Política

Até que ponto Bolsonaro vai
influenciar eleições de 2020?

DANIEL LIMA - 31/01/2019

Resolvi fazer essa pergunta a mim mesmo (e acho que é de interesse geral, porque os mais atentos devem estar a fazer a mesma coisa) após analisar com um pouco de pressa e por isso ainda não definitivamente os resultados do Instituto ABC Dados que dão conta das expectativas do Grande ABC sobre o governo eleito em outubro do ano passado. 

Como todos sabem e sentiram, tivemos a mais encarniçada campanha eleitoral desde a redemocratização. Ou alguém tem dúvidas de que aflorou naquela disputa o que há de mais democrático e também de mais inquietante em narrativas à direita e à esquerda ideológica? 

Desde a consagração eleitoral, com trapalhadas monumentais antes e depois de tomar posse, o governo Jair Bolsonaro passou a ter muita influência nas próximas disputas municipais, em 21 meses. O ambiente político nacional mudou de padrão. 

O PT e a esquerda em geral dependem demais do desgaste da direita e centro-direita pronunciadamente reativas na região por conta do petismo trabalhista que vem de longe. 

Temos, finalmente, um jogo em que as peças não constarão apenas de um lado da mesa a favorecer e a discriminar maneiras diferentes de ver a vida pública e pessoal. 

Expectativa elevada 

Será que vai dar para termos um jogo eleitoral municipal mais competitivo na temporada de 2020 ou se repetirão estragos de 2016 quando o PT, sob o lamaçal da Operação Lava Jato, foi escorraçado das prefeituras locais?

A leitura do Instituto ABC Dados, empresa que produziu a pesquisa para medir o prestígio do governo Jair Bolsonaro na região, é de que “são bastante altas as expectativas positivas dos moradores”. Convém lembrar que a empresa de pesquisa não fez qualquer interpretação político-partidária dos números. 

Quem está se metendo a botar o dedo nessa ferida sou eu mesmo, entre outras razões porque tudo torna compulsório um olhar além. Possivelmente o ABC Dados seria execrado se interpreta politicamente os resultados. Aqui e ali há gente com lupas a perscrutar o que, afinal, o instituto pretende. 

Os números gerais captados pelo Instituto ABC Dados afirmam que 58% acreditam que Bolsonaro fará um governo ótimo e bom, 21% acreditam que seu governo será regular e apenas 14% esperam um governo ruim e péssimo. 

Expectativa comparada 

Não é uma heresia comparar esses dados com os resultados do segundo turno presidencial na região. Uma coisa está vinculada à outra. 

Em outubro do ano passado Bolsonaro teve 62,12% dos votos válidos nos sete municípios (900.448 contra 549.074 do petista Fernando Haddad), enquanto agora, na pesquisa do Instituto ABC Dados, tem aprovação de 58%. 

A diferença de quatro pontos percentuais pode estar praticamente no limite da margem de erro da pesquisa, de três pontos. Ou seja: há mesmo uma conexão entre os resultados eleitorais e os resultados da pesquisa que ouviu mil moradores da região. Quem defender tese em contrário vai ter de gastar muita saliva para tentar convencer os opositores. 

Antes de seguir com o detalhamento municipal da pesquisa do Instituto ABC Dados, insisto na tese exposta ainda preliminarmente de que os humores e os horrores do governo Jair Bolsonaro deverão ser atentamente acompanhados pelos atuais prefeitos e por todos os candidatos com interesse eleitoral num dos sete municípios da região. Vinte e um meses passam rápido.  

Expectativa projetada

A vulnerabilidade eleitoral do PT no Grande ABC permanece, com nuances que pretendo explicar. Isto quer dizer que o jogo atual segue amplamente favorável à direita e à centro-direita conservadora. 

Mas convém colocar as barbas de molho. Se a Lava Jato aprofundar investigações e denúncias relacionadas ao governo tucano de um quarto de século no Palácio dos Bandeirantes, como algumas operações já indicam, o bolo indigesto da corrupção será mais democraticamente consumido. Ou seja, o PT perderia a hegemonia dos desgastes gerais, embora já tenho sido beneficiado nesse ponto por lambanças de parceiros de governo. Mas colocar os tucanos na reta de desqualificação é o sonho dourado dos petistas paulistas. 

De qualquer forma, observando-se a realidade atual, os esquerdistas, que não são nada progressistas como tanto pregam, sobretudo no campo econômico, estão encurralados. Vão precisar mesmo de uma quebra de otimismo geral no País, a ponto de contaminar a região, além dos estragos da Lava Jato. 

Do fracasso parcial do governo Jair Bolsonaro não se pode duvidar. Temos uma colcha de retalhos de bons e maus exemplos. A vitória que se fez pelas redes sociais pode ter também o reverso das redes sociais. Ou no mínimo sofrer fortes abalos. Mas isso é outro assunto. 

Expectativa nacional 

O ambiente econômico e social nacional raramente se dissocia de percepções na região. Não somos uma pátria à parte. Quando Lulalá estava bem, o PT deitou e rolou nas eleições municipais locais com muito mais ênfase. Quando Dilma Rousseff fez o que fez, tudo desmoronou também com mais ênfase. Somos um microcosmo do Brasil brasileiro com um pouco mais de adrenalina, que também pode ser chamada de radicalismo ideológico. A diferença em relação ao passado é que a direita decidiu botar as mangas de fora de maneira mais ostensiva.

O Instituto ABC Dados apontou que a expectativa positiva do governo Jair Bolsonaro na região é mais baixa que a média do País. Fez a comparação com base na pesquisa do Datafolha realizada entre 18 e 19 de dezembro do ano passado. Aquele trabalho mostrou que 65% dos brasileiros esperam que Jair Bolsonaro faça um governo ótimo ou bom. Outros 12% avaliaram que o governo será ruim ou péssimo e 17% que acreditam que a gestão será regular. 

Portanto, voltando aos números, contrapondo a região ao Brasil, temos sete pontos percentuais de desvantagem na aprovação a Bolsonaro, dois pontos de desvantagem de ruim ou péssimo e quatro pontos percentuais de vantagem no caminho oposto, de “regular”. O saldo bolsonarista regional é inferior ao nacional, portanto. 

Mais análises 

O que esses números significam? Nenhuma surpresa. Historicamente (ou seja, desde que o PT ganhou a eleição presidencial de 2002) o comportamento eleitoral no Grande ABC trafega em sentido levemente diferente da média nacional. 

Quando o governo federal vai muito bem, o eleitorado regional é mais otimista. Quando há certa inquietação, ou menos entusiasmo, o eleitorado regional é mais crítico. A influência do sindicalismo faz parte do jogo, mas o peso da metropolização também é relevante, entre outros favores, como a composição socioeconômica. 

Pretendia fazer um voo panorâmico nos resultados municipais, mas deixo para outra edição. Os números do Instituto ABC Dados têm estreita relação com os números eleitorais de outubro passado. Até que ponto os numerais poderão indicar a sorte de opositores petistas nas eleições municipais de 2020? É disso que trataremos. 



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