Entrevista Especial

Unanimidade
e Diversidade

DANIEL LIMA - 05/09/2006

O que candidatos a deputado estadual e a deputado federal do Grande ABC pensam a respeito do conceito de renovação na política? E dos votos brancos e nulos depois do vendaval dos escândalos no Legislativo nacional? E sobre a regionalidade do Grande ABC? Como analisam o decálogo de desenvolvimento econômico preparado por LivreMercado como paradigma de recuperação de uma região duramente atingida pela globalização e pelos efeitos colaterais verde-amarelos? 

LivreMercado resolveu ouvir uma parte dos candidatos. Enviou questionário a quase duas dezenas deles. Estabeleceu como critérios de participação respostas sucintas e prazo de entrega. Nove deles atenderam às orientações. Suas respostas estão na entrevista especial que se segue. 

Não é surpresa alguma que a totalidade dos candidatos afirme que regionalidade é questão intrínseca ao futuro da região de mais de 2,5 milhões de habitantes. E que também diversifiquem olhares sobre a principal prioridade dos pontos por si sós elementares do decálogo. Há quem considere decisiva a contratação de consultoria especializada para traçar os rumos táticos e estratégicos da região. Outros querem mesmo o setor automotivo dinamizado. O complexo químico-petroquímico do Pólo do Grande ABC também está no horizonte próximo. 

LivreMercado não acrescenta às identidades dos candidatos as respectivas siglas partidárias porque não dá tratamento político-eleitoral ao trabalho jornalístico e também porque avalia que os problemas do Grande ABC não passam necessariamente pela ponte sempre bombardeada e contraditória do partidarismo.

Entre os entrevistados há três deputados estaduais (Mário Reali, Vanderlei Siraque e Giba Marson) eleitos em 2002. A decisão de enviar questionário aos candidatos faz parte da política editorial de LivreMercado. Diferentemente da maioria da mídia, que subordina a pauta às fontes de informação, LivreMercado adota o sistema de direcionar os temários conforme as necessidades mais prementes do Grande ABC. 

O que o senhor entende como renovação na política?

Raimundo Salles — Entendo que a renovação da prática política ocorrerá em face de todos os problemas que o País tem vivido. Não podemos desconhecer que grande parte dos erros apontados nos políticos brasileiros deve-se ainda ao aprimoramento da recente democracia brasileira. Também deverá ser renovada a prática utilizada para se chegar ao poder. O atual modelo de financiamento de campanhas, apesar de inovações, ainda deixa a desejar, visto que muitas vezes compromete candidatos antes mesmo de chegarem ao poder. Dessa forma, o financiamento público de campanha, bem como o voto distrital, seria mecanismo para promover de forma definitiva e segura a renovação política. Ou seja: não basta trocar os homens: tem que ser alterado o modelo de fazer política com profunda reforma partidária e política.

Vanderlei Siraque — É a capacidade de propormos novas idéias e ações para o enfrentamento dos desafios presentes e futuros, mas sem o esquecimento das experiências acumuladas ao longo dos anos. É com erros e acertos que podemos planejar ações e construir novas perspectivas políticas. 

Heiguiberto Guiba Navarro — Renovação na política é fundamental para o Brasil. Na verdade, utilizando um preceito básico de que tudo se transforma, diria que estamos passando por momento transformador. Vivemos durante muitos anos política de coronelismos e passamos por um regime ditatorial; hoje vemos as coisas com mais transparência, de forma mais limpa e democrática. Este pleito será de mudanças. Não elegeremos mais quem promete um par de chinelos ao eleitor e sim quem tem propostas em conjunto com trabalho de base.

Mário Reali — Renovação antes de tudo é a maior conscientização dos eleitores em relação aos seus direitos. O voto é uma arma da democracia e cada vez mais é usado para aprimorar o funcionamento da sociedade e o fortalecimento das instituições. Portanto, renovação não quer dizer necessariamente novos nomes para mandatos majoritários e proporcionais. O País vem avançando no sentido de a população participar mais ativamente da política que entendemos não se dá apenas na disputa eleitoral, mas no dia-a-dia, nas instituições, nos sindicatos e nos movimentos sociais. O Grande ABC é exemplo desse envolvimento político-social. Aqui foi o berço do PT e da CUT; foi daqui que Lula iniciou campanha vitoriosa ao Planalto. 

