Política

Um paradoxo ameaça futuro
eleitoral de Paulinho Serra

DANIEL LIMA - 09/11/2018

Paulinho Serra não precisa ser o maior prefeito da história para se reeleger dentro de dois anos. Também não precisa ser festejado ao final do primeiro mandato por eventualmente ter sido melhor apenas que antecessores imediatos. Pode até perder para um ou outro no conjunto da obra quando comparado aos que o antecederam desde os anos 2000. O que Paulinho Serra está proibido de fazer como prefeito de Santo André é perder para ele mesmo. Vou explicar.

Perder para si mesmo é deixar escapar entre os dedos da articulação de governança os aliados que têm sede de chegar ao Paço Municipal mas sabem que ao concorrer com o titular teriam dificuldades enormes nestes tempos de reestruturação da vida política nacional.

Antes do desembarque da Operação Lava Jato, e ainda mais agora com o comandante principal guindado ao Ministério da Justiça, havia espaço bastante fértil à interferência decisiva no placar eleitoral por grupos de interesses.

Agora que o bicho está pegando e que deve pegar ainda mais, sair na chuva para enfrentar a máquina de um prefeito em ação é sempre muito arriscado a eventuais financiadores. Tudo indica que o cerco vai fechar para os bandidos sociais que sequestram prefeitos em troca de recursos financeiros eleitorais. Ações republicanas, como se sabe, são raridade no campo político-partidário quando eleição está em jogo.  

Manobras limitadas 

Isso quer dizer que do ponto de vista do macrossistema as eleições municipais serão mais e mais um campo minado a todos que enfrentarem o dono do jogo, no caso o prefeito de plantão. Exceto se a revolução das mídias sociais, inaugurada no País para valer com a vitória do presidenciável Jair Bolsonaro, espalhar-se por grandes e médios municípios. Essa alternativa não está fora de efetividade.

Ou seja: essa é uma projeção que não pode ser subestimada a pretexto de abstração. Resta saber, entretanto, se os oponentes saberão dirigir essa nave invasora que reduz fortemente o poder da mídia tradicional e desloca para a população em geral, não apenas aos formadores de opinião, o poder de influenciar na definição do voto.

Ter tecnologia digital à disposição é apenas parte do aparato de convencimento, de doutrinação, de amálgama eleitoral. Atingir em cheio os desejos do eleitorado, como Bolsonaro atingiu, são outros quinhentos. Quem subestimou o pesselista, entre outras razões por desdenhar ou desconhecer o aparato das mídias sociais, arrepende-se até o último fio de cabelo.

Então, sem invadir um ensaio futurístico para os padrões atuais do engajamento da sociedade regional nas mídias sociais em se tratando de assuntos locais e regionais, bastante rarefeito, Paulinho Serra até prova em contrário é favoritíssimo à reeleição.

Risco de rupturas

Melhor dizendo: é um precário fortíssimo candidato à reeleição. O prazo de validade dessa condição dependerá do que o futuro reserva. Tudo está tão fluído no mundo digital e também no universo político que estender o tapete interpretativo para os próximos dois meses talvez não seja a melhor ideia. Quanto mais para dois anos adiante.

Um dos pontos centrais à manutenção do potencial de favoritismo de Paulinho Serra é impedir que a equipe que o levou à vitória há dois anos e que de alguma forma segue com ele no Paço Municipal, mesmo com biquinhos e idiossincrasias, não debande em voos solos. Esse, portanto, é o paradoxo: Paulinho Serra não tem eventuais mais obstáculos que os aliados de hoje. Derrapagens nas articulações internas podem fomentar cisões graves.

Ailton Lima, Almir Cicote e o Professor Minhoca parecem assanhados em busca de algo que não seja exatamente seguir à sombra do titular do Paço. Ensaiam aqui e ali alguma iniciativa. Derrotados nas eleições proporcionais, poderiam estar enfraquecidos em negociações de governabilidade rumo às eleições.

Mas convém não puxar demais a corda. Avaliações sobre os resultados eleitorais incorporam sempre contornos subjetivos. Nem todo candidato derrotado nas urnas estaria batido no futuro próximo. Vejam o caso de Ailton Lima: dos 40 mil votos, 25 mil foram registrados em Santo André. É muito voto e seria muito mais se o candidato não fosse tão descuidado com as mídias sociais e as opções dos eleitores não fossem tão abrangentes. Os forasteiros Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselman, por exemplo, somaram mais de 60 mil votos na cidade.  

