Política

Reta de chegada impediu que
Bolsonaro repetisse Lula-2002

DANIEL LIMA - 29/10/2018

Tenho obrigação de prestar contas aos leitores que acompanharam meus artigos ao longo deste mês sobre a disputa presidencial. Jair Bolsonaro foi eleito na região de sete municípios com 62,12% dos votos válidos, contra 37,88% de Fernando Haddad. Foram 900.448 a 549.074. Explico na sequência as razões que impediram a vitória do capitão reformado por placar semelhante ao de Lula da Silva em 2002 diante de José Serra. Acertei integralmente (nos números e no conceito) nos municípios da região, mas errei quando confrontados os resultados numéricos expostos aqui com o que as urnas apontaram no quadro nacional. 

Sempre deixei claro que as avaliações numéricas abrangiam mais caráter simbólico do que um confronto para valer, nos mínimos detalhes. Apontar a vitória de Bolsonaro no Brasil e em cada um dos municípios da região foi moleza, admito. Já não foi fácil correlacionar os resultados em cada um dos municípios, tendo como base os dados consumados em 2002, quando Lula da Silva chegou à presidência da República. Nisso também acertei. 

Como detalho abaixo, quando comparo o que escrevi na edição de sexta-feira de manhã e o que escrevo hoje, se fosse à luta nas primeiras horas de domingo e editasse um novo texto também teria me aproximado dentro da margem de erro do resultado nacional. Mas como domingo não é dia oficial de trabalho desta revista digital, passei o final de semana ruminando a certeza de que poderia ter agido preventivamente e ajustado os números nacionais à avaliação dos fatos novos que surgiram. E que também explico logo abaixo.  

Então ficamos assim: o leitor vai ler o que se segue sem desgrudar os olhos na cronologia. Contraponho o que publiquei na sexta-feira com o que escrevo agora, por volta de meio dia de uma segunda-feira que me enche de esperança de um País em direção à correção de rota. O contraditório político e social será mais amplo após a vitória de Jair Bolsonaro e outras figuras até então desconhecidas ou pouco conhecidas. 

Deixaremos de ter apenas a centro-esquerda (autêntica como o PT e dissimulada como a cúpula nacional do PSDB) dando as cartas. A centro-direita (autêntica, como se espera de Jair Bolsonaro) vai jogar um jogo mais jogado, para ser redundante. Escreveremos muito sobre isso nos próximos tempos, com foco regionalizado. Esta Província de quase três milhões de habitantes agora está profundamente em desvantagem no ambiente nacional. Não temos um Jair Bolsonaro para botar fogo nas estruturas corrompidas e corroídas. Trataremos disso à exaustão.  

O que escrevi sexta-feira

Num jogo eleitoral de mútuos e múltiplos erros táticos e estratégicos, mais uma vez não fico em cima do muro e tampouco me lixo com a maledicência de alguns radicais que enxergam fantasmas de partidarismo onde existe apenas compromisso com observações práticas. Sou um liberal econômico (sem o fanatismo dos radicalmente pró-mercado com seus filhotes de bandidos sociais em vários campos) e um socialista no campo da cidadania (sem o viés marqueteiro de um socialismo avesso a tudo que signifique meritocracia). O resultado final do segundo turno deste domingo será semelhante aos números da primeira vitória petista, em 2002, quando Lula da Silva chegou ao Palácio do Planalto após três tentativas frustradas e dois mandatos sofríveis do tucano Fernando Henrique Cardoso. Sofríveis quando se leva em conta a região, bombardeada por uma abertura econômica destrambelhada que atingiu em cheio o setor industrial de pequenas e médias empresas. Em termos nacionais, há controvérsias sobre FHC, embora tenha sido muito melhor para os brasileiros em geral do que para os brasileiros daqui. Sem exagero, FHC fez da região um campo de experimentos destrutivos que, naquele período, marcharam em ordem unida com os estragos permanentes do viés socializante do sindicalismo do eixo São Bernardo-Diadema. 