Sandra Machado — Veja a que ponto chegamos: você confia no seu vizinho? Nas instituições que objetivam promover a segurança pública? Nas instituições que representam Deus perante nós? Na lisura e melhor alocação dos impostos que pagamos? Nos pronunciamentos do Poder Executivo? Renovar, para mim, é fazer com que os homens tenham palavra. É fazer com que caráter não seja apenas uma palavra, mas a força que define uma personalidade. Olhe que não estamos falando de nenhuma nova forma, fórmula ou coisa parecida. Nada do outro mundo. Estou apenas dizendo que, se os homens têm tanto desprezo pelas calças que vestem, nós, as mulheres, filhas e filhos desses homens, precisamos dessas calças para termos uma política limpa, consciente, digna, decente, crível. Afinal, mesmo eleita, continuarei sendo governada. Renovar para mim significa tudo isso.

Alex Manente — Renovação na política significa buscar alternativas para os problemas que afligem a população, estando presente no dia-a-dia da comunidade e cuidando das questões próximas aos munícipes. Ao eleitor cabe eleger políticos com passado limpo, de princípios éticos e comprometidos com idéias e atitudes que atendam às expectativas da população, principalmente nas áreas de educação, saúde, segurança e emprego. Como também negar o voto a políticos que estejam envolvidos em corrupção e que só pensam em benefício próprio. 

Giba Marson — É o posicionamento moderno e atualizado do ente político eleito, identificado com políticas públicas atuais.

Antonio Leite — Entendo que a renovação tem como base a vontade política inteligente, a capacidade de se indignar e agir de maneira adequada diante de situações contrárias ao interesse público. Ser, na verdade, um agente transformador que induza mudanças concretas na sociedade. 

Horácio Neto — A renovação política mais substancial ocorre no plano das idéias. Para tanto, faz-se necessário que deixemos de lado o apego exagerado às estruturas arcaicas e nos coloquemos sempre receptivos aos novos valores. Em nossa sociedade as propostas que em determinado momento carecem da audiência da maioria das pessoas, no momento seguinte se mostram hegemônicas e importantes para o avanço social. Não podemos descartar, além da renovação das idéias, também a renovação das pessoas, pois, na maioria das vezes, uma coisa está associada à outra.

Dos 10 pontos que listamos como prioritários para o desenvolvimento econômico do Grande ABC qual, de fato, é que lhe chama mais atenção e que, portanto, julga indispensável à aplicação?  

Raimundo Salles — Entendo que a contratação de consultoria especializada em competitividade para reorganizar todo o sistema econômico do Grande ABC, de modo a enfrentar o mundo globalizado sem perda de tempo, sem dúvida alguma é o principal ponto dos temas ora apresentados, pois só se pode prescrever remédio para essa doença crônica, ou seja, municipalismo autárquico, com diagnóstico preciso. Assim, uma consultoria externa não estaria contaminada pelo partidarismo que domina a nossa região e, com isso, poderia indicar o caminho a ser adotado por esse e os futuros governantes em conjunto com essa proposta. 

A questão de formação de um conselho regional com representantes governamentais, não-governamentais e econômicos, para gerar e impulsionar políticas de potencialização do sistema de segurança pública, voltadas ao interesse da população do Grande ABC, vem a meu agrado. Com essas duas tarefas realizadas, a identificação do problema e a participação dos representantes regionais no Consórcio, todos os outros temas seriam debatidos. Ao final, seriam apontadas soluções.

Vanderlei Siraque — Os 10 pontos são essenciais e têm interface, mas acredito que o mais importante neste momento é o item que propõe a contratação de consultoria especializada em competitividade para a reorganização do sistema econômico do Grande ABC, tendo em vista os desafios da globalização. Acredito no desenvolvimento sustentável para a solução dos problemas sociais e do financiamento dos serviços públicos. 

