O prefeito Paulinho Serra pouco fez de reformismo na Administração de Santo André nos dois primeiros anos de mandato. Nada indica que fará alguma coisa a mais nos dois anos que faltam. O prefeito Paulinho Serra fez algumas bobagens nos dois primeiros anos de mandato. Nada indicaria que voltará a fazer nos dois anos que faltam. O prefeito Paulinho Serra fez o trivial de obras e ações varejistas nos primeiros dois anos de mandato. Tudo indica que seguirá essa rotina comum aos antecessores. Paulinho Serra é o concorrente mais forte a comandar Santo André entre 2021 e 2024. Parece não ter adversários. Parece não, não tem. Pelo menos por enquanto.
Esse ponto – a ausência de adversários de peso -- é um dos 10 vetores da análise sobre o que pode acontecer nos próximos 21 meses, até que se conheça quem vai herdar o mandato de Paulinho Serra. Se algum adversário surpreendente ou o próprio tucano.
Decidimos preparar essa análise porque é mais que um consenso, é quase uma sentença final, o favoritismo irrefreável de Paulinho Serra em Santo André.
Aliás, há duas vertentes que alimentam essa constatação que pesquisas eleitorais poderão confirmar. A primeira é que Paulinho Serra está longe de ser o prefeito de que Santo André tanto precisa. A segunda é de que supostos adversários de Paulinho Serra estão a léguas de distância de algo que possa oferecer contrapartida eleitoral satisfatória.
Como serão os próximos 21 meses da administração do prefeito mais reeleito da região? Haveria uma reviravolta suficiente para que eventual segundo turno contra quem ninguém ainda seria capaz de apostar mudasse o panorama que se descortina?
Foi por isso (e muito mais) que elencamos os 10 pontos centrais do que poderia ser chamado de roteiro de uma surpresa mais que descartável, ou seja, Paulinho Serra deixar de reeleger-se.
Não se trata, é sempre bom lembrar, de um manual contrário aos interesses do prefeito e de seus eleitores. Tampouco de apoio a quem quer que seja. É apenas uma curiosidade de um jornalista que tem a mania de tentar enxergar mais adiante com os alicerces de informações do passado e fatos do presente.
Vejam os pontos que determinariam a consolidação da reeleição de Paulinho Serra ou a redução do favoritismo que ostenta:
Escassez de adversários.
Redes sociais.
Regionalidade.
Serviços Públicos.
Obras mensuráveis.
Ambiente político nacional.
Potenciais escândalos.
Potenciais escorregadelas.
Memória eleitoral.
Desenvolvimento Econômico.
O que se segue, portanto, é uma breve avaliação que deve ser entendida no tempo e no espaço, além do contexto. Faço as considerações que se seguem ligadíssimo na realidade e também na subjetividade atuais. Sem desprezar tendências e passado, claro.
Escassez de adversários
Não há nada consistentemente organizado entre os adversários de Paulinho Serra a catalogar como ameaça ao tucano. Mais que isso: os adversários potenciais de Paulinho Serra após as eleições de 2016 estão praticamente incorporados ao próprio governo de Santo André. Paulinho Serra os transformou a todos em aliados circunstanciais, alimentando entre eles o sonho de chegarem ao Paço Municipal em 2024 – desde que o deixem em paz e, mais que isso, colaborem com a gestão nos agora dois próximos anos.
É um tratado que une o útil ao agradável: Paulinho Serra não quer perder tempo com idiossincrasias além dos limites; e o entorno que o apoia sabe que sem a máquina pública dificilmente teria cacife para engrenar uma segunda marcha rumo ao Paço Municipal. Os potenciais adversários fora da gestão Paulinho Serra perderam o rumo e o prumo. Os aliados de conveniência disputam entre si a prerrogativa de um terceiro mandato do tucano, um terceiro mandato de puxadinho, ou seja, de um parceiro de jornada que substitua o atual titular que quer reeleger-se sem preocupações maiores.
Redes sociais
Tudo indica que as redes sociais que começaram a mudar a vida dos políticos nas eleições de Barak Obama e em seguida de Donald Trump nos Estados Unidos, chegando ao Brasil nas eleições presidenciais do ano passado, finalmente terão ressonâncias municipais.
Discute-se o grau de intensidade no eleitorado. Há ensaios preocupantes para quem está no poder, mas não existe ainda a garantia de que hecatombe disruptiva mostrará a cara. Paulinho Serra está escaldado e possivelmente não abrirá mais o flanco da imprevidência: teve de voltar atrás na absurda elevação do IPTU de Santo André em 2018 e deve ter aprendido que a temperatura do jogo eleitoral depende da temperatura do jogo administrativo. Quanto mais tiver o controle, mais perto estará da vitória, mitigando estragos que as redes sociais provocam e provocarão em sua campanha.
