Política

Grande ABC elegeu Lula
presidente no primeiro turno

DANIEL LIMA - 08/10/2002

Provavelmente sem conhecer estatísticas que, de forma inédita, temos publicado neste Capital Social Online e também na revista LivreMercado, grande parcela dos eleitores do Grande ABC que foram às urnas no último domingo confirmou o sentimento deste jornalista e consagrou Lula da Silva presidente do Brasil no primeiro turno. Isso mesmo: se o Brasil fosse o Grande ABC em matéria de sensibilidade e de perdas econômicas e sociais, Lula da Silva teria dado sonoro não ao situacionismo, elegendo-se presidente da República.

Os dados de que disponho do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo são quase definitivos, mas o resíduo do final da tarde de ontem não altera o insumo básico dessa análise. Lula da Silva obteve 58,40% da preferência nos sete municípios do Grande ABC, que contaram com 1.333.049 votos válidos. Ganhou com sobras da soma dos demais candidatos: José Serra alcançou 18,34%, Garotinho 13,81% e Ciro Gomes 8,63%. O que falta é do outro candidato, o tal de José Maria. Nenhum Estado do País tingiu de vermelho tão pronunciado as urnas eletrônicas. Quem mais se aproximou foi a Bahia, com 56%. 

Como se pode observar, não é simplesmente a força e a tradição petistas na região que ajudam a explicar a enxurrada de votos digitados em favor de Lula da Silva. Afinal, a linha de corte do voto de esquerda na região está aquém dos números finais da disputa presidencial. O que existe de fato de forma suplementar e que só contribui para robustecer o diagnóstico é que a água bateu tanto no bumbum de grande parte dos 2,350 milhões de habitantes da região que, mesmo com preconceito fundamentado no passado à ideologia petista, não há como alinhar-se aos pretensos herdeiros de Fernando Henrique Cardoso.

Ninguém fica imune ao rebaixamento do PIB 

Nenhum governo fica isento da responsabilidade ao fazer baixar em apenas sete anos um terço do PIB (Produto Interno Bruto) de uma região, como é o caso do Grande ABC sob o domínio da Era FHC. Aqueles que procuram enfiar os problemas criados pelo governo FHC ao Grande ABC no saco de gatos de dificuldades de outras regiões erram perigosamente pela desinformação ou pela incompetência de cavoucar números. Nenhuma outra região do País sofreu tanto quanto o Grande ABC nesses sete anos. 

Exceto a conservadora São Caetano, que lhe destinou 45% dos votos válidos como o candidato mais bem votado, todos os municípios da região consagrariam Lula da Silva presidente na primeira rodada e dispensariam mais três semanas de embates até que se chegue o dia fatal em que provavelmente um retirante chegará à presidência da República. Quem imaginava que a industrialização eleitoral de denúncias contra o governo petista de Santo André comprometeria o prestígio do partido no Município caiu do cavalo, porque Lula contabilizou 57,8% dos votos válidos. 

O melhor desempenho relativo do ex-sindicalista teve a Capital Política do Grande ABC, a efervescente Diadema, como centro irradiador da onda vermelha: 62,5% dos votos válidos. São Bernardo e Mauá não ficaram muito atrás: a primeira somou 60,1% dos votos válidos a Lula, enquanto a segunda chegou a 60,8%. 

Pelo menos enquanto não saem os números definitivos do TRE-São Paulo, Lula da Silva registrou 778.533 votos no Grande ABC, de um total de 1.333.049, enquanto José Serra teve de se contentar com 244.547, Garotinho com 184.112 e Ciro Gomes com 115.049. 

Lula poderá chegar a um milhão de votos na região

Salvo algum acontecimento extraordinário que eventualmente altere demais o sopro de protesto combinado com esperança e mude as eleições presidenciais, não há por que deixar de acreditar que Lula da Silva atingiria, no segundo turno, mais de um milhão de votos na região. A tendência de a maioria dos votos de Garotinho e Ciro Gomes desaguar nas águas petistas e também a clara possibilidade de redução do quadro de abstenção, votos nulos e votos em branco, tratarão de catapultar Lula da Silva a uma consagração histórica. 

Como prognosticamos aqui na semana passada de forma pública, e uma semana antes em conversas reservadas, José Genoino está no segundo turno para o governo de São Paulo. E a julgar pela votação na região, quando lhe faltou pouco para seguir os passos de Lula da Silva na obtenção da maioria dos votos válidos, é bom o governo peessedebista tomar cuidado porque o desleixo com duas pontas de um novelo complexo de administração, a área de segurança pública e a economia, poderá lhe custar caro. 