Heiguiberto Guiba Navarro — O mais importante e que me parece ser de maior pressa é a recuperação da indústria automobilística do Grande ABC, uma vez que vem caindo a produção e gerando desemprego enorme. Sei que demissões vêm sendo evitadas, mas uma hora acontecerão se não houver essa retomada. O Grande ABC depende muito das receitas dessas montadoras; algo que ao longo dos anos foi uma política errada. Por se tratarem de multinacionais, podem deslocar-se para outras regiões onde o custo produtivo seja reduzido. Deveriam ter investido na formação de um Grande ABC mais forte, com receitas menos dependentes desse ou aquele setor. Evitaríamos fragilização como agora.

Mário Reali — O desenvolvimento econômico é resultado de ações dos diversos agentes públicos e privados. Tais ações não raro acontecem de forma desarticulada e até conflitante. Por esse motivo, na primeira pesquisa referente ao decálogo indicamos como prioritárias ações relacionadas à gestão e reorganização do sistema econômico regional, com especial atenção para os setores automotivo e petroquímico, por entender que a articulação entre diferentes atores, tendo por base uma aproximação sistêmica dos constrangimentos e oportunidades e também um acordo sobre as estratégias e prioridades de ação, é fundamental para direcionar o desenvolvimento regional. Assim, entendemos que o impulso ao desenvolvimento econômico do Grande ABC, cujas determinantes são dadas pelas conjuntura local e regional, nacional e internacional, depende da implementação de uma série de ações conjugadas, que possam fazer frente a um cenário de maior competitividade.

Indicamos como indispensável o ponto relacionado ao setor automotivo. Ainda que entendamos que é necessária a adoção de política que possa induzir à diversificação da economia local com vistas principalmente ao aproveitamento das potencialidades dadas pelo maior pólo econômico e mercado consumidor da América Latina, é fundamental priorizar nossa atenção no setor automotivo, que responde por cerca de 70% do PIB regional.

Sandra Machado — Elevar o Rodoanel e o Ferroanel a patamares de providenciais estruturas de transporte, impedindo-se a possibilidade mais que viável de tornarem-se modais prevalecentemente de passagem de riqueza pela geografia do Grande ABC, como ocorreu ao longo da história com a rede ferroviária.

Alex Manente — Considero todos os 10 pontos relevantes para o desenvolvimento econômico do Grande ABC, mas devido ao momento de insegurança que estamos vivendo, com graves ameaças à ordem social, destaco o ponto seis do decálogo: a falta de segurança pode comprometer iniciativas para a melhoria da região. Por isso, acho fundamental a formação de conselho integrado por representantes governamentais, não-governamentais e econômicos, que crie novas políticas para o sistema de segurança pública em conjunto com os governos estadual e federal visando, com isso, prevenção e diminuição da violência em nossas cidades. 

Giba Marson — Acredito que os 10 pontos se completam, mas gostaria que no item um, relacionado ao Consórcio Intermunicipal, houvesse participação dos deputados estaduais e federais.

Antonio Leite — O que chama mais atenção é a extensão de ações sistêmicas de empresas do Pólo Petroquímico de Capuava pelos motivos seguintes: a) A duplicação do Pólo Petroquímico que está em pleno movimento e conseguiu unir os esforços das esferas municipais, regionais, estadual e federal; b) Uma planta petroquímica é considerada no meio de negócios como a “fábrica das fábricas”, porque fornece matéria-prima para indústrias de segunda geração que, por sua vez, fornecem material para as grandes, médias, pequenas e micros numa multiplicação de fábricas que, por sua vez, estimula o comércio local; c) Considero que todas as cidades do Grande ABC (em especial Santo André e Mauá) deverão envidar esforços para que muitas fábricas se instalem na região que já possui vantagens locacionais e oportunidades como mão-de-obra qualificada, meio acadêmico e científico (Fundação Santo André — UFABC e outras) vocacionado e dirigido para essa área. 

