As primeiras provas que demarcam a antecipação das disputas eleitorais na região previstas para outubro de 2020 emergiram neste final de semana no meu smartphone, dotado do aplicativo Whatsapp: o ex-prefeito Luiz Marinho e o prefeito Orlando Morando se engalfinharam em mensagens relativamente agressivas para tirarem dos respectivos fundilhos o ônus da tragédia em São Bernardo na sexta-feira de dilúvio. Em Santo André, de fonte não identificada, surgiu uma mensagem tão extensa quanto aguda que relaciona o secretário de Saúde a falcatruas e, por extensão, coloca o prefeito Paulinho Serra sob contundente suspeição.
Quem ainda não se apercebeu que o mundo digital mudou o mundo analógico nos meios de comunicação vai sofrer um bocado se não souber reagir às investidas que se acentuarão até que se conheçam os novos prefeitos da região. Já escrevi vários artigos sobre isso e o mais recente remete à campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro.
Tudo indica que os marqueteiros retardatários entrarão em ação e finalmente detectarão que os jornais locais não são mais referenciais, mesmo que pouco dotados de análises, às agudas questões sociais e econômicas que nos afligem.
Não são, melhor dizendo, como o eram até outro dia, com as limitações clássicas do jornalismo impresso. E não o serão ainda mais quanto mais os marqueteiros alertarem agentes públicos de que estarão gastando vela demais senão com defuntos, mas como moribundos. Se nem a poderosíssima Rede Globo não dá mais as cartas como antes, imaginem então nesta Província em profunda decadência em todos os setores, inclusive nos meios de comunicação sacrificados pelos custos em dissonância com as receitas.
Cuidado com mensagens
Não custa repetir outro conceito que abordei tangencialmente neste espaço: a tecnologia em si não faz milagre, exceto notícias falsas, fake news que veículos de comunicação tradicional também o fazem, embora com a maior cara de pau do mundo lancem sobre as mídias sociais a centralidade de iniciativas deletérias.
Especialmente o Whatsapp, cada vez mais prevalecente entre as mídias sociais, porque de fato é mídia social na aplicação de estratégias com finalidades diversas, principalmente político-eleitorais, vai fazer muito estrago em gestores que se imaginam imunes a desgaste porque contam com apoio do jornalismo profissional impresso e suas variáveis digitais.
O que vai pesar cada vez mais na interpretação dos fatos será o grau de veracidade. Não pensem que os usuários de mídias digitais são toupeiras juramentadas. Ainda há muita gente ingênua, como também há gente inescrupulosa, mas cada vez mais se observarão as mensagens que correspondem a nexos de fatos em vez de mentiras escabrosas ou disfarçadas de verdade.
Se tivesse que dar um conselho aos guerrilheiros digitais de boa índole e de propósitos republicanos é que se mantenham escravos dos fatos denunciados, resguardando-se de contra-ataques certamente apelativos. Quem construir um sistema de confiabilidade em torno de uma candidatura (e isso é possível, sim, com uma administração responsável dos grupos de participantes), certamente sairá na dianteira e instilará mais credibilidade.
Casos emblemáticos
Do conceito vou ao prático: o caso envolvendo o chamado Piscinão de São Bernardo, fonte do antagonismo entre Luiz Marinho e Orlando Morando no final de semana. Morando foi às mídias sociais e relacionou o infortúnio das chuvas à obra abandonada e inacabada no governo Marinho. O petista que pensa seriamente em voltar ao Paço Municipal após o fracasso natural de tentar chegar ao Palácio dos Bandeirantes retrucou ao afirmar que Morando é o responsável por não haver dado prosseguimento à obra assim que assumiu o governo municipal.
Também o caso do petista e ex-vice-prefeito de Mauá (Márcio Chaves) que assumiu a Secretaria de Saúde de Santo André e que tem um filho enroscado com a Justiça é aparentemente nebuloso. Teria consistência?
Aparentemente é um artefato pesadíssimo a impactar a imagem do prefeito Paulinho Serra. Não sei se vai chegar ao ponto de estilhaçar o prestígio do comandante do Paço de Santo André quando os efeitos eleitorais se mostrarem mais inflamáveis, mas há condimentos nesse sentido.
Respostas esperadas
O que se deveria esperar do jornalismo profissional da região incrustado em algumas publicações? Que seus profissionais se dediquem a elucidar os dois casos. Quem tem razão no galinheiro de São Bernardo: o atual prefeito ou o ex-prefeito que quer voltar?
E em Santo André, por que Paulinho Serra jamais explicou as razões que o levaram a escolher um secretário de saúde sem intimidade profissional com a pasta, mas sim com um fornecedor de porte que tem o próprio filho como acionista?
Essa conjunção de denúncias graves e de assertivas claramente eleitorais será uma constante até as eleições. É possível que na medida do possível os articuladores dessas operações o façam visando a duplo desgaste, como é o caso de Santo André.
Ou seja: os concorrentes deverão usar todas as armas para unir o útil ao agradável: na mesma intensidade com que se dedicarão a estabelecer versões sobre determinadas questões administrativas, deverão juntar ilícitos ou possíveis ilícitos.
Credibilidade arranhadíssima
Recomendar cuidados no uso de tecnologias de informação é um martelar incessante de quem defende jornalismo profissional. Faço parte desse coro, com a diferença de que não sou negligente e tampou estúpido: o jornalismo profissional, muitas vezes dependente de grupos de interesse nada republicanos (alguém acha que estou me referindo, por exemplo, ao lobby quase intocável do mercado imobiliário?) abriu uma avenida à invasão dos bárbaros e também daqueles que não se conformam com o formato delinquente do Brasil da Nova República.
De maneira geral, principalmente nos veículos regionais mais sujeitos às intempéries de se manterem ativos, há baixíssima capacidade e mesmo interesse de exercer a necessária curadoria da avalanche informações consumidas diariamente.
O caso do entrevero entre Marinho e Morando pós-dilúvio em São Bernardo e o setor de saúde em Santo André são pautas obrigatórias do jornalismo profissional que não aceita ser enquadrado no círculo de desconfiança que em larga escala a sociedade cultiva com todas as razões do mundo.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)