Política

Enéas surpreende até na
região. Duilio decepciona

DANIEL LIMA - 07/10/2002

A surpreendente votação do exótico candidato a deputado federal Enéas, do Prona -- que não só superou recordistas 1,5 milhão de votos como vai levar, pelas mais recentes informações, outros seis inexpressivos concorrentes do partido à Brasília --, equivale, em termos municipais, ao decepcionante balanço de votos do deputado federal petebista Duilio Pisaneschi em seu principal reduto eleitoral, Santo André. Pretenso candidato à sucessão de Celso Daniel, Duilio Pisaneschi foi simplesmente massacrado pelo petista Luiz Carlos da Silva, o Professor Luizinho. Enquanto Duilio teve 28.208 votos em Santo André, Luizinho atingiu 90.283, faltando a totalização de universo muito pequeno de votos. Na eleição anterior, em 1998, Duilio também perdeu para Luizinho, mas a diferença não chegou a cinco mil votos. 

O estrondo provocado por Enéas -- e também pela igualmente raivosa Havanir, campeã de votos à Assembléia Legislativa --, é o efeito retardado de protesto e de zombaria de parte do eleitorado que anteriormente votara no mesmo Enéas à presidência da República e o fez humilhar raposas antigas da política nacional, como Orestes Quércia e Ulysses Guimarães, entre outros, chegando em terceiro lugar ao final do pleito. Mais vexatório que os mais de 1,5 milhão de votos é o arrastão de candidatos do Prona que obtiveram votação de vereador de pequenos municípios brasileiros. 

Votação é mais que dobro do deputado 

Enéas conseguiu arrancar das urnas eletrônicas da região o digitar de 115.883 votos em seu insistente 5656. Mais que o dobro de Duilio Pisaneschi, que chegou a 49.567 votos nos sete municípios. Para valer mesmo, só perdeu para Vicentinho Paulo da Silva, que somou 149.757 votos. Não fosse o eleitorado de São Bernardo, que lhe deu 88.264 votos, até mesmo Vicentinho teria sido superado por Enéas. Já Luizinho, com 116.178 votos na região, empatou tecnicamente com Enéas. 

Perderá sentido factual qualquer ejaculação sociológica que se faça sobre a performance de Enéas Carneiro sem levar em conta a veia de deboche do eleitorado. Impossibilitado de sufragar um novo Cacareco dos tempos antigos, caso do Seu Creysson, de Casseta & Planeta, o eleitorado transferiu para Enéas Carneiro  e também para Havanir o descaso com o sistema político. 

A soma dessa tipologia de votos com 16% de abstenções coloca em xeque a grandiloquência com que se tenta vender, na grande mídia, a idéia de que a democracia política brasileira é exemplo para o mundo. Bobagem: exemplo mesmo são as urnas eletrônicas, invenção tipicamente tupiniquim que mostra, sem exageros, o quanto perdemos de talentos nas mais distintas atividades humanas ao desprezar o DNA coletivo de uma Nação fertilíssima na miscigenação retroalimentadora de potencialidades. 

Infelizmente, e esse é contraponto obrigatório em qualquer análise que se faça sobre o Brasil, o aniquilamento do Estado desdobrou-se na seletividade de oportunidades e na redução do ritmo de mobilidade social que ajudam a explicar fenômenos bizarros como o dos doutores Enéas Carneiro e Havanir. Nesse ponto, os brasileiros paulistas só confirmam a criatividade de nosso povo, ao partir pura e simplesmente para o deboche. 

A democracia política é apenas uma das multifaces do capital social. Sem democracia habitacional, sem democracia de saúde, sem democracia de transporte, sem democracia de educação, sem democracia econômica, o que se tem, de fato, é um arremedo vendido como suprassumo. 

Luizinho tem mais de 90 mil e Russomanno apenas 10 mil

No plano estritamente doméstico, os 90.283 votos de Luiz Carlos da Silva em Santo André o tornariam prefeiturável petista, no caso pouco provável de João Avamileno encontrar dificuldades internas no partido para viabilizar-se. A expressiva votação do Professor Luizinho não pode ser descontextualizada do ambiente corrosivo que atingiu Santo André desde a morte de Celso Daniel e as denúncias eleitoreiras -- até prova em contrário -- de propinas no Paço. A decepcionante votação de Duilio Pisaneschi e a possibilidade de o petebista não conseguir o terceiro mandato consecutivo em Brasília podem facilitar a tarefa do PT em Santo André em 2004. 