É claro que provocarão, porque o céu é o limite quando se pretende atingir o fígado dos adversários políticos. Ainda mais com o uso de redes sociais, ferramenta que mais que quebrar o galho, resolve muita situação do encurtamento das rédeas de financiamentos eleitorais.
Regionalidade
A integração dos sete municípios da região não seria importante a ponto de mudar os rumos eleitorais, entre outras razões porque a mídia é relapsa na compreensão da importância de massificar a valorização do temário. Mas Paulinho Serra tem a oportunidade de, sobre escombros deixados pelo também tucano Orlando Morando, prefeito de São Berardo, dar novos ares ao Clube dos Prefeitos.
Para isso, só precisa retirar a instituição da marginalidade produtiva e política. Qualquer coisa que Paulinho Serra faça para dar novo rumo ao Clube dos Prefeitos repercutiria em seu currículo exclusivamente municipalista. Se regionalidade ainda não garante votos numa geografia de analfabetos econômicos, ao menos daria um tom de modernidade a um cartão de apresentação excessivamente provinciano.
Serviços Públicos
Esse é o calcanhar de Aquiles do prefeito de Santo André e da maioria dos titulares dos paços da região, conforme detectou pesquisa do Instituto ABC Dados há duas semanas. Os resultados colocam as áreas de Transporte Público, Saúde Pública, Segurança Pública, Educação Pública e Trânsito nos quintos dos infernos em matéria de atendimento.
No fundo, o déficit não é novidade alguma na gestão dos municípios. Há descasamento gritante entre receitas orçamentárias em queda e demandas sociais em sistemática alta. A recessão de três anos seguidos agravou o quadro porque se esticou demais a corda de novos fluxos de serviços sem combinar com os russos do encolhimento orçamentário.
Portanto, não é propriedade exclusiva de Paulinho Serra a deterioração do atendimento público. Mas o tucano agravou a situação quando fechou unidades de saúde no início do mandato. Precisa cumprir a promessa e entregar novas e reformadas unidades até a chegada do calendário eleitoral.
Mas nem isso alteraria demais a situação. Está provado, sobretudo na área de saúde, que, quanto mais se oferece, mais a demanda cresce e a insatisfação se potencializa. É quase um enxugar de gelo apropriado para quem, na oposição partidária, só atira pedras.
Obras mensuráveis
À parte os serviços públicos, Paulinho Serra precisaria entregar à população obras físicas na área de infraestrutura para amenizar o longo processo de depauperação da logística de Santo André. Subestimar o encalacramento do sistema de tráfego de Santo André, que tem a Avenida dos Estados como porta-bandeira da esculhambação histórica, é apostar em risco enorme.
Talvez o prefeito de Santo André colha os espinhos do descarte da possibilidade de, mesmo com obras, ver aumentar as restrições de mobilidade da população. Falta ao tucano jogar mais limpo no sentido ético da expressão, algo que poderia ter feito antes mesmo de tomar posse: alertar a população de Santo André sobre o caos logístico que vem do passado e que precisa ser combatido com muito empenho e pragmatismo. Sofismar a respeito do nó que estrangula a economia de Santo André (ou alguém acredita ainda que a Avenida dos Estados é uma passarela de oportunidades?) só agrava a reprovação da sociedade.
Resumindo: mais que entregar obras vitais, o prefeito precisa deixar claro que, por mais que sejam, são esparadrapos a exigirem muito mais ações.
Ambiente político nacional
Por mais que o ambiente municipal prevaleça na hora do voto para prefeito, é estupidez desqualificar o que se passa principalmente em âmbito nacional. Sobretudo nestes tempos de polarização ideológica.
Quem acha que Paulinho Serra ou qualquer outro prefeito eleito em outubro de 2016 não surfou na onda antipetista da Operação Lava Jato não entende do riscado ou é um fundamentalista municipal.
Basta observar os números da vitória de Jair Bolsonaro na região como um todo e em alguns municípios em particular para traçar diagnóstico do peso que a gestão do presidente da República implicará nas eleições municipais de 2020. Quanto mais bem avaliado Jair Bolsonaro for, mais Paulinho Serra ganhará cacife à reeleição.
