Política

Auricchio e Michels ganham;
Paulinho e Morando perdem

DANIEL LIMA - 15/10/2018

Ainda tenho muito a escrever sobre os desdobramentos das eleições de sete de outubro na região, principalmente envolvendo interesses dos políticos locais. Fiz breve balanço na semana passada, enquanto a mídia em geral se preocupava com os resultados numéricos. Diria que fiz mais que um breve balanço. O texto foi pontual.  

Aos poucos vou descer aos detalhes que ajudam a preparar interpretação mais sólida e supostamente resistente ao tempo. Sim, resistente ao tempo. Nada pior que esquecer o dia seguinte do texto digitado. Quem não tem preocupação com o que escreve ou diz é candidatíssimo ao descarte crítico.  

O que me move é uma narrativa independente da oficial, ou seja, dos diretamente interessados em puxar a sardinha dos resultados para a própria brasa. Aliás, como se viu hoje nas declarações do prefeito Orlando Morando no Diário do Grande ABC. 

Faz parte do jogo e assim deve ser entendido. Seria inédito se Orlando Morando avaliasse o ambiente pós-eleitoral em oposição a seus interesses. O lamentável é que o jornalismo regional e de maneira o jornalismo nacional insistem em entregar a responsabilidade de respostas exclusivamente aos próprios interessados. Mas isso é outra história. 

Vencedores e perdedores 

Considerando-se as quatro principais praças eleitorais da região nestas eleições (Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão fora da lista), diria que o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, e o prefeito de Diadema, Lauro Michels, só têm a comemorar: elegeram aliados (no caso de Auricchio, o próprio filho, Thiago, o mais jovem deputado estadual em São Paulo) e não viram as respectivas cidadelas tomadas ou comprometidas por adversários já conhecidos. 

Auricchio e Michels têm o comando dos respectivos paços municipais para coordenarem o jogo rumo às eleições de 2020, o primeiro com possibilidade de eleição e o segundo de ver vitorioso o vice-prefeito, Márcio da Farmácia, eleito deputado. No caso de Auricchio, o adversário a ser batido, Fabio Palacio, estatelou-se. Só não virou pó porque em política pó tem outra substância além da literal. 

Já os tucanos Orlando Morando e Paulinho Serra precisam se cuidar porque estão num compartimento em que os oposicionistas de verdade (no caso de Morando) e os supostos aliados (no caso de Paulinho Serra) podem provocar dissabores em 2020. 

A pior situação é a do prefeito Orlando Morando, que fez da mulher deputada estadual com votação razoável. Não interessa, no fundo, que a votação tenha sido apenas razoável do ponto de vista numérico, quantitativo, porque cada eleição tem características próprias e a generalização de análise sem contextualização é uma porta aberta à desqualificação do analista. Carla Morando foi eleita e está acabado.

O drama de Orlando Morando é outro, muito mais que o fracasso do vice-prefeito Marcelo Lima, barrado do baile da Câmara Federal. Morando deve estar morrendo de preocupação com os dois “emes” com os quais divide a política de São Bernardo há pelo menos uma década. Alex Manente reelegeu-se deputado federal e Luiz Marinho obteve votação no confronto estadual com pesos pesados da política estadual que lhe confere forte possibilidade de disputar para valer as eleições de 2020. 

Concorrentes graduadíssimos 

Marinho conquistou 25% dos votos válidos em São Bernardo (exatamente 25,72%) e disputou pau a pau a liderança com o tucano João Doria, que obteve 28,25%. Marinho não passou de 12,66% no Estado de São Paulo. Quem subestimar a votação de Marinho em São Bernardo entende pouco de política e de eleições. Um quarto do eleitorado mesmo concorrendo com três adversários de peso, além de Doria, Márcio França e Paulo Skaf, não é pouca coisa. 

Vou preparar ainda esta semana um texto específico sobre os números de Luiz Marinho em São Bernardo. Pretendo mostrar aos leitores o quanto é equivocado colocar o petista como perdedor no território em que atuou como chefe do Executivo durante oito anos seguidos. 

Os adversários dos petistas sabem que produzem versão falsa com interesse de minar a candidatura de Luiz Marinho às próximas eleições municipais. A narrativa significa algo que os tucanos não podem dizer publicamente, mas a psicologia explica: existe inquietação imensa, agora mais do que nunca, de que Luiz Marinho possa voltar ao comando do Paço Municipal. Entre outras razões, também, porque Alex Manente robustecido como novo mandato pode juntar-se ao petista de forma diferenciada das anteriores, sem o fingimento que o eleitorado detesta porque não gosta de ser tratado como otário. 

Marketing preparado 

Muita água vai rolar sob a ponte das circunstâncias até as eleições municipais daqui a dois anos, mas as cartas já começam a ser jogadas agora em São Bernardo. Tanto que Orlando Morando, na mesma entrevista ao Diário do Grande ABC de hoje, praticamente rifa o modo de fazer política da maioria dos tucanos, sintetizado no “em cima do muro” mencionado pelo prefeito. O marketing do prefeito dava nítidos sinais às primeiras horas pós-estrondo de Jair Bolsonaro de que procurará intensificar decibéis e formulações interpretativas de Orlando Morando, aproximando-o cada vez mais do jeito-jair-de-ser. 

Não existiria, nesse sentido, nada que soasse falso como a troca do vermelho pelo verde-amarelíssimo de Fernando Haddad no segundo turno presidencial. Morando é e sempre será um político estridente. Só não pode perder o eixo principal da narrativa que intensificará nos próximos tempos porque se sente ameaçadíssimo: acidez sem mensagem que chegue ao eleitorado pode ser suicídio eleitoral. 

Não é precipitada a conclusão preliminar (vale até as próximas eleições, claro, ou se estenderia além disso) que coloca Orlando Morando no polo passivo de resultados eleitorais de sete de outubro. 

Antes de as urnas serem colocadas à disposição dos eleitores em São Bernardo havia sólida avaliação de que Luiz Marinho e Alex Manente correriam sérios riscos de perderem terreno em São Bernardo. Deu-se exatamente o contrário. A comparação dos resultados de Luiz Marinho ao governo do Estado nesta temporada com a do petista Alexandre Padilha quatro anos atrás, como o Diário do Grande ABC escreveu ainda outro dia, não tem estrutura lógica. 

Sebo nas canelas 

Vou tratar de explicar isso e muito mais num novo texto. Há série de dados que oferecem a Luiz Marinho a possibilidade de voltar ao Paço Municipal. Por si só, essa interpretação instala o petista como um dos vencedores da temporada na região. Orlando Morando sabe tanto disso que já botou sebo nas canelas em busca de uma nova faixa de eleitores que se abriu tendo Jair Bolsonaro como nova fonte de inspiração. Mas precisará fazer muito mais para que a troca do azul pelo verde não seja fraudulenta como o vermelho pelo verde-amarelo petista. 

Quanto ao prefeito de Santo André, Paulinho Serra, o comentário é breve e poderá ser mais explorado no futuro: quem não transforma supostos aliados em vencedores corre o risco de criar um ambiente de ressentimentos que se consolidaria na medida em que a onda de insatisfação não encontra barreira de contenção. Santo André respira ambiente político-partidário tóxico. Paulinho Serra teria ultrapassado o território do egoísmo e se encaminharia à cristalização de um sentimento de repulsa entre aqueles que soçobraram nas urnas. A reeleição do tucano teria subido no telhado porque teria cometido o crime eleitoral de lavar as mãos quando os aliados esperavam que entrasse no rio do companheirismo. 



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