Os destroços do governo federal balançaram as estruturas populares do PT na região, mas Diadema não entregou os pontos e segue como reduto mais resiliente ao chamado conservadorismo de direita que tomou conta do País nas eleições deste ano. Tanto é verdade que Diadema comandada desde a redemocratização praticamente por políticos de esquerda (a exceção é o atual titular do Paço Municipal, Lauro Michels, em segundo mandato) é a única cidade entre as maiores do Estado de São Paulo que terminou a disputa ao governo do Estado e ao governo federal com saldo avermelhado.
Diadema faz parte do G-22, agrupamento dos 20 maiores municípios paulistas (exceto a Capital), complementado por Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que integram esta região de 2,7 milhões de habitantes. Não fosse a importância que estudos que realizamos ao longo dos anos tendo a região como fonte principal de dados, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não constariam da lista do G-22. Taubaté, no Vale do Paraíba, é o município mais antipetista entre os 20 maiores do Estado.
O resultado não tem respaldo empírico estrutural, como consequência de estudos científicos. Está embasado em metodologia simples, mas aparentemente insofismável como indicador básico da preferência ideológica nos municípios mais relevantes do Estado. Vou explicar em detalhes para que não haja dúvida nem tentativa desclassificatória.
Explicando metodologia
O primeiro passo para aferir o grau de petismo e antipetismo no G-22 sustenta-se na própria definição conceitual desses dois espectros. Considerei petistas os eleitores que votaram em segundo turno nos candidatos Fernando Haddad para a presidência da República e Márcio França para o governo do Estado. Direitistas foram o presidente eleito Jair Bolsonaro e o governador eleito João Doria.
A definição desses dois vetores baseou-se numa premissa à qual não cabe questionamento: Haddad é petista enquanto Bolsonaro é declaradamente antipetista. Ao incorporar Márcio França à esquerda do espectro ideológico fiei-me em pesquisas do Datafolha no segundo turno eleitoral. Perto de 80% dos petistas que votariam em Haddad também votariam em Márcio França. Com João Doria em relação a Bolsonaro deu-se praticamente o mesmo universo de eleitores.
O segundo passo foi estabelecer métrica que definisse o resultado final de avermelhados e verde-amarelos. Decidi considerar como base da equação os resultados das urnas. A pontuação seguiu linha reta de entendimento e fundamentação: os vencedores em cada um dos 22 municípios, tanto para o governo do Estado como para o governo federal, teriam como saldo a combinação dos dois resultados eleitorais que ultrapassasse 50% dos votos.
Partimos agora para dois exemplos práticos que determinaram o título de Município mais resiliente do petismo no G-22 e o Município mais fortemente antipetista. O caso de Diadema registra saldo petista de 10.77 pontos percentuais de avermelhados, enquanto o de Taubaté chega a 47.84 pontos de verde-amarelismo.
Números de Diadema
Diadema registrou vitória de Márcio França ao governo do Estado com 62,77% dos votos válidos. Já na corrida presidencial, Jair Bolsonaro ganhou por diferença de dois pontos percentuais, 52,00% a 50,00%. Como cheguei a 10,77 pontos percentuais de saldo avermelhado em Diadema? Simples: como Márcio França ganhou com margem de 12,77 pontos percentuais de votos, mas Fernando Haddad perdeu por exatos dois pontos percentuais rumo à presidência da República, basta uma conta simples de 12,77 pontos menos 2,00 pontos percentuais para se chegar ao resultado de 10,77 pontos percentuais.
A operação matemática é a mesma para aferir o resultado da antipetista Taubaté. O Município do Vale do Paraíba registrou vitória de Jair Bolsonaro por 31,03 pontos de vantagem (81,03%) e de João Doria por 16,81% (66,81% do total dos votos válidos).
Essa metodologia e os respectivos resultados eleitorais em cada Município podem ser contestados cientificamente, mas sugerem com relativa consistência um quadro do ecossistema político-eleitoral do G-22.