O que escrevo hoje

Acertei no conceito de vitória do candidato pesselista mas errei (inclusive fora da margem de erro) no resultado numérico. Não há dúvida que não existe façanha em apontar a vitória de Jair Bolsonaro na região, quando se somam individualmente ou coletivamente os votos nos sete municípios. Houvesse tido oportunidade de projetar o resultado final com base nos acontecimentos posteriores à postagem daquele texto (escrevi-o na manhã e sexta-feira) teria feito uma correção que aproximaria os números finais, dentro de margem de erro de dois pontos percentuais, dos números definitivos. Houve sequência de desgaste da candidatura de Jair Bolsonaro na reta final, por conta das bobagens do começo da semana (caso do discurso do candidato aos apoiadores que foram à Avenida Paulista, além das declarações do filho em relação ao Supremo Tribunal Federal), mas, também, aos efeitos dos entreveros nas universidades públicas, transformadas oficialmente em palanques esquerdistas. As mensagens subliminares de ministros do STF foram condenatórias ao candidato Bolsonaro, mesmo que o incidente não se vinculasse a qualquer ação dele. Além de tudo isso, o Jornal Nacional de sábado, com reportagens especiais com os dois candidatos, fez de Fernando Haddad herói nacional e de Bolsonaro poço de antipatia ao não abriu todas as portas, todos os dias, para a reportagem da Globo. Tudo isso influenciou na quebra do ritmo mais acelerado de votos de Jair Bolsonaro. Estava esquecendo da mensagem em cadeia nacional da ministra do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber. Também uma mensagem subliminar que ficaria perfeita na boca do petista Fernando Haddad, já que o uso de determinados verbetes virou clichês da propaganda eleitoral petista nos últimos 15 dias de campanha. 

O que escrevi sexta-feira 

Jair Bolsonaro ultrapassará levemente a faixa de 60% dos votos válidos (me deem dois pontos de margem de erro) e trafegará um pouco acima desse teto nesta região de sete municípios. Aqui, o capitão reformado terá por volta de 67% dos votos válidos. Algo semelhante ao que registrará no Estado de São Paulo. Essa tríplice projeção é arriscada, claro. Não se pode desprezar nas últimas horas novas incursões da tropa de choque da mídia tradicional contra a candidatura do representante da centro-direita. Mas o peso do PT de roubalheiras institucionalizadas é muito maior que qualquer argumento com alguma potencialidade de se tornar realidade, como o suposto flerte com o regime ditatorial do candidato do PSL. A votação de Jair Bolsonaro nesta região ultrapassará mesmo o resultado nacional, como Lula da Silva em 2002. Dezesseis anos atrás o petista alcançou 61,27% dos votos válidos num segundo turno disputado com o tucano José Serra, que ficou com 38,72%. Foi numericamente a maior vitória petista entre as quatro em nível nacional. Na região, em 2002, o PT alcançou 67,13% dos votos válidos. No Estado de São Paulo, Lula registrou 55,39% dos votos válidos, contra 44,61% de Serra. Ao desfilar esses números repito que corro riscos de os resultados extrapolarem a margem de erro de dois pontos, mas isso não me inibe. Vale mais pelo simbolismo a exposição de observações que levam em conta um conjunto extraordinário de informações e também a percepção retirada de pesquisas eleitorais nem sempre convergentes.  