Como é candidato a vice-governador na chapa petista, além do cabelo de Lula da Silva e do bigode de José Genoino, o PT pode também fazer a barba com Luiz Marinho. Mesmo que esse afável sindicalista não a tenha, literalmente contrariando o estereótipo da classe. 

A onda vermelha que varreu ampla parte do território brasileiro foi mais acentuadamente impactante no Grande ABC. Tanto que José Genoino saltou à frente e terminou em primeiro lugar com 604.322 votos, ou 45,78% do total válido. Mais que os 350.589 votos de Geraldo Alckmin (26,56% dos votos válidos) e bem mais que os 252.855 (19,15% dos votos válidos) de Paulo Maluf. 

Genoino é um péssimo adversário para Alckmin

Genoino é um fenômeno porque tudo indicava que não tinha lastro para rivalizar com o candidato governista e também perderia o fôlego para o calejadíssimo Maluf. Entretanto, na primeira experiência eleitoral a cargo de executivo, com a visibilidade de executivo, eis que José Genoino dispara de forma avassaladora. O resultado não poderia ter sido pior para Geraldo Alckmin. O oposicionita Paulo Maluf teria calcanhares-de-Aquiles bem mais salientes para ser estocados e provavelmente confirmaria as pesquisas que o colocam sempre como vice-campeão no segundo turno. 

José Genoino só tem pecadilhos ideológicos que o próprio PT trata de dinamitar por instinto de sobrevivência eleitoral e carrega a grande vantagem de poder usufruir, por osmose, da onda lulista à presidência da República. Uma dobradinha Lula-Genoino, hoje, parece muito mais palatável ao eleitorado paulista -- 25% dos votos dos brasileiros. 

Imagem de Alckmin é mais agradável que a de Serra

Talvez o ponto mais reconfortante para os peessedebistas é que Geraldo Alckimin tem imagem muito mais agradável do que José Serra. A um parece não faltar empatia na proporção em que rareiam cabelos, enquanto a outro parece exceder calvície na mesma proporção de escassez de carisma. A gestão Covas-Alckmin foi menos desastrosa para o Grande ABC se confrontada com a Era FHC mas, excessos à parte de correligionários, o governo do Estado fez muito pouco se confrontado com as necessidades e carências da região. Sem contar que, no âmbito estadual, a guerra fiscal foi simplesmente subestimada pelo governador Covas durante os dois mandatos incompletos e Alckmin não teve tempo nem infra-estrutura para iniciar reação. 

A economia paulista perdeu em números absolutos e relativos muito para a concorrência nacional. E a violência deu pinotes insustentáveis. O lado positivo da gestão Covas-Alckmin foi o ponto final que se colocou na malversação do orçamento estadual. Contrariamente, portanto, aos antecessores, Luis Antonio Fleury e Paulo Maluf. 

O problema para que esse legado seja reconhecido e de alguma maneira minimize os custos eleitorais da decadência econômica e da ebulição criminal é que Geraldo Alckmin não vai enfrentar um representante tradicional do populismo irresponsável. José Genoino não tem passivo gerencial que o condene e até mesmo o fato de ter sido guerrilheiro não é argumento que convença o eleitorado mais conservador de que podem conduzir ao Palácio dos Bandeirantes um desordeiro. Serra também o foi (guerrilheiro), embora menos beligerante. Além disso, o eleitorado deixou claro que o passado só conta mesmo quando mexe com o bolso do contribuinte-eleitor. 

Prêmio Desempenho em doses homeopáticas

A partir de hoje até a próxima sexta-feira a emissora TV Mais ABC vai apresentar por 15 minutos diários a festa da nona edição da premiação que levou três mil convidados ao Clube Atlético Aramaçan, em Santo André, no último dia 24. O canal 8 é a sintonia que, a partir das 23h30, vai mostrar flashes da festa que laureou 5 Melhores dos e Melhores, 12 Melhores do Anos, além de 21 Empreendedores divididos nas categorias Social, Histórico, Cultural, Esportivo e Personalidades do Ano, e de 10 novas Nossas Madres Terezas.

Vote com Cuidado no Grande ABC. Você concorda com isso?

Até as vésperas das eleições, queremos saber dos emeiados do Capital Social OnLine o que acham sobre a campanha Vote no Grande ABC. Manifestem-se. 



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