Bolsonaro generalizado
O pesselista Jair Bolsonaro ganhou em todos os municípios que compõem o G-22. Já na disputa ao governo do Estado o tucano João Doria, que aderiu à campanha de Jair Bolsonaro mal as urnas do primeiro turno foram encerradas, sofreu derrota em oito municípios, cinco dos quais na região.
Apenas São Caetano e Santo André deram vitória a João Doria nas urnas de domingo passado. Além de São Bernardo, Rio Grande da Serra, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires, também Osasco e Guarulhos sufragaram maioria dos votos ao pedetista Márcio França.
Como todos esses municípios integram a Região Metropolitana de São Paulo, não é descabido afirmar que os efeitos negativos da pregação de Márcio França atingiram João Doria além do território físico da Capital. O mote principal de França no embate contra Doria durante toda a disputa foi classifica-lo de político sem palavra, por ter renunciado à Prefeitura de São Paulo, à qual foi eleito em 2016, para concorrer ao governo do Estado.
Acompanhe os resultados dos vitoriosos nos 22 municípios:
Taubaté – Bolsonaro 81,03%; Doria 66,81%
Piracicaba – Bolsonaro 78,51%; Doria, 65,20%
São José do Rio Preto – Bolsonaro 78,26%; Doria 65,20%
Jundiaí´-- Bolsonaro 78%; Doria 68,90%
São José dos Campos – Bolsonaro 76,21%; Doria 66,84%
São Caetano – Bolsonaro 75,11%; Doria 63,05%
Sorocaba – Bolsonaro 73,72%; Doria 63,97%
Ribeirão Preto – Bolsonaro 72,27%; Doria 59,77%
Paulínia – Bolsonaro 71,41%; Doria 61,84%
Santos – Bolsonaro 71,35%; Doria (50%)
Mogi das Cruzes – Bolsonaro 71,30%; Doria 57,01%
Sumaré – Bolsonaro – 68,53%; Doria 57,60%
Campinas – Bolsonaro 68,82%; Doria 57,74%
Santo André – Bolsonaro 66,84% Doria 54,56%
Ribeirão Pires – Bolsonaro 66,69%; Márcio 52,29%
Guarulhos – Bolsonaro 66,13%; Márcio 57,22%
Osasco – Bolsonaro 63,14%; Márcio 51,81%
Barueri – Bolsonaro 62,95%; Doria 52,06%
Mauá – Bolsonaro 62,07%; Márcio 54,23%
Diadema – Bolsonaro 52,00%; Marcio 62,07%
São Bernardo – Bolsonaro 59,57%; Márcio 51,57%
Rio Grande da Serra – Bolsonaro 59,16%; Márcio 52,29%
Agora o ranking de antipetismo nos 22 municípios;
1. Taubaté – 47,84 pontos percentuais
2. Jundiaí – 46,90 pontos percentuais
3. Piracicaba – 43,71 pontos percentuais
4. São José do Rio Preto – 43,46 pontos percentuais
5. São José dos Campos – 43, 05 pontos percentuais
6. São Caetano – 41,16 pontos percentuais
7. Sorocaba – 37,69 pontos percentuais
8. Paulínia – 33,25 pontos percentuais
9. Ribeirão Preto – 32,04 pontos percentuais
10. Mogi das Cruzes – 28,31 pontos percentuais
11. Campinas – 26,56 pontos percentuais
12. Sumaré – 26,13 pontos percentuais
13. Santo André – 21,40 pontos percentuais
14. Santos – 21,35 pontos percentuais
15. Barueri – 15,05 pontos percentuais
16. Ribeirão Pires – 14,40 pontos percentuais
17. Osasco – 11,33 pontos percentuais
18. Guarulhos – 8,91 pontos percentuais
19. São Bernardo – 8,00 pontos percentuais
20. Mauá – 7,84 pontos percentuais
21. Rio Grande da Serra – 6,87 pontos percentuais
22. Diadema – (*) 10,77 pontos percentuais
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