Os 10.338 votos de Celso Russomanno foram muito aquém do que se projetava para o deputado federal que, concorrente à Prefeitura de Santo André em 2000, chegou a 80 mil sufrágios. Está certo que são eleições distintas, mas a frustração de Russomanno, que esperava pelo menos 30 mil votos em Santo André, não pode ser desqualificada como indicativo de que não será simplesmente a ausência de Celso Daniel no próximo pleito municipal o elemento homogenizador dos concorrentes. 

Entre os candidatos a deputado estadual com possibilidades de disputar a Prefeitura de Santo André em 2004, o fracasso do deputado estadual Newton Brandão, que somou 22.052 votos no Município, atrás de Vanderlei Siraque, José Dilson e Heleni de Paiva, parece sinalizar que o triprefeito não retornará mais ao Paço Municipal como chefe de Executivo. Aliás, na eleição anterior Brandão também não se elegeu. Entrou mais tarde como suplente.  

Marquinho Tortorello perde em casa para vereador do PT

Surpresa também em São Caetano: o deputado estadual Marquinho Tortorello, carregado no colo pelo prefeito Luiz Tortorello, conseguiu a façanha de chegar em segundo lugar, mais de dois mil votos atrás de Hamilton Lacerda, vereador petista do Município. Outro vereador petista, Horácio Neto, chegou em terceiro. A mais centrista das cidades da região, São Caetano teve três centro-esquerdistas petistas entre os 10 primeiros colocados na disputa estadual. Na federal, nada menos que sete petistas trafegaram pelos primeiros 10 postos em São Caetano. 

Vicentinho carimbou eventual passaporte à disputa da Prefeitura de São Bernardo com 88.264 votos a deputado federal. Mais que o dobro de Edinho Montemor, segundo colocado, do PSB, com apoio do Paço. O PT coloca seis entre os 10 mais votados a deputado federal. Na disputa para a Assembléia Legislativa, Ana do Carmo, do PT, teve 51.766 votos na liderança da disputa, contra 37.673 de Orlando Morando, apoiado pelo Paço, segundo colocado. 

O ex-prefeito Leonel Damo viveu inferno astral pisaneschiano em Mauá, ao conquistar apenas 15.778 votos, derrotado pelo petista Donisete Braga, deputado estadual, com 53.297 votos. Entre os candidatos a deputado federal, o petista Wagner Rubinelli somou 59.481 votos, quase quatro vezes mais que o forasteiro eletrônico Enéas, segundo colocado. Como se observa, Donisete Braga e Wagner Rubinelli podem fazer dobradinha respeitável à sucessão de Oswaldo Dias, embora as informações de bastidores dêem conta de que o vice-prefeito Márcio Chaves ocupa a poli-position. 

O deputado estadual e ex-prefeito José Augusto da Silva Ramos deu mais uma prova de que a Prefeitura de Diadema pode voltar a rechear-lhe o currículo: com 48.171 votos, praticamente empatou com os 48.879 votos do candidato do Paço, Mário Reali. Como o prefeito José de Filippi Júnior tem direito a candidatar-se à reeleição, é melhor José Augusto garantir mesmo sua vaga na Assembléia Legislativa. 

Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não têm colégio eleitoral para sustentar votos de candidatos locais em número suficiente para sonhar com a Assembléia Legislativa ou com a Câmara Federal. Por isso, são terras de forasteiros eleitorais, egressos ou não do Grande ABC.

João Daniel pode ser cabo eleitoral do PSDB

João Daniel pode ser utilizado largamente pelo PSDB na disputa com o PT pelo Palácio dos Bandeirantes e pelo Palácio do Planalto. O staff nacional do PT trabalha com essa possibilidade, que nada teria de surpreendente. Afinal, desde que fez a denúncia de suposta propina, instrumentalizada por opositores petistas de Santo André, o que João Daniel pretendia mesmo era criar massa crítica para engrossar o caldo de desconfiança sobre a acidentalidade da morte de seu irmão, o prefeito Celso Daniel. 

Embora haja setores do PSDB que condenem artilharia pesada na disputa por votos -- até porque, como ficou comprovado no primeiro turno o tiro pode sair pela culatra -- a possibilidade de iminente derrota de Geraldo Alckmin e, principalmente, José Serra, levaria parte dos marqueteiros dos dois candidatos ao que chamam de operação kamikaze. E para isso se prestaria um membro da Família Daniel. Vincular o sequestro seguido de morte de Celso Daniel aos amigos petistas é manobra perigosa que poderá custar caro a João Daniel nos desdobramentos dos resultados eleitorais.  O feitiço da acusação sem provas pode virar contra o feiticeiro.

Vote com Cuidado no Grande ABC. Você concorda com isso?

Até as vésperas das eleições, queremos saber dos emeiados do Capital Social OnLine o que acham sobre a campanha Vote no Grande ABC. Manifestem-se. 



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