O que escrevo hoje

Vejam os leitores que sempre deixei claro ser arriscado demais meter-me nos valores numéricos. E já alertava sobre possíveis armadilhas que poderiam arrefecer o ânimo do eleitorado nacional no processo de retaliação ao PT, por conta de tudo que todos sabem. Já alertava à má vontade de mídias poderosas com Jair Bolsonaro. Colocaram-se questões de costume acima dos fatos políticos propriamente ditos. Repito que, fizesse um novo texto antes das eleições, após o Jornal Nacional de sábado, teria ajustados números, mas não os conceitos gerais. Institutos de pesquisas que publicaram números nacionais até quarta-feira também foram pegos no contrapé, ao passo que Ibope e Datafolha, já recolhendo ambiente de novas mensagens subliminares contra Jair Bolsonaro, praticamente mataram a charada dos números. Diria que Bolsonaro resistiu mais que o imaginado por mim no sábado e no domingo. Cheguei a acreditar em estreitamento mais veloz do que o registrado nas urnas. Mas a resiliência dos eleitores no combate à corrupção e em defesa da segurança pública foi superior à falsa pregação por democracia dos petistas (quem rouba tanto para ter hegemonia política por todo o sempre não é democrata nem aqui nem na China) e a propagação de que o Brasil cairia nas mãos de um fascista. 

O que escrevi sexta-feira

Resumindo o apanhado geral, possivelmente somente em Mauá e em Diadema Jair Bolsonaro não terá a mesma proporção de votos de Lula da Silva em 2002. Bolsonaro não faria 72,8% dos votos válidos daquela disputa, depois de somar 39,94% como o mais votado no primeiro turno deste ano. Fernando Haddad registrou 30,74% e deverá subir o suficiente neste segundo turno para impedir estrondosa votação do capitão reformado naquela que é a principal cidadela petista na região. Mauá, que também consta da lista de improvável repetição de votos em favor de Jair Bolsonaro no confronto com Lula da Silva de 2002, registrou nas urnas do primeiro turno deste ano 48,56% de preferência pelo concorrente do PSL. Haddad ficou em segundo com 21,05%. Como Mauá deu 72,8% dos votos válidos a Lula da Silva em 2002, acho pouco provável que se repita a votação, agora com sinal partidário e também ideológico oposto. Resumindo preliminarmente: quando se somarem os votos válidos deste embate final entre o PSL e o PT, Mauá e Diadema provavelmente não reproduzirão com Jair Bolsonaro o sucesso de votos válidos do primeiro mandato de Lula da Silva. 

O que escrevo hoje

Os resultados de domingo confirmaram minha exposição, embora tenham faltado números completos e se registrado um equívoco. Na verdade, em 2002, Lula da Silva obteve em Mauá 70,3% dos votos válidos, contra 62,07% de Bolsonaro agora. Em Diadema, foram 70,3% dos votos válidos para Lula há 16 anos e agora 52,00% para Jair Bolsonaro. Em números, Diadema contabilizou 117.805 votos a Jair Bolsonaro e 108.740 a Fernando Haddad. Em Mauá, foram 128.689 votos para Bolsonaro e 62.007 para Haddad.  

O que escrevi sexta-feira

Santo André e São Bernardo são os maiores colégios eleitorais da região e praticamente definirão o alinhamento de votação final entre Lula da Silva do começo de século e o Jair Bolsonaro de agora. Em 2002, Santo André deu a Lula da Silva 65,6% dos votos válidos. Acho que Bolsonaro vai ultrapassar essa marca. Santo André é mais antipetista que São Bernardo por conta de composição socioeconômica e cultural sobre a qual escrevi fartamente, mas que pode ser resumida da seguinte forma: Santo André é menos metalúrgica que São Bernardo. A classe média de Santo André é acentuadamente mais empreendedora e liberal que a de São Bernardo. São Bernardo de 2002 deu um pouco mais de votos a Lula da Silva em relação a Santo André. Foram 68,6%. Acho que será uma façanha Jair Bolsonaro trafegar na margem de erro. Entendo que ficaria abaixo dessa linha. A gestão de oito anos do petista Luiz Marinho à frente da Prefeitura e a votação alcançada na disputa pelo governo do Estado no primeiro turno (25%) indicam que poderá haver resistência maior que em Santo André. Mesmo se considerando que o prefeito tucano Orlando Morando está empenhadíssimo na disputa do segundo turno em São Paulo, com apoio da João Doria em dobradinha com Jair Bolsonaro. Novo resumo parcial: na soma de votos válidos de Santo André e São Bernardo, teremos algo semelhante de vantagem a Jair Bolsonaro equivalente ao Lula da Silva de 16 anos atrás.  

