote Pelo ABC. Em determinadas situações, o voto distrital misto informal é a saída para encontrar potencial de renovação política que se confirmará ou não com a atuação parlamentar. Como a vitória do filho seria pouco, ainda viu o adversário Fabio Palacio, apoiado pelo prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, desabar. Queimou o estoque de credibilidade à disputa municipal de 2020. 

 O prefeito Orlando Morando ganhou e perdeu. Ganhou porque elegeu a mulher Carla Morando com votação expressiva (embora longe de ser retumbante) em São Bernardo. Qualquer comparação da desvantajosa votação de Carla Morando frente a candidatos reeleitos pelo PT em São Bernardo seria apressada. Afinal, Luiz Fernando Teixeira, Vicentinho e Teonílio Barba absorviam a vantagem de mandatos anteriores. No caso de Vicentinho, muitos mandatos. Orlando Morando perdeu em duas frentes de batalha muito pessoais: o vice-prefeito Marcelo Lima fracassou e não chegou ao Congresso Federal; da mesma forma que Fabio Palacio naufragou igualmente ao pretender o principal endereço político do País.   

 Paulinho Serra, prefeito de Santo André, ganhou e perdeu. Perdeu porque não transformou nenhum dos aliados que concorreram à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal em representantes da região. Faltaram-lhes votos e, supostamente, apoio interessado para valer do próprio prefeito. Um prefeito que ganhou porque possivelmente terá menos dores de cabeça em 2020, quando pretende disputar a reeleição.  Paulinho Serra não criou nenhuma cobra para lhe tirar o sono (exceto eventuais ressentidos que se teriam frustrado com o braço curto do prefeito). Além disso, dois dos principais adversários, Aidan Ravin (ex-prefeito) e Vanderlei Siraque (ex-petista) ficaram no meio do caminho na corrida ao Congresso Nacional. Paulinho Serra faz administração medíocre em amplos aspectos, mas os potenciais adversários em 2020 repetem a fórmula da incompetência de 2016. 

 O deputado federal Alex Manente saiu vitorioso porque segue em Brasília num contexto em que enfrentou em casa a dura concorrência do tucano Orlando Morando e dos petistas. Obteve mais votos que o vice-prefeito Marcelo Lima, superou Ana do Carmo (petista que abriu mão da Assembleia Legislativa numa tabelinha com Luiz Fernando Teixeira e acabou se dando mal ao não obter os votos necessários para federal) e também Vicentinho, que se reelegeu com votos em outras praças. 

 O ex-prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, que obteve em números redondos o dobro de votos para o governo no Estado de São Paulo (12%) também sai relativamente vitorioso ao criar uma casta de votos que pode lhe dar força na tentativa de retomar o Paço Municipal. Marinho perdeu por pequena margem de votos para o líder João Doria em São Bernardo (111.307 contra 101.340). Quem afirma que uma coisa (disputa governamental) não tem nada com a outra (municipal) está sofismando. Tanto que a gestão de Orlando Morando fez tudo que era possível para impedir votação estrondosa do petista. Os 25% já são um problema para o futuro, mas havia ameaça de números mais robustos ainda. Luiz Marinho preferia ir além, claro. Como a votação obtida em Diadema, à frente dos demais candidatos. E, salvo erro provocado pela imprecisão do Tribunal Regional Eleitoral, com mais de 30% dos votos válidos. 

 Em Diadema, o vice-prefeito e candidato a deputado estadual apoiado pelo prefeito Lauro Michels alcançou o pretendido. Márcio da Farmácia chegou próximo a 50 mil votos no Estado e como integrante do Podemos atingiu o chamado quociente eleitoral. Também se elegeu, a deputado federal, Luís Carlos Motta (PR). Motta é voto corporativista como presidente da Fecomerciários, a Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo. 

 Em Mauá, todas as correntes partidárias comeram grama. Não se fez um deputado estadual e federal. A crise administrativa que virou caso de Polícia Federal e o arrefecimento do eleitorado petista, após tantos escândalos locais e nacionais, dissolveram o voto municipalista. Os ex-prefeito petistas Donisete Braga e Oswaldo Dias comeram poeira. Mauá virou hospedeira de candidatos estranhos ao ambiente diário de identidade própria rarefeita. É a casa da sogra eleitoral, não bastasse de cidadania, com tanta gente deslocando-se diariamente a outros municípios para trabalhar. Caso mais profundo também de Santo André, antigo “viveiro industrial”, cantado enganosamente nas escolas, bares e lares.  

 Um desconhecido capitão aposentado do Corpo de Bombeiro, o Coronel Nishikawa, comemora uma vaga no Congresso Nacional com escassos 23.094 votos. Ele representa diretamente o fenômeno Jair Bolsonaro na região. O PSL conta com um único representante local. E, pelas circunstâncias, uma vitória épica. Quem também sobrou na região e de forma contundente foi José de Fillipi Júnior: ele teve 25.345 votos em Diadema (43.382 no total do Estado), onde foi prefeito por três mandatos. Uma grande surpresa, mesmo em se tratando de um PT ainda metralhado pelos escândalos.



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