Administração Pública

Dinheiro é apenas
um dos obstáculos

VERA GUAZZELLI - 05/03/1999

A ligação Mauá-Via Anchieta pela Estrada do Sertãozinho finalmente saiu do papel para a tela de apresentação que a Prefeitura montou no anfiteatro do Paço. Mas foi só. Os olhos dos empresários, sindicalistas e autoridades que se reuniram em café da manhã com o prefeito Oswaldo Dias ficaram grudados durante mais de 30 minutos na exposição do engenheiro responsável pelo projeto. O evento serviu apenas para que os espectadores conhecessem detalhes técnicos, sem que fosse sinalizada data para início de uma das principais reivindicações do Município. Como a Prefeitura não possui poder de fogo para tocar obra orçada em R$ 25 milhões e o governo do Estado, contratante do projeto, já anunciou cortes nos investimentos enquanto persistir a turbulência econômica, foi desnecessário responder a principal pergunta do dia.

A platéia não escondeu ar de decepção, mas resistiu. Afinal, se água mole em pedra dura tanto bate até que fura, mobilização é a principal arma neste momento. A conclusão do projeto básico expôs as pedras no caminho da rodovia, que não consta do orçamento estadual para 1999. A primeira é financeira, e dinheiro se tem ou não. A outra é política, pois envolve os municípios de Santo André e São Bernardo e, por hora, os prefeitos Celso Daniel e Maurício Soares, ex-presidentes do Consórcio Intermunicipal e coloca à prova a cobiçada integração regional. 

Para sair da Avenida Papa João XXIII, em Mauá, e alcançar a Via Anchieta, eixo viário essencial para o desenvolvimento do pólo Industrial do Sertãozinho por facilitar o escoamento de toda a produção do Município, a estrada corta o Parque do Pedroso, em Santo André, e o Núcleo Montanhão, em São Bernardo. No primeiro obstáculo esbarra na Lei de Proteção aos Mananciais. O DER (Departamento de Estradas de Rodagem) deve encaminhar o projeto à Secretaria de Meio Ambiente do Estado para estudo de impacto ambiental. A via também tropeça na Lei Orgânica de Santo André, que considera o Parque do Pedroso intocável. Transpor a área verde por meio de túnel requer a aprovação (leia-se conveniência e vontade políticas) do Município vizinho.

Já em São Bernardo as coisas vão além da vontade política. Ao cortar o Núcleo Montanhão, a nova ligação vai exigir a desapropriação de 200 casas e estabelecimentos comerciais e não é preciso qualquer esforço para prever a polêmica causada pelo assunto. Também a capacidade do trevo do KM 23 foi posta em xeque, já que, pelo traçado, a nova rodovia termina na Avenida José Fornari e desemboca na Via Anchieta justamente pelo acesso da Volkswagen, que teria de suportar tráfego estimado em mais 3,5 mil veículos diariamente. "Sei que a batalha é difícil, mas acredito que todos os envolvidos optem pela importância regional" -- espera o prefeito Oswaldo Dias.


Benefícios -- Em tese, os benefícios são maiores que as dificuldades, já que desenvolvimento econômico e geração de empregos ocupam a prioridade de todas as pautas políticas. Somente durante os 18 meses de construção, 300 empregos seriam criados.

A reivindicação tem no mínimo duas décadas, já passou pelas plataformas de nove em cada 10 políticos de Mauá e é uma das prioridades da Câmara Regional. Somente o ex-deputado Clóvis Volpi apresentou quatro emendas ao orçamento do Estado sobre o assunto durante sua gestão na Assembléia Legislativa. A precursora da rodovia foi aberta há 30 anos e mesmo com trecho em terra é usada regularmente. "A obra é necessária e viável" -- confirma o diretor técnico da Geométrica Engenharia, empresa responsável pelo projeto, Leonardo Pedro Lorenzo.

Pronta para licitação, a ligação Mauá-Via Anchieta terá duas pistas com 14,8 quilômetros de extensão, um túnel de 840 metros e um viaduto de 140 metros. A importância regional é atestada pela pesquisa origem/destino que serviu de base ao projeto. Dos motoristas que usariam a nova estrada, 76,4% partiriam de Mauá, 18,1% de Ribeirão Pires, 1,4% de São Bernardo, 1,3% de Rio Grande da Serra, 0,4% de São Paulo e 2,3% de outros locais. O destino seria 49,9% Santo André; 19% Mauá; 13,9% São Bernardo; 10,3% São Paulo e 5,3% São Caetano.


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