O que escrevo hoje

Matei a charada em Santo André, onde Jair Bolsonaro somou 66,84% dos votos válidos (1,24 ponto acima de Lula da Silva de 2002) e em São Bernardo, onde Bolsonaro somou 59,57% dos votos válidos (9,03 pontos percentuais abaixo de Lula de 2002). Projetei que Bolsonaro ficaria aquém da votação petista de 2002, inclusive fora da margem de erro de dois pontos percentuais. Não deu outra. Jair Bolsonaro teve 258.269 votos e Fernando Haddad 175.284 em São Bernardo. Em Santo André foram 264.039 a 131.021. Acertei no conceito mas perdi nos resultados numéricos. O peso da vitória de Lula sobre José Serra em 2002 foi relativamente maior que o registrado em Santo André. Isso influenciou no percentual final da região, claro. 

O que escrevi na sexta-feira

Os outros três colégios eleitorais da região vão dar vitória a Jair Bolsonaro em proporção superior ao que deram a Lula da Silva em 2002. Principalmente São Caetano, que destinou 52,9% ao petista. Agora, o massacre de Jair Bolsonaro será escandaloso. Passaria de 80%. Ribeirão Pires (61,5%) e Rio Grande da Serra (60,9%) também se perfilaram na vitória de Lula da Silva na região naquela disputa. Neste domingo, darão dianteira mais expressiva a Jair Bolsonaro. 

O que escrevo hoje

Também acertei em cheio quando se trata de conceitos. Contra os 52,9% favoráveis a Lula da Silva em São Caetano diante de José Serra em 2002, agora tivemos 75,11% de Bolsonaro contra Haddad. Em termos numéricos, fiquei levemente abaixo da margem de erro de dois pontos percentuais. Em Ribeirão Pires, ante os 61,5% de Lula em 2002, agora tivemos 66,69% de Bolsonaro contra Haddad. Extrapolei em um ponto a margem de erro de dois pontos para cima e para baixo. Já em Rio Grande da Serra, contra os 60,9% favoráveis a Lula da Silva no começo do século tivemos ontem 59,16% favoráveis a Bolsonaro. Acertei numericamente na margem de erro. Trocando em números: em São Caetano, Jair Bolsonaro ganhou com 77.010 votos contra 25.514 de Haddad. Em Ribeirão Pires foram 41.053 contra 20.501. E em Rio Grande da Serra foram 13.583 contra 9.376.  

O que escrevi sexta-feira

Resumo geral da ópera: entendo que quando se contabilizarem todos os votos válidos do segundo turno na região, Jair Bolsonaro do presente e Lula da Silva do passado vão estar muito próximos. Qualquer resultado fora da margem de erro será surpreendente. O ambiente regional é mais acaloradamente contrário ao petismo, da mesma forma que o fora mais favoravelmente a Lula da Silva em 2002. Mas entre a esperança petista e a retaliação imposta uma década e meia depois, os números finais não seriam tão acentuadamente contrastantes. Os dois sentimentos dos eleitores têm praticamente a mesma calibragem e intensidade. 

O que escrevo hoje

O ambiente regional é mesmo mais duramente crítico ao petismo, velho conhecido regional de guerra. Tanto que o resultado final dos votos válidos atribuídos ao pesselista Jair Bolsonaro (62,12% a 37,88%) foi superior aos 55,13 a 44,87% no Brasil. O Estado de São Paulo ganhou influxo retaliatório ao petismo quando comparado à região: Jair Bolsonaro somou 67,97% a 32,03%. 

Ainda há vários aspectos a esmiuçar. Não vou deixar passar a oportunidade. Esta semana vai render muito. 



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