Horácio Neto — É muito difícil escolher um único item entre tantos enunciados de fundamental relevância para o desenvolvimento regional. Contudo, o item sete, que propõe reorganização e reocupação dos espaços físicos do Grande ABC, merece destaque especial, pois permite atacar o problema da evasão industrial que assolou nossa região. Considero que o objetivo estratégico regional deve ser a manutenção do perfil industrial que sempre caracterizou o Grande ABC. Para tanto é preciso articular esforços governamentais e não-governamentais para o repovoamento industrial, além de preservar os espaços produtivos já existentes. O setor terciário também é importante, desde que combinado com o dinamismo gerado pela atividade industrial.

O senhor acredita que, em face aos escândalos envolvendo deputados, o índice de votos nulos e brancos superará outras disputas?

Raimundo Salles — Entendo que pode haver crescimento, mas nada substancial. Por outro lado, vejo que essa crise teve um lado positivo: o eleitor ficou mais criterioso com o gasto de campanha, bem como mais politizado. A médio prazo, isso levará a população a ter participação mais efetiva no processo político. Também é necessário que se frise que a crise não envolve só os deputados, como menciona a pergunta: é uma crise das instituições em geral, ou seja, do Judiciário, do Legislativo e do Executivo. Assim, acima de tudo, espero que a população não anule voto. Para mudar esse estado de coisas, é necessário separar políticos éticos, com propostas, dos que não têm nenhum projeto político em benefício da população.

Vanderlei Siraque — Todo escândalo gera descrença na representação política e nas próprias instituições democráticas, mas o eleitor saberá escolher de forma consciente e separará o joio do trigo. É sempre bom lembrar que o voto anulado ou em branco, historicamente, tem favorecido os envolvidos em escândalos e prejudicado quem presta contas de suas atividades. 

Heiguiberto Guiba Navarro — Imagino que os escândalos envolvendo deputados refletirão na renovação do Congresso Nacional. As pessoas não devem anular ou deixar em branco seus votos. Pode ser que se tenha até crescimento de votos brancos e nulos. Penso que seria um desperdício: o maior exercício de um Estado Democrático de Direito, como o que vivemos, é o voto. O voto não faz distinção de cor, raça, crença ou condição social; nos iguala, serve como ferramenta de transformação. As pessoas devem estar mais atentas e valorizar o voto, cobrando do deputado atitudes e trabalho.

Mário Reali — Acho que a falta de credibilidade do Parlamento e a descrença aumentaram e isso pode impactar nos votos válidos. Porém, é uma hipótese. Outra questão é que a sociedade com certeza leva em consideração o valor do voto. Nesse sentido, o eleitor faz balanço se o deputado em quem ele votou correspondeu às expectativas, levando a redefinir ou não o voto. Essa movimentação é a origem da renovação das bancadas partidárias nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras dos Deputados. Ou seja: nestas eleições acredito que poderá fortemente acontecer duas movimentações: uma que vai tentar desacreditar o Parlamento e outra que visa a renovar esse mesmo espaço. 

Sandra Machado — Essa é uma situação delicada. Não acredito que o voto nulo ou em branco seja a melhor forma de protesto. É perigoso disseminar essa idéia. Quanto mais votos nulos e brancos, mais possibilidade terá o sanguessuga, o mensaleiro, de permanecer onde está.

Alex Manente — Acredito que os votos nulos e brancos vão superar o número de outras disputas. A população nunca presenciou tanto escândalo envolvendo políticos, como nos últimos tempos; por isso está desiludida com a classe política e desinteressada pelas eleições. Acredito que o voto nulo ou branco poderá ser utilizado como forma de protesto. Porém, como político, tenho o dever de conscientizar o eleitor da necessidade de votar. Nem todos os políticos são iguais e precisamos, sim, conhecer melhor os candidatos, questionando suas propostas para votar com consciência e fazendo a melhor escolha possível. 

Giba Marson — Não acredito. O eleitor compreende que para criticar é preciso participar do processo eleitoral.

Antonio Leite — A mídia passou o segundo semestre de 2005 abordando a CPI dos Correios e dos Bingos. Neste ano, o escândalo dos sanguessugas também ocupou grande espaço na mídia. As somas dessas questões influenciarão na postura do eleitor diante das candidaturas ao Legislativo. 

Horácio Neto — Os tais escândalos surgem quase que diariamente, causando indignação e desencanto na população. Mensaleiros, sanguessugas, ações contra o crime do colarinho-branco no Executivo e no Judiciário feitas por órgãos policiais e absolvições escandalosas de deputados escondidas pelo famigerado voto secreto no Parlamento transformaram a bandeira de combate à corrupção e da ética na política em uma das questões centrais no atual processo eleitoral. A população precisa dar uma resposta exemplar nas urnas, condenando a corrupção e os corruptos, o que não significa necessariamente votar nulo, e sim escolher criteriosamente os candidatos, observando o passado e o presente de cada disputante. O Brasil necessita de uma verdadeira revolução contra a corrupção.

O senhor acredita que a regionalidade é um projeto de possibilidades evidentes no Grande ABC dividido pelo municipalismo autárquico e pelo partidarismo, ou ficaremos flutuando na abstração de ver o tempo passar e nada de efetivo acontecer?

Raimundo Salles — Acredito que os problemas regionais só poderão ser resolvidos através da sinergia entre os municípios e que as vaidades dos chefes do Executivo das respectivas cidades sejam colocadas de lado no interesse coletivo. Problemas como lixo, transporte, trânsito e outros não podem mais ser discutidos de forma isolada. Sou pelo fortalecimento do Consórcio Intermunicipal como mecanismo para a promoção do bem-estar regional, bem como entendo que questões partidárias, especialmente divergências entre os blocos petistas e outros, deveriam ser deixadas de lado. Falta planejamento estratégico, pensar a região de forma macro. A bandeira do municipalismo individualista já está ultrapassada. Temos que falar em união, em região sem fronteiras. Ainda ouso mais: seria a favor de um parlamento regional, com representantes das Câmaras de cada Município, que pudesse até legislar sobre matérias que envolvam interesses regionais — uma espécie de parlamento da Comunidade Econômica Européia.

Vanderlei Siraque — Todos podem e devem ter convicções político-ideológicas, desde que sejam transparentes e claras. Entretanto, penso que interesses gerais da região estão acima dos interesses privados dos grupos estanques. Assim, acredito no planejamento estratégico, nas decisões via critério do consenso progressivo. Em vez de pontuarmos somente aquilo que nos separa poderíamos pontuar aquilo que nos converge, ou seja, os pontos em comum de cada agrupamento para a nossa região, fundamentados nos relatórios técnicos de consultorias especializadas. 

Heiguiberto Guiba Navarro — Em um projeto de regionalidade, uma região com PIB equivalente ao Reino Unido tem possibilidade a médio e longo prazo de implementar projeto de sucesso, respeitando a vocação natural de cada cidade. Falando no Grande ABC como um todo, teríamos de fazer série de ações para a retomada do crescimento e olhar com mais atenção para as individualidades de cada Município. Não podemos segregar algumas coisas que nos saltam aos olhos, como o declínio da produção industrial e o aumento do desemprego. 

As individualidades também não podem ser perdidas. Vejamos o caso de Ribeirão Pires e de Rio Grande da Serra, com belezas naturais próprias e que poderiam ser exploradas em sua totalidade. Diferentemente do que acontece com São Bernardo e Santo André, que são mais industrializadas e poderiam expandir-se. Esses fatores me levam a crer que tem de se pensar em projeto de longo prazo para a recuperação do Grande ABC, esquecendo-se projetos pessoais individuais e, principalmente, políticas de esquerda ou direita. A atitude correta é desenvolvimento sustentável, privilegiando o Grande ABC e não esta ou aquela cidade.