Recomposição harmonizadora

Dessa forma, a recomposição do secretariado poderia atuar como freio de arrumação. Tudo será uma questão de custo e benefício no médio e também no longo prazo. Quem desgarrar-se de Paulinho Serra por entender que está na hora de concorrer ao Executivo não pode errar o salto, sob o risco de estatelar-se numa piscina vazia de perspectivas para 2024, deixando a fila de prioridades concorrenciais. Quem continuar na equipe de governo e tiver paciência possivelmente ganhará musculatura para uma empreitada mais ambiciosa ao fim de eventual reeleição de Paulino Serra.

A situação de Paulinho Serra é, como se observa, paradoxal. Embora não seja o prefeito dos meus sonhos para Santo André (como não o foram todos os que sucederam a Celso Daniel) por uma infinidade de razões, poucos concorrentes às prefeituras dos municípios da região em 2020 gozam de tanto favoritismo à renovação de mandato.

Os adversários não o ameaçam nas condições atuais. O ex-prefeito Aidan Ravin e o quase prefeito Vanderlei Siraque foram derrotados nas eleições proporcionais de outubro e não parecem contar com capital político para surpreender. Nenhum outro candidato potencialmente incômodo passou pelo crivo do eleitorado. Tudo, portanto, conspira a favor de Paulinho Serra.

Convém não dar sopa para a falta de sorte porque tudo pode mudar nos próximos tempos e, eventualmente, Paulinho Serra ingressar no ano decisivo do primeiro mandato, em 2020, ameaçado por algum concorrente que venha a ganhar fôlego e musculatura até lá.

Situações específicas

Está certo que isso hoje é uma probabilidade de baixa graduação. Imaginar que o PSL tire uma carta da manga em Santo André (e em outros municípios da região) e reproduza o fenômeno de Jair Bolsonaro não é uma projeção pautada pelo factível. Uma coisa é um Jair Bolsonaro como fonte de esperança de mudanças no País num 2018 que mal saiu de recessão e de desaguadouro de decepções ao longo dos anos; outra é alguém com o mesmo uniforme partidário capitalizar uma demanda que já se teria mitigado até lá.

Claro que essa perspectiva passará pelo escrutínio do tempo e das condições ambientais da política em Santo André. E também por algo do qual Paulinho Serra não pode perder de vista: seu governo tem se pautado pela rotina dos administradores convencionais, com políticas tradicionais de obras e serviços públicos. No caso de Santo André isso e muito mais são insuficientes.

A viuvez industrial do Município deixou um rastro de frustrações que, enquadradas numa bitola de inconformismo que conquiste corações e mentes, poderá causar estragos.

Não quero e não devo dar pragmatismo à teoria exposta, mas o que sugiro ao prefeito de Santo André é que não perca de vista a possibilidade de, pronto para comemorar um título sem grandes esforços, porque o petismo que sempre se contrapôs à centro-direita de Santo André parece liquidado por mais alguns anos, não descarte um bólido em sentido contrário.

Olhando do alto

Paulinho Serra, como todos os prefeitos da região, faz uma administração pautada pela mesmice do varejismo de intervenções públicas e pelo desprezo ao atacado que faria a diferença às gerações futuras. Planta-se quase nada para o amanhã.

Por isso mesmo alguém precisa tirar de vez em quando o prefeito e principais assessores do ambiente sempre efervescente de quinquilharias administrativas. Quanto menos tempo Paulinho Serra dedicar a Santo André do alto, como um rastreador insaciável, mais tempo terá para se consumir em guerrilhas internas limitadoras de um grande salto de qualidade na gestão.  

A demanda da sociedade na qualificação de um bom gestor talvez se encaminhe para algo que vá muito além de uma lista imensa de intervenções típicas de prefeitos operários. 

Pretendia não me referir ao IPTU, mas desisti: a herança bendita de Paulinho Serra para o futuro de Santo André e da região, revertendo o passivo que tanto chamuscou o prestígio do prefeito neste ano, ainda está para ser anunciada. Ao declarar que não aumentará o imposto na próxima temporada, limitando-se ao repasse inflacionário, Paulinho Serra apenas amenizou os estragos. Há muito mais a fazer com o uso do IPTU de forma inédita. Já escrevemos sobre isso.



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