O peso relativo dessa influência é subjetivo, claro, mas ajudaria a construir a vitória. Da mesma forma que um fracasso de Bolsonaro alimentaria a força motriz do outro lado dos concorrentes hoje escassos. Santo André é um endereço menos conservador que São Caetano e menos esquerdista que São Bernardo. O que isso significa? Exatamente a modulação mais favorável ou menos favorável do ambiente nacional a quem está no poder municipal.
Potenciais escândalos
A Lava Jato que bate em Chico bate em Francisco? É disso que pode depender a mensuração de peso nas eleições municipais em Santo André. O favoritismo de Paulinho Serra pode alargar-se ou sofrer impacto se os escaninhos dos podres poderes nacionais, estaduais e municipais forem devassados por operações filhotes da Lava Jato.
Os sismógrafos políticos apontam que são maiores os riscos de os tucanos saltarem mais frequentemente às manchetes no Estado de São Paulo do que os petistas e aliados históricos do então governo federal. Especula-se aqui e ali sobre rescaldos de escândalos municipais já conhecidos e outros com investigações em curso.
Para os petistas que pretendem voltar ao Paço Municipal, muito além de cargos comissionados e outros que ainda ostentam, a expectativa é de que os tucanos têm contas a pagar, mas que ainda não foram apresentadas. Ao que parece, os petistas já não têm mais o que perder com eventuais novos escândalos. Só lhes restaria nadar de braçadas ante a derrocada adversária. O jogo ético-administrativo ficaria menos desigual.
Potenciais escorregadelas
Há percepção generalizada de que a barbeiragem-mor que Paulinho Serra teria de cometer no comando da Prefeitura de Santo André já foi cometida. O caso do IPTU seria emblemático de algo que uma administração pública jamais poderia incorrer. E se incorreu, seria estultice repetir. É pouco provável, portanto, que Paulinho Serra passe por novo período administrativo-popular constrangedor como o provocado pela enviesada observação do ambiente econômico que elevou às alturas o preço de morar ou fazer negócios imobiliários em Santo André.
O despreparo daquela operação ficou latente, mas ainda está longe de contar com contrapartida reformista. A reação do prefeito após invalidar os próprios atos seguiu figurino conservador de deixar como está para ver como é que fica. O reajuste do IPTU nesta temporada segue a trivialíssima conexão com a inflação quando, de fato, Santo André e os demais municípios da região e do País precisam de inovação na área, já esmiuçada neste espaço. Mas inovar exige trabalho coordenado e constante. Algo pouco comum nas administrações públicas. Um IPTU moldado de acordo com a renda média familiar em cada bairro, disponível no mercado, é o que existe de mais apropriado a uma gestão imobiliária justa e competitiva.
Memória eleitoral
É muito mais que provável, é certo, que os adversários de Paulinho Serra, ainda em ações incipientes, vão explorar os pontos fracos da administração muito antes mesmo da administração tomar posse. O que fora prometido na campanha eleitoral que levou o tucano ao Paço de Santo André é revivido nas redes sociais. A reprodução de áudios e imagens de declarações que colocavam Santo André a um passo de resoluções fantásticas, caso do suprimento de água que está um terror nestes dias.
A veracidade de informações veiculadas nas redes sociais, sobremodo como peças irretocáveis de declarações do próprio prefeito, pode ter repercussão dilapidadora do prestígio pretendido. Os tempos mudaram tanto que os homens públicos já não ficariam mais imunes ao passado de candidato que deu certo, caso de Paulinho Serra. Um elogio ao companheiro de hoje e adversário de amanhã pode ser fatal na corrida eleitoral, por exemplo. Um destempero circunstancial vira eterna complicação quando as redes sociais o massificam.
Desenvolvimento Econômico
O prefeito de Santo André tem enorme avenida de explicações e análises para dizer à sociedade que o elegeu em 2016 e também àqueles que preferiram outras candidaturas. Que avenida? De sinceridade pautada pela lógica, respaldada pela materialidade.
Aonde pretendo chegar? Simples: Paulinho Serra não pode seguir as extravagâncias de marqueteiros iletrados economicamente, como já seguiu, embora tenha refreado o ímpeto nos últimos tempos. Criar expectativas ou mentir descaradamente sobre eventuais sucessos econômicos de Santo André é um convite à suspeição sobre tudo que eventualmente diga com fundamentação técnica e mesmo de resultados.
Paulinho Serra não deve entregar a rapadura de que Santo André é um caso econômico perdido, porque se desindustrializou e continuará a se desindustrializar. Só precisa explicar as dimensões gigantescas dos desafios para corrigir desequilíbrios do passado. Nada de fanfarronices, portanto. Fanfarronices podem gerar material bélico destruidor nas redes sociais.
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