Mário Reali — Mais do que acreditar, entendo que a articulação entre governo estadual, municípios e sociedade é pressuposto para alavancar o desenvolvimento da região metropolitana como um todo. Vivemos numa região conurbada, historicamente dividida em municípios, mas que na realidade se configura uma área territorial contígua, com problemas que ultrapassam as fronteiras municipais e que são de responsabilidade comum. Temos cidades com boa qualidade de vida e cidades-dormitório como Francisco Morato, cujos moradores trabalham e geram riquezas em outros municípios, enquanto a Prefeitura carece de recursos para fazer frente às necessidades da população. Temos também municípios cuja área é definida como de proteção aos mananciais, o que gera responsabilidade para as prefeituras na preservação de recursos hídricos consumidos por milhões de habitantes, sem que tenham recursos para tanto.

Reconheço as dificuldades com as quais nos deparamos para implementar gestão regional efetiva. Mas é inegável que conseguimos avanços graças aos acordos estabelecidos junto ao Consórcio do ABC e à Câmara Regional como, por exemplo, o fortalecimento do Pólo Petroquímico. No entanto, entendemos que a gestão regional somente terá maiores possibilidades de êxito se houver real protagonismo do governo estadual, em última instância o ente federativo responsável pela implementação de políticas de desenvolvimento regional, conforme estabelecido pela Constituição. Nesse sentido, entendemos ser necessário modelo de gestão que reúna governo estadual, municipal e a sociedade na deliberação de políticas prioritárias para a região através de um plano cujas ações seriam executadas com recursos do Orçamento Estadual e das empresas estatais, complementadas por ações dos governos municipais. Entendemos que esse seria o início de um processo que, se construído com seriedade e envolvimento da sociedade, forneceria o respaldo para a própria continuidade, independente dos governos de plantão.

Sandra Machado — Acredito na regionalidade ou regionalização como forma de adequar nossos recursos ao desenvolvimento econômico e social. Autarquias, enquanto exercício de poderes absolutos, não são boas em lugar algum. Todavia, enquanto poder exercido por cidadãos, nada de mal há e não impede que novas tendências se mostrem. O exercício dessa cidadania é que é importante. Qual são seus compromissos? Quais forças reúne? Quanto agrega? Quanto nos tira? Em política pluripartidária e com líderes nem tão carismáticos, é natural o exercício de vaidades e tentativas de exclusividades nas boas idéias. Não vejo mal algum nisso, se todos se beneficiam dos bons frutos. O problema surge quando o egocentrismo e vaidades em excesso prevalecem. Aí todos perdem.

Alex Manente — É evidente que o Grande ABC teria muito a ganhar se houvesse integração maior entre os municípios. Unido, o Grande ABC poderia falar mais alto do que as cidades em separado. Acredito que daremos um grande passo nesse sentido com a renovação das lideranças políticas e empresariais forjadas num novo ambiente político e econômico. Também será imprescindível o fortalecimento dos veículos de comunicação, que terão papel fundamental na missão de aglutinar essas novas forças políticas que estão surgindo no cenário regional.

Giba Marson — Acredito na visão regional, imprescindível nas soluções de municípios interligados, muito próximo uns dos outros.

Antonio Leite — Acredito na regionalidade. Essa é uma das minhas bandeiras como candidato a deputado federal. Acompanhei a evolução do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e vi mais pontos positivos que negativos. Sou defensor do Consórcio, que teve atuação decisiva nas Câmaras Setoriais (petroquímica, automobilística, exportações etc.). Acredito na superação do atavismo partidário, mesmo porque a reforma política aponta para a questão do voto distrital num futuro próximo e o debate dos consórcios vai ao encontro desse objetivo. 

Horácio Neto — Acredito, sinceramente, que a regionalidade é o único caminho para nosso pleno desenvolvimento. É preciso superar a estreiteza do municipalismo isolado. Também termos consciência de que o inevitável partidarismo não pode ser álibi para o abandono da ação conjunta dos sete municípios. As dificuldades para a reunião de lideranças regionais existem de fato, porém são potencializadas por posturas individualistas e personalistas que observamos em alguns maus prefeitos que desdenham da articulação regional. É preciso denunciar com firmeza os lamentáveis episódios de guerra fiscal protagonizados nos últimos anos em nossa região, mas é preciso enaltecer iniciativas pioneiras como, por exemplo, os cursos de pós-graduação em política regional mantidos por instituições de Ensino Superior do Grande